sentimento Arquivo - O que você falou? https://oquevocefalou.com.br/tag/sentimento/ Um blog sem licença-paternidade Tue, 08 Jan 2019 19:04:19 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.1 https://oquevocefalou.com.br/wp-content/uploads/2019/03/cropped-o_que_voce_falou_favicon-2-32x32.jpg sentimento Arquivo - O que você falou? https://oquevocefalou.com.br/tag/sentimento/ 32 32 Solidão faz bem https://oquevocefalou.com.br/solidao-faz-bem/ https://oquevocefalou.com.br/solidao-faz-bem/#respond Mon, 03 Dec 2018 16:40:59 +0000 http://oquevocefalou.com.br/?p=7882 Acreditem no seu pai, meninos: a solidão faz bem. E muito, ao contrário do que possam ouvir dizerem. Os anúncios de tevê cheios de cores, as músicas animadas das rádios e as risadas nos bares são distrações para serem consumidas com moderação, como as guloseimas de saquinho. Em exagero, as distrações que supostamente deveriam dar ...

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Acreditem no seu pai, meninos: a solidão faz bem. E muito, ao contrário do que possam ouvir dizerem.

Os anúncios de tevê cheios de cores, as músicas animadas das rádios e as risadas nos bares são distrações para serem consumidas com moderação, como as guloseimas de saquinho.

Em exagero, as distrações que supostamente deveriam dar ânimo causam mais dano do que alívio. Daí a importância da solidão.

Ela abafa o ruído, reduz o brilho e amplifica os seus sentimentos mais latentes. Sem ela, Artur e Bento, vocês caem na armadilha de achar que tudo lá fora está à sua espera e ao alcance. Quando, em realidade, tudo la fora é menos divertido e multicolorido do que fazem parecer.

A solidão que faz bem

Mas nem toda solidão faz bem. Há aquela que só consome por dentro, puxando para bem fundo, onde um alçapão se abre para levá-los ainda mais para baixo. Ou seja, fujam deste tipo. A que faz bem tem a ver com se recolherem com vocês mesmos para conversarem francamente.

Sozinhos, afastados de tudo e de todos, salvo dos seus sentimentos em reserva, vocês conseguem se ouvir. E como poucas vezes dá, pois tudo hoje exala felicidade, um artigo de mercado muito anunciado. Quando fecharem a porta para o mundo, vocês vão ter a clareza e a paciência necessárias para chegar ao ponto do que importa.

Mas como achar a solidão ideal? Isso vai depender do método que desenvolverem para si mesmos. Comecem desde cedo a perceber gatilhos, adquirir trejeitos e aprimorar dons que cultivem a solidão mais saudável para as suas necessidades.

Bobo é quem não se recolhe para descansar da zoeira. Por isso, não deem ouvidos se disserem que a solidão é o mal encarnado, que o melhor é fugir dela. Sabendo reconhecê-la, vocês conseguem sacar se ela se aproxima bem intencionada ou não. E quando ela demonstra boa atitude, só ajuda.

Being alone in our present society raises an important question about identity and well-being.

No cantinho do escuro

Sim, existe vida após um tempinho em um cantinho escuro. Experimentem apagar a luz, desligar suas comunicações sociais e fechar os olhos.

Mas não durmam!

Antes, mimem sua solidão, tratem-na com carinho e se divirtam com ela bastante! Façam e fortaleçam essa amizade, uma das mais sinceras e autênticas que podem ter.

Afinal, apenas ela saberá entender sem julgar o que entristece ou alegre seus corações.

Solidão

Quando estou só reconheço
Se por momentos me esqueço
Que existo entre outros que são
Como eu sós, salvo que estão
Alheados desde o começo.

E se sinto quanto estou
Verdadeiramente só,
Sinto-me livre mas triste.
Vou livre para onde vou,
Mas onde vou nada existe.

Creio contudo que a vida
Devidamente entendida
É toda assim, toda assim.
Por isso passo por mim
Como por coisa esquecida.

Aprendam sozinhos

Nos dias de hoje, hiperconectados e com as conexões cortadas, a solidão é quase uma rebeldia libertária.

Mas estejam preparados para as críticas e as condenações: no geral, as pessoas desaprenderam a se recolher da bagunça e tampouco entendem quem queira se isolar às vezes.

Eu já tomei bronca de gente próxima, por exemplo, por desligar o celular em um sábado. Mas só queria estar sozinho, e tomei bronca.

A solidão é como um aquário que nos isola do resto sem tapar a visão do todo. Mergulhem de cabeça neste aquário, fiquem por lá boiando protegidos em si mesmos, como um submarino no fundo do mar.

A solidão, assim como a doença, pode ser um caminho amadurecido para uma vida melhor. É preciso termos a coragem de aprender com ela e não apenas rejeitá-la.

E, quietos!

Por tudo isso, a solidão faz bem. Porque ela dá fôlego para gritarmos bem alto que se calem todos por um momento. Com ela, aprendemos o que é preciso fazer para encontrarmos o nosso quinhão neste universo infinito em expansão.

A quietude ensina sem dizer palavra ou sem se agitar em movimentos afetados. Ela é aquela pessoa que, em uma festa, observa afastada no canto do salão para se divertir no seu tempo.

