O último domingo foi dia da 22ª Parada do Orgulho LGBTQ+, uma celebração à diversidade, na região da avenida Paulista, em São Paulo, com mais de 3 milhões de pessoas que, acima de tudo, amam com alegria e conhecem bem o seu DNA.
Elas sabem quem são, seja porque se aceitam, seja porque tentam se conhecer melhor, o que a maioria já não se dá mais o trabalho. E acolhem os outros sem torcer o nariz ou olhar de cima.
Nesta grande festa a céu aberto, pessoas são bem-vindas por sua beleza dentro e fora. Não importa se são Artur, Pedrinho, Maria, Joaquim, Fefe, Joca, Tati ou Gabriel. Ou todos de uma vez. O que importa é estarem de bem consigo.
O que nos leva a uma questão fundamental:
— Quem é você, Artur?
— Que pergunta é essa, paaapááííí?! Você me conhece. Eu sou o Artur.
Correto. Você é você. O seu DNA…
Mas é o Pedrinho, a Maria, o Joaquim, a Fefe, o Joca, a Tati, o Gabriel. E todos são Artur. Isto que chamamos de humanidade nasceu de um mesmo caldo, que requentamos até hoje nas nossas relações.
É só olhar bem no espelho para entender melhor. Encare-se diante dele, Artur, e perceba, no seu rosto refletido, os traços que herdou.
Há linhas que são minhas e da sua mãe, como há contornos dos meus pais e dos pais dela. O seu DNA é uma misturinha fina de muita gente, que, por sua vez, nasceu da mescla de mais gente ainda.
Na verdade, estamos entrando em parafuso, ou ficando com um a menos, eu sei. Mas isto somos, um coquetel de antepassados que jamais vimos, mas vestimos todas as manhãs.
Tela da vida
Achamos que somos nós mesmos, mas incorporamos eles também, como um ator de cinema que interpreta vários papéis em um mesmo filme. Ele estuda a arte da profissão para fazer de conta que é outra pessoa.
Na tela maior da vida, cada um é o seu próprio laboratório de construção do eu. As referências e influências são a nossa hereditariedade, um brinde da capacidade evolutiva como criaturas mutantes há várias gerações. “Está no seu DNA“, você ouvirá muitas pessoas dizerem.
Mas se o corpo diz quem você é, os seus sentimentos gritam com a estridência das batidas mais fortes, como a dos tamborins no samba. Tocado por este espetáculo, o coração vibra na tentativa de acompanhar o ritmo.
Por isso, Artur, mudamos de humor com tanta facilidade sem perceber ou conseguir controlar. Acordamos nós mesmos, mas parecemos Joca à tarde e viramos Fefe antes de dormir. Ou seja, somos únicos de muitos milhões.
Baile nesta festa
Mas não se engane. Você é muito mais do que só você e do que o seu DNA. A sua complexidade é do tamanho do universo, onde partículas elementares, como as de seus antepassados que circulam dentro de você, vagam por milênios ajudando na criação de estrelas e galáxias.
Você também é uma destas formações incríveis, constituído aleatoriamente por uma ordem das coisas que desconhecemos e não controlamos. E que você esteja aqui é um mistério, bem como a sua verdadeira identidade, se é que ela existe.
Por isso, na Parada do Orgulho LGBTQ+, só não dança e se diverte @s que ainda têm dúvidas sobre si e sentem dificuldade em brincar com quem se vê Artur, Pedrinho, Maria, Joaquim, Fefe, Joca, Tati e Gabriel.
Oxalá você sempre queira bailar nesta festa de mãos dadas com os teus e tuas Arturs, Pedrinhos, Marias, Joaquins, Fefes, Jocas, Tatis e Gabriéis – e com @s d@s outr@s também. 😉
Som na caixa, DJ!