A leitura é um caminho poderoso para embalar uma solidão saudável.

Mas como toda boa festa tem exageros, mesmo a solidão amiga passa dos limites às vezes sem querer ir embora.

Se acontecer, digam que é hora de dar tchau. Caso ela insista, mostrem o caminho da porta e passem o trinco sem pensar duas vezes.

A boa solidão deve ser sempre uma convidada. E não a dona do pedaço. 🖖🏽

https://youtu.be/Tk3hLVoI4iM

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Aprender a ler https://oquevocefalou.com.br/aprender-a-ler/ https://oquevocefalou.com.br/aprender-a-ler/#comments Tue, 30 Oct 2018 11:51:12 +0000 http://oquevocefalou.com.br/?p=7708 A leitura é uma das conquistas mais fascinantes da nossa espécie, meninos. Mais gigante do que construir pontes ou dominar a natureza. Aprender a ler o suspense do feijão brotando no algodão, a poesia de um pôr do sol ou romance de um casal de pinguins apaixonados é uma experiência reveladora. Ela acelera os pensamentos, ...

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A leitura é uma das conquistas mais fascinantes da nossa espécie, meninos. Mais gigante do que construir pontes ou dominar a natureza. Aprender a ler o suspense do feijão brotando no algodão, a poesia de um pôr do sol ou romance de um casal de pinguins apaixonados é uma experiência reveladora.

Ela acelera os pensamentos, que agitam os desejos, animando as ações. Que energia! E não tem a ver só com o que vemos.

Olhos leem bem, mas a pele também. Como o nariz. Ou os ouvidos. O superpoder do qual estamos falando mexe com todos os sentidos, físicos e emocionais.

É uma sensibilidade fina a qualquer estímulo, seja o calor de uma fogueira ou a frieza da indiferença. O coração, por exemplo, é puro sentimento. E ele é capaz de ler os outros, do mesmo jeito que o cérebro, amigo da razão.

Ou seja, não importa como. De um jeito ou de outro, vocês vão aprender a ler. Isso é abraçar a vida; absorver o que ela tem a mostrar.

E a coisa começa cedo na barriga das nossas mães, onde somos capazes, nos últimos meses de gestação, de ouvir as cantigas de ninar que elas entoam ou as conversas abafadas que vêm de fora.

Então aqui estou, de cabeça para baixo, dentro de uma mulher. Braços cruzados pacientemente, esperando, esperando e me perguntando dentro de quem estou, o que me aguarda.

Aprender a ler o colo

Nosso primeiro lugar no mundo depois que deixamos o confinamento do útero é o colo. Bem encaixados entre os braços de quem nos pariu, testamos nossos sentidos. E os sentimentos que eles despertam.

O calor da mama da mãe na bochecha. O raspar do tecido do body no corpo. Os diálogos quase mudos das visitas em casa. Tudo é novo e estranho. Mas mágico, como penso que deve ser para cada bebê.

No colo, começamos a perceber, ainda que sem muita consciência, que tudo nos afeta, e que por isso a evolução nos deu a habilidade da leitura. Sem ela, a vida seria bem mais difícil. E tediosa, claro.

De fato, somos como máquinas bem desenhadas para sentir uma chuva de verão, a água do banho ou a textura picante de um gramado.

Tudo no nosso corpo parece estar meticulosamente encaixado no local certo para o nosso deleite das coisas. Obrigado, natureza!

Leitura em movimento

E quando aprendemos a andar, a leitura se aprofunda. Pegamos mais traquejo em entender os personagens, as cenas e os contextos em que nos metemos.

Porque a leitura que fazemos do mundo ajuda na construção do nosso caráter. Dos três aos cinco anos, à medida que exploramos limites, começamos a compreender quem somos.

Nosso vocabulário aumenta para muito além do “papá”, “mámá”, “sim” e “não”. As respostas que damos se tornam mais elaboradas, assim como as perguntas.

E só fazemos isso porque a história das nossas vidas fica mais elaborada e rica, como pular de um gibi para um romance.

A leitura do mundo precede a leitura da palavra.

Livros que ensinam a ler

Aprender a ler, meninos, extrapola a alfabetização. Mas encontrar significado nas letras é um grande passo para vocês lerem a vida também pelos livros.

E eles são ótimos amigos e companheiros. Não fosse a literatura, jamais expandiríamos os nossos sentidos. Ou conheceríamos personagens e histórias incríveis. Quem folheia páginas e devora capítulos, conversa mais consigo mesmo.

Como pai, meninos, posso sugerir algumas obras que me fizeram ser um pouco mais do jamais pude almejar. Apenas por ler. Por entrar ali na vida de personagens que, de capítulo em capítulo, ensinaram-me o que ser e o que não ser. 🖖

Leiturinha básica

 

 


 

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Ame-as, ou deixe-as https://oquevocefalou.com.br/ame-as-ou-deixe-as/ https://oquevocefalou.com.br/ame-as-ou-deixe-as/#respond Mon, 11 Jun 2018 17:19:14 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=7363 O ex-primeiro-ministro de centro-direita da Espanha, Mariano Rajoy, deu lugar ao centro-esquerdista Alberto Sánchez. O seu primeiro desafio de governo foi anunciar o seu gabinete de ministros. A mudança de atitude é visível. Dos 17 assentos, 11 são para mulheres. São elas que cuidam da Espanha hoje, um feito marcante para um país que ainda ...

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O ex-primeiro-ministro de centro-direita da Espanha, Mariano Rajoy, deu lugar ao centro-esquerdista Alberto Sánchez. O seu primeiro desafio de governo foi anunciar o seu gabinete de ministros.

A mudança de atitude é visível. Dos 17 assentos, 11 são para mulheres. São elas que cuidam da Espanha hoje, um feito marcante para um país que ainda patina em avanços sociais, represados por estruturas conservadoras muito sólidas construídas no passado, reforçadas na ditadura e resistentes na democracia.

 

Ame-as aqui, fora, no universo!

No Brasil, falta-nos um Sánchez. Aqui, precisamos lembrar às lideranças ultrapassadas da competência das mulheres – de sua importância para o bem da nação.

Na troca de governo após o impeachment mais recente, elas foram excluídas da foto. Infelizmente, ficaram as carecas e as carrancas.

Isso mesmo, Artur, o nosso atual governo assumiu funções sem chamar mulheres para compor o gabinete. Como se vê, o nosso represamento dos avanços sociais é ainda maior.

O que países mais evoluídos põem em prática, nós mantemos submergido nos grandes lagos do retrocesso histórico, como as cidades ribeirinhas inundadas pelos reservatórios das hidrelétricas.

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Valter Campanato/Agência Brasil

O poder da mulher

Não faz sentido. As mulheres arrasam em toda e qualquer posição profissional, seja dentro de uma cabine ao mando de um A380, seja à frente das empresas entregando melhores resultados aos investidores. Mas é muito mais do que isso, Artur.

“Muitas vezes usamos a biologia para explicar os privilégios dos homens, e a razão mais comum é a superioridade física masculina. É claro que é verdade que, em geral, os homens são fisicamente mais fortes do que as mulheres. Mas, se realmente dependêssemos da biologia como fonte das normas sociais, as crianças então seriam identificadas pelas mães e não pelos pais, pois, quando a criança nasce, o genitor biológico — e incontestável — é a mãe. Supomos que o pai é quem a mãe diz quem é.”

As mulheres têm o “forninho” da vida, como a sua mãe gosta de dizer. A natureza confiou a elas o nosso primeiro lar, o útero acolhedor onde nos desenvolvemos até o dia em que decidimos botar a cabeça para fora.

Ali, mergulhados na piscina amniótica, escutamos as primeiras cantigas de ninar, sentimos os primeiros sabores dos alimentos e somos embalados pelo carinho.

A natureza é sabia, ela deu às mulheres a responsabilidade da gestação. Como também a da amamentação, um laço delicado e firme entre mãe e filhos. Que um bebê sugue, puxe e morda o seu mamilo… Nenhum homem suportaria, fraqueza que fez a natureza riscar o nosso nome da sua lista de preferências.

As mulheres, pelo contrário, aparecem no topo. Mais sensíveis, ponderadas e pacientes, elas são bem mais qualificadas do que nós do gênero masculino.

Elas são elas: ame-as!

Muitos preferem desprestigiar as meninas diminuindo seus créditos, como um candidato a um emprego que sabe que o concorrente direto é melhor. Esse é um esforço natimorto porque as mulheres nos superam, sim, em muitos requisitos.

Elas são elas, ponto. E daí a estarem um passo adiante, mais donas das situações. O que os nossos governantes fazem de não chamar mulheres para o topo da cadeia é uma burrice entre muitas outras. Isolados em seus clubinhos, eles deixam de ver com os sentimentos femininos, de sentir com a visão mais apurada das mulheres.

https://media.giphy.com/media/CoIR3SZZW9IdO/giphy.gif

Repeite-as, Artur. Sempre. E mais um pouco. Você perceberá com a idade que as mulheres, além do que eu já elogiei, têm um coração amigo, daqueles que escutam sem barganhar trocas.

Elas são capazes de perdoar, mesmo depois de sofrer. De se impor, mesmo depois de maltratadas. De se amar, mesmo depois de julgadas. Enfim, as mulheres são o que deveríamos praticar no nosso mundo masculinizado.

Mas você já sabe do que falo porque a sua mãe é um exemplo. Ela se derrete quando o coração amolece, e se posiciona se fazemos algo errado. Nisso, somos reincidentes apesar das suas tentativas obstinadas de nos ajudar a entender que evoluiríamos se praticássemos o que ela sugere.

O mundo dispensa os brutamontes neste momento em que exemplos como o da Espanha são a exceção. A crise é séria, mostra a foto dos nossos ministros. Vem delas, das mulheres, a nossa maior esperança de renovação – e sobrevivência.

Isso porque nós homens estamos apertando os botões errados há séculos, incompetência que nos fez chegar neste beco escuro e aparentemente sem saída.

Para sermos homens mais felizes

Por isso, é a vez delas. Deixemos que nos guiem por caminhos mais iluminados e arejados. A foto tem de ser com elas em destaque mostrando toda a sua beleza.

E se chegarmos a aparecer, que seja no cantinho com cara feliz de estarmos ao lado delas, respeitando-as e amando-as. Só assim para sermos homens mais felizes.

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No seu DNA https://oquevocefalou.com.br/no-seu-dna/ https://oquevocefalou.com.br/no-seu-dna/#respond Wed, 06 Jun 2018 17:30:35 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=7304 O último domingo foi dia da 22ª Parada do Orgulho LGBTQ+, uma celebração à diversidade, na região da avenida Paulista, em São Paulo, com mais de 3 milhões de pessoas que, acima de tudo, amam com alegria e conhecem bem o seu DNA. Elas sabem quem são, seja porque se aceitam, seja porque tentam se ...

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O último domingo foi dia da 22ª Parada do Orgulho LGBTQ+, uma celebração à diversidade, na região da avenida Paulista, em São Paulo, com mais de 3 milhões de pessoas que, acima de tudo, amam com alegria e conhecem bem o seu DNA.

Elas sabem quem são, seja porque se aceitam, seja porque tentam se conhecer melhor, o que a maioria já não se dá mais o trabalho. E acolhem os outros sem torcer o nariz ou olhar de cima.

Nesta grande festa a céu aberto, pessoas são bem-vindas por sua beleza dentro e fora. Não importa se são Artur, Pedrinho, Maria, Joaquim, Fefe, Joca, Tati ou Gabriel. Ou todos de uma vez. O que importa é estarem de bem consigo.

O que nos leva a uma questão fundamental:

— Quem é você, Artur?

— Que pergunta é essa, paaapááííí?! Você me conhece. Eu sou o Artur.

Correto. Você é você. O seu DNA…

Mas é o Pedrinho, a Maria, o Joaquim, a Fefe, o Joca, a Tati, o Gabriel. E todos são Artur. Isto que chamamos de humanidade nasceu de um mesmo caldo, que requentamos até hoje nas nossas relações.

É só olhar bem no espelho para entender melhor. Encare-se diante dele, Artur, e perceba, no seu rosto refletido, os traços que herdou.

Há linhas que são minhas e da sua mãe, como há contornos dos meus pais e dos pais dela. O seu DNA é uma misturinha fina de muita gente, que, por sua vez, nasceu da mescla de mais gente ainda.

Na verdade, estamos entrando em parafuso, ou ficando com um a menos, eu sei. Mas isto somos, um coquetel de antepassados que jamais vimos, mas vestimos todas as manhãs.

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Tela da vida

Achamos que somos nós mesmos, mas incorporamos eles também, como um ator de cinema que interpreta vários papéis em um mesmo filme. Ele estuda a arte da profissão para fazer de conta que é outra pessoa.

Na tela maior da vida, cada um é o seu próprio laboratório de construção do eu. As referências e influências são a nossa hereditariedade, um brinde da capacidade evolutiva como criaturas mutantes há várias gerações. “Está no seu DNA“, você ouvirá muitas pessoas dizerem.

Mas se o corpo diz quem você é, os seus sentimentos gritam com a estridência das batidas mais fortes, como a dos tamborins no samba. Tocado por este espetáculo, o coração vibra na tentativa de acompanhar o ritmo.

Por isso, Artur, mudamos de humor com tanta facilidade sem perceber ou conseguir controlar. Acordamos nós mesmos, mas parecemos Joca à tarde e viramos Fefe antes de dormir. Ou seja, somos únicos de muitos milhões.

Em vez disso, fixou-se no meu pensamento a ideia de que eu não era para os outros aquilo que até agora, dentro de mim, havia imaginado que fosse.

Baile nesta festa

Mas não se engane. Você é muito mais do que só você e do que o seu DNA. A sua complexidade é do tamanho do universo, onde partículas elementares, como as de seus antepassados que circulam dentro de você, vagam por milênios ajudando na criação de estrelas e galáxias.

Você também é uma destas formações incríveis, constituído aleatoriamente por uma ordem das coisas que desconhecemos e não controlamos. E que você esteja aqui é um mistério, bem como a sua verdadeira identidade, se é que ela existe.

Por isso, na Parada do Orgulho LGBTQ+, só não dança e se diverte @s que ainda têm dúvidas sobre si e sentem dificuldade em brincar com quem se vê Artur, Pedrinho, Maria, Joaquim, Fefe, Joca, Tati e Gabriel.

Oxalá você sempre queira bailar nesta festa de mãos dadas com os teus e tuas Arturs, Pedrinhos, Marias, Joaquins, Fefes, Jocas, Tatis e Gabriéis – e com @s d@s outr@s também. 😉

Som na caixa, DJ!

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Olhos nos olhos https://oquevocefalou.com.br/olhos-nos-olhos/ https://oquevocefalou.com.br/olhos-nos-olhos/#comments Mon, 16 Apr 2018 16:18:56 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=7187 Os olhos foram o primeiro que vi da sua mãe. Olhos nos olhos. Antes do rosto, do cabelo e de perceber o quanto ela é bonita. Cena de novela, sabe? Nossos olhares deram o primeiro passo naquele encontro inesperado na redação da editora em que eu trabalhava e ela buscava uma vaga. Eles se atraíram, ...

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Os olhos foram o primeiro que vi da sua mãe. Olhos nos olhos. Antes do rosto, do cabelo e de perceber o quanto ela é bonita. Cena de novela, sabe?

Nossos olhares deram o primeiro passo naquele encontro inesperado na redação da editora em que eu trabalhava e ela buscava uma vaga.

Eles se atraíram, como fazem os corações bondosos em meio à multidão ou no confinamento de um escritório, nosso caso. A sua mãe entrou, olhou mais ao fundo para se achar no local e lá estavam meus globos oculares à espera dos seus, como os de uma coruja que encara sem piscar.

E que susto, ou medo calado, ela deve ter sentido por esse olhar trocado!

 

Olhos nos olhos: uma canção

Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci

Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

E que venho até remoçando
Me pego cantando
Sem mais nem porquê
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você

Quando talvez precisar de mim
‘Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz

 

Conexão do olhar

No dia a dia, as pessoas se veem a todo momento, mas só se encontram com o olhar. Ele faz a conexão. Liga os pontos. Como fez entre nós, Artur, quando suas pálpebras inchadas de recém-nascido se abriram pela primeira vez na maternidade.

Ali, vi quem você era no castanho escuro dos teus olhinhos lacrimejantes.

https://youtu.be/eOp_HFwT7eA

Hoje, seus olhos ligeiramente caídos reafirmam o que eu sempre soube: que irei te amar mais e mais porque eles me fazem ver de perto e à distância que você é uma boa pessoa, um ser de boas intenções. Os seus olhos dizem isso, eu posso enxergar sem os meus óculos.

Mas nas tuas relações fora de casa, onde eu e a sua mãe não estaremos para o teu alívio, olhe nos olhos. Nos teus e dos outros. Sem desviar ou pestanejar.

Pelo menos tente. E vá por mim: tudo fica mais fácil de ler e de interpretar. É disso do que precisamos, de pessoas que se enxerguem.

Aqui na vida em carne e osso, ou no que resta dela, não está nada fácil. Todo mundo se vê nas redes sociais, trocando likes engraçadinhos, hashtags descoladas e comentários cheios de contraste e brilho. Mas ninguém se encontra realmente. Tudo espuma do mar.

 

O que te faz desviar o olhar?

Geralmente, o olhar fica de fora das baladas das redes sociais porque ele seria aquele convidado inconveniente que, nas rodinhas, desmascara quem mente para cair bem. E isso incomoda.

Na verdade, palavras vazias, sorrisinhos falsos e expressões calculadas não são páreo para os olhos, que muita gente esconde para a máscara não cair. Ou dissimula. Se eu desvio do olhar de quem não respeito, acontece porque é mais forte do que qualquer tentativa minha de fingir simpatia.

Quando quiser entender alguém, afasta-se alguns passos, faça com que não te percebam e contemple o olhar alheio. Mas com jeito. grandes chances de você captar a solidão, a alegria, a ansiedade e outros sentimentos que tentamos esconder. Só anda pelado em casa quem acha que ela está vazia. 🙂

“As pessoas levam a sua biografia nos olhos.”
Pérez-Reverte

Ou seja, o olhar é a sua melhor apresentação. Como resultado, ele abre portas e corações. Também desarma ou dá o aviso a quem estiver na defensiva. Mas se preocupe em buscar os olhos dos outros para tentar se conectar de verdade.

E se a ligação completar, estique a prosa para ver no que vai dar. Quem sabe um dia, quando estiver em um escritório, você veja alguém entrar pela porta…

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Calor de pele https://oquevocefalou.com.br/calor-de-pele/ https://oquevocefalou.com.br/calor-de-pele/#respond Mon, 02 Apr 2018 16:30:36 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=7167 A temperatura ideal do corpo humano, entre 36º C e 36,7º C, é controlada pelo hipotálamo, uma área do cérebro que faz o papel de termostato para que os órgãos internos se mantenham a 37º C. Esse é o termômetro que a ciência usa. Uma outra temperatura, a do calor de pele, não se pode ...

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A temperatura ideal do corpo humano, entre 36º C e 36,7º C, é controlada pelo hipotálamo, uma área do cérebro que faz o papel de termostato para que os órgãos internos se mantenham a 37º C.

Esse é o termômetro que a ciência usa. Uma outra temperatura, a do calor de pele, não se pode medir exatamente porque é bem mais quente. Ela atinge primeiro a epiderme, a camada mais superficial da pele, nosso maior órgão. E depois irradia a todas as partes do corpo, até chegar ao coração, que responde ao estímulo com mais batimentos que sentimos imediatamente.

O verdadeiro calor de pele

O coração não se engana, Artur. Ele sabe que o calor de pele é uma fonte de sensações muito saudáveis ao corpo e à mente. Um bem que só experimentamos quando nos abraçamos, apertamos mãos ou simplesmente nos divertimos no parque.

O calor de pele é melhor do que qualquer pílula ou xarope que o médico possa receitar. Nada que venha do consultório se compara ao contato de duas peles aquecidas, um meio de troca de energia que a natureza, nosso melhor laboratório, desenvolveu para nos proteger de males do meio externo.

“Toda vez que recebemos um abraço, nosso corpo recebe uma dose de ocitocina, neurotransmissor conhecido como hormônio do amor. A boa notícia é que, além do carinho, os abraços podem influenciar o sistema imunológico dos bebês.”

Sistema imunológico do bebê agradece cada abraço que recebe, VivaBem

O calor de pele aguça os sentidos, uma reação involuntária em cadeia que nos deixa mais vivos e alertas. Talvez nossos antepassados tenham compreendido que juntos na caverna era mais fácil espantar seus medos porque o frio e os predadores já não conseguiam entrar com a mesma facilidade.

As nossas cavernas

É assim até hoje enquanto vivemos nas nossas cavernas que hoje preferimos chamar de lares. Eu não sei dizer o motivo, mas perdemos a união quando crescemos e saímos de vez da nossa gruta familiar para enfrentar a vida adulta a céu aberto. Onde muitos se gabam de matar um leão por dia.

Os pega-pega nos parquinhos, as brincadeiras de contato nos recreios e os abraços apertados que damos nos nossos pais e mães quando somos crianças começam a diminuir na adolescência. Até que praticamente desaparecerem quando nos tornamos indivíduos em geral desapegados.

Mas falemos de nós, Artur. Na época em que você era muito pequeno, eu podia te sentir inteirinho no meu peito, seu calor somado ao meu pelo contato das nossas peles grudadas. Nesses momentos em que tudo se anula menos o momento, eu fechava os olhos para viver o que nenhuma outra experiência proporciona.

Eu tentarei manter a nossa temperatura sempre elevada. Como deve ser quando há calor de pele. Tentarei que seja assim até os meus últimos dias, sem deixar que o termômetro da nossa relação esfrie avisando que estamos a ponto de uma hipotermia.

Mas entendo que não queira abraços prolongados ou carinhos de aproximação assim que se transformar no adulto que explora longe da caverna. No entanto, peço que se permita voltar a ela algumas vezes a me visitar para nos aquecermos com o calor de pele só nosso de pai e filho.

E se um dia o contato virar algo do outro mundo para você, assista a este vídeo aí abaixo e pratique comigo. 😉

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Revolução dos filhos https://oquevocefalou.com.br/revolucao-dos-filhos/ https://oquevocefalou.com.br/revolucao-dos-filhos/#respond Sun, 11 Mar 2018 14:46:25 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=7120 Tenho esperança de que a sua geração se rebele na tentativa de retomar o controle das relações humanas por meio de uma luta coletiva que enfraqueça as linhas de frente das forças dominantes, lideradas hoje por pessoas frias que destroem pontes e comunicações dos relacionamentos sinceros. A minha geração já não consegue reagir, se é ...

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Tenho esperança de que a sua geração se rebele na tentativa de retomar o controle das relações humanas por meio de uma luta coletiva que enfraqueça as linhas de frente das forças dominantes, lideradas hoje por pessoas frias que destroem pontes e comunicações dos relacionamentos sinceros.

A minha geração já não consegue reagir, se é que tentou. Para nós, essa é uma batalha perdida porque somos poucos frente a uma massa embrutecida e muito bem armada de preconceitos, falsos valores e comportamentos autodefensivos.

“‘Todo relacionamento sofre nuances, assim como o nosso humor no dia a dia se altera. Mas existe um ponto nas relações que pode indicar um desajuste maior do que o esperado’, diz. Esse ponto seria, segundo a psicóloga, quando há um desequilíbrio grande entre perdas e ganhos para as duas partes. Em relacionamentos abusivos, uma das pessoas sempre precisa ceder e sofre com isso, enquanto a outra ‘dita as regras’.”

Josie Conti, psicóloga

Não me orgulho das referências bélicas, mas disso se trata. Hoje lutamos uns contra os outros porque já não respeitamos ou reconhecemos as fronteiras de cada um, cruzadas sistematicamente com o uso de gestos, palavras tortas e maus hábitos por gente que, no seu dia a dia, adota a estratégia de invadir espaço alheio.

Que a sua rebelião seja avassaladora, sem dar tempo hábil a manobras evasivas e de contra-ataque. Ou que seja lenta, talvez pelos flancos ao passo de táticas de guerrilha. Não importa. Mas que ela aconteça.

Muitos de nós adultos nos somaremos à causa, como fizeram estrangeiros brigadistas voluntários na Guerra Civil Espanhola, identificados com os valores defendidos pelos republicanos. Os valores da sua geração são os mesmos de muitos que, como eu, sentem ter seus sentimentos oprimidos por relações que precisamos reconquistar e refundar.

Entenda que vocês podem deixar tudo como está – sempre haverá essa opção. Mas se nós pais e mães servimos de referência, Artur, arrisco dizer que muitos de vocês vão ter o impulso de dar um basta para redesenhar fronteiras.

Mas reflitam bem antes para não cometerem erros históricos, como fizeram franceses e ingleses na divisão a portas fechadas do Oriente Médio. Decisões sobre as amizades e os relacionamentos em geral são muito delicadas porque dependem da mutualidade, um bem escasso nesta nossa era de conflitos.

Perceba Artur que você e a sua geração têm uma escolha a fazer: seguir os passos arrastados de seus pais ou agir por conta conscientes de que não será uma luta fácil dos dois lados da trincheira.

Como disse, contem comigo. Quem sabe minhas táticas de sobrevivência em campos minados sejam de alguma serventia.

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Linha fina https://oquevocefalou.com.br/linha-fina/ https://oquevocefalou.com.br/linha-fina/#respond Sun, 12 Nov 2017 13:11:55 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=6689 O horizonte é essa linha fina que separa o céu da superfície, bem longe onde o corpo não chega, mas sentimentos se encontram. No horizonte está o melhor de nós, Artur, as ilusões que projetamos lá na frente, as esperanças que o coração conserva, o que preservamos de bom e se ilumina afastado da sombra ...

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O horizonte é essa linha fina que separa o céu da superfície, bem longe onde o corpo não chega, mas sentimentos se encontram. No horizonte está o melhor de nós, Artur, as ilusões que projetamos lá na frente, as esperanças que o coração conserva, o que preservamos de bom e se ilumina afastado da sombra escura de quem somos.

Dou um exemplo. O horizonte que vi da praia em que você deu seus primeiros passinhos na areia, ajudado por mim e pela sua mãe, foi o horizonte em que, mais além do pequeno barco de pescadores passando, avistei o melhor de mim.

“Usually when people talk about views they talk about looking out at the mountains or the ocean or a large vista,” he said, “but in the city, maybe it’s a little bit of air, or the unending hope of Fenway Park — a little vision of something better.”

Steve Sweeney, em With Boston building boom, some lose view

Não me entenda mal. Você é o melhor de mim para a mundo, e o melhor de mim – você – estava ali, diante dos meus olhos, equilibrando-se com a nossa ajuda. No horizonte estava o melhor de mim para mim, um indivíduo cheio de esperanças que o indivíduo do dia a dia, o das contas a pagar, esquece de ter.

Vi um pai principiante cheio de expectativas, baboso pela vibração de seu bebê com o estrondo das ondas quebrando, os respingos da correnteza que bate nos pés e o toque gelado de gosto salgado da água do mar.

Esse era um pai otimista, sem deslumbramentos. Um otimista com os pés na areia, se existe. A vida tem disso, Artur, uma eterna tentativa de nos desprendermos de juízos e medos. E das desilusões que grudam na alma como o capim-carrapicho faz na roupa. Para tirar seus frutos, não adianta ir de tapinhas, você precisa remover um a um, “na unha”.

https://www.youtube.com/watch?v=8836YSz-AGo?rel=0&w=560&h=315

Indaguei esse pai e ele ponderou que talvez eu devesse fazer diferente, com menos receio do que venha pela frente, seja duro ou não, tenha alegria ou tristeza, para não travar no caminho.

Foi um encontro breve porque voltei rápido do horizonte para a praia puxado pelos teus movimentos alegres e desajeitados em direção ao mar. Mas foi o suficiente, um momento comigo mesmo, de mim para mim, que me deixou mais leve – sem tantos juízos, medos e desilusões.

E tem sido assim nesses quatros anos olhando, quando dá, para novos horizontes sempre que te observo descobrindo suas muitas outras coisas. Os horizontes me fazem bem, são pontos pacíficos em meio a todo o resto, como um banco de madeira em um parque verde de uma cidade em preto e branco.

Escritores enxergam seus novos horizontes nas histórias que assinam, os pintores, nas telas em que se diluem como a tinta que misturam na paleta. Encontre seus horizontes, Artur. Adentre caminhos que levem às planícies, costas ou topos, o que seja, onde você poderá ver mais ao longe o melhor de você para você.

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Linha fina https://oquevocefalou.com.br/linha-fina/ https://oquevocefalou.com.br/linha-fina/#respond Sun, 12 Nov 2017 13:11:55 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=6689 O horizonte é essa linha fina que separa o céu da superfície, bem longe onde o corpo não chega, mas sentimentos se encontram. No horizonte está o melhor de nós, Artur, as ilusões que projetamos lá na frente, as esperanças que o coração conserva, o que preservamos de bom e se ilumina afastado da sombra ...

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O horizonte é essa linha fina que separa o céu da superfície, bem longe onde o corpo não chega, mas sentimentos se encontram. No horizonte está o melhor de nós, Artur, as ilusões que projetamos lá na frente, as esperanças que o coração conserva, o que preservamos de bom e se ilumina afastado da sombra escura de quem somos.

Dou um exemplo. O horizonte que vi da praia em que você deu seus primeiros passinhos na areia, ajudado por mim e pela sua mãe, foi o horizonte em que, mais além do pequeno barco de pescadores passando, avistei o melhor de mim.

“Usually when people talk about views they talk about looking out at the mountains or the ocean or a large vista,” he said, “but in the city, maybe it’s a little bit of air, or the unending hope of Fenway Park — a little vision of something better.”

Steve Sweeney, em With Boston building boom, some lose view

Não me entenda mal. Você é o melhor de mim para a mundo, e o melhor de mim – você – estava ali, diante dos meus olhos, equilibrando-se com a nossa ajuda. No horizonte estava o melhor de mim para mim, um indivíduo cheio de esperanças que o indivíduo do dia a dia, o das contas a pagar, esquece de ter.

Vi um pai principiante cheio de expectativas, baboso pela vibração de seu bebê com o estrondo das ondas quebrando, os respingos da correnteza que bate nos pés e o toque gelado de gosto salgado da água do mar.

Esse era um pai otimista, sem deslumbramentos. Um otimista com os pés na areia, se existe. A vida tem disso, Artur, uma eterna tentativa de nos desprendermos de juízos e medos. E das desilusões que grudam na alma como o capim-carrapicho faz na roupa. Para tirar seus frutos, não adianta ir de tapinhas, você precisa remover um a um, “na unha”.

https://www.youtube.com/watch?v=8836YSz-AGo?rel=0&w=560&h=315

Indaguei esse pai e ele ponderou que talvez eu devesse fazer diferente, com menos receio do que venha pela frente, seja duro ou não, tenha alegria ou tristeza, para não travar no caminho.

Foi um encontro breve porque voltei rápido do horizonte para a praia puxado pelos teus movimentos alegres e desajeitados em direção ao mar. Mas foi o suficiente, um momento comigo mesmo, de mim para mim, que me deixou mais leve – sem tantos juízos, medos e desilusões.

E tem sido assim nesses quatros anos olhando, quando dá, para novos horizontes sempre que te observo descobrindo suas muitas outras coisas. Os horizontes me fazem bem, são pontos pacíficos em meio a todo o resto, como um banco de madeira em um parque verde de uma cidade em preto e branco.

Escritores enxergam seus novos horizontes nas histórias que assinam, os pintores, nas telas em que se diluem como a tinta que misturam na paleta. Encontre seus horizontes, Artur. Adentre caminhos que levem às planícies, costas ou topos, o que seja, onde você poderá ver mais ao longe o melhor de você para você.

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Louco na praça https://oquevocefalou.com.br/louco-na-praca-2/ https://oquevocefalou.com.br/louco-na-praca-2/#respond Sun, 29 Oct 2017 14:32:35 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=6551 Eu vi uma senhora na praça se divertindo em espalhar folhas que os garis haviam juntado. Sozinha, ela bagunçava a ordem, forrando o concreto com uma linda pele verde. Quem via lançava olhares condenatórios à espontaneidade da tal faina. A praça pública, onde cidadãos se encontravam para se expressar nas nascentes metrópoles da Antiguidade, é ...

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Eu vi uma senhora na praça se divertindo em espalhar folhas que os garis haviam juntado. Sozinha, ela bagunçava a ordem, forrando o concreto com uma linda pele verde. Quem via lançava olhares condenatórios à espontaneidade da tal faina.

A praça pública, onde cidadãos se encontravam para se expressar nas nascentes metrópoles da Antiguidade, é hoje um espaço vazio de sentimentos e de pessoas, que preferem evitá-la. Onde havia diálogo, olhos nos olhos e debate, resta olvido e repulsa.

“So, while the agora was a special and often hugely enjoyable place, it should be no surprise that it also gave us the word agoraphobia, a fear of public places. For centuries, and certainly today, public squares have been places of protest, of violence and even revolution. The roll call of disturbing public squares is long: Tahrir, Taksim, Tiananmen, Trafalgar. And this is just the entry for ‘T’.”

Jonathan Glancey, em The violent history of public squares

As pessoas evitam as praças de domingo a domingo. Por medo. Por desábito. Por indiferença. Os bancos apodrecem no tempo, sem que lhes passem verniz ou demão de tinta, a grama cresce destemida e as árvores se viram como podem, ameaçadas por pragas que ninguém mais combate.

A senhora que eu vi fez diferente. Ela se realizou na praça, imune à reprovação alheia. É fácil considerá-la louca, quase como um espasmo involuntário da pálpebra, que a gente não controla muito menos entende de onde vem. Se os garis varrem, só espalha quem está mal da cabeça, dirá a lógica fria da nossa época.

Mas é o contrário, penso cá com os meus botões. A senhora entende o que é uma praça, sabe que ali podemos nos desprender de certas regras do convívio social. A praça é de todos, e não faz mal que algumas folhas continuem soltas.

A senhora, com seu gesto inocente, era a única pessoa espontânea do pedaço. Sua atitude desprendida fazia a maioria ali estranhar porque a maioria ali não cultivara no coração o bem-querer de uma praça.

“The ideal person in Western philosophy is not only disembodied but also radically alone.”

Edward Slingerland, em Trying not to try: the art and acience of spontaneity

Às vezes, Artur, a espontaneidade é o frágil amarrilho que nos mantém atados à inconsequência. Um antiácido natural às azias da vida.

Há quem chame isso de “meter o loco”. Não importa. Meter o loco faz bem de vez em quando, em qualquer praça, vazia ou com gente. Deixe seu inconsciente dar uma volta e espalhar as folhas que quiser. …Antes tivesse gravado para te mostrar como a senhora fazia, o jeito dela elegante, delicado e leve.

Relaxe quando meter o loco, sinta-se girando em um carrossel de parque de diversões – perceba o vento no rosto, o frio na barriga do sobe-e-desce do cavalinho ou a força da gravidade contorcendo suas entranhas daqueles carrosséis de assentos enganchados a girar bem no alto.

Sinta-se você mesmo, ponto. Como a senhora me mostrou no dia em que espalhou as folhas verdes em praça pública.

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