Olhos nos olhos

Os olhos foram o primeiro que vi da sua mãe. Olhos nos olhos. Antes do rosto, do cabelo e de perceber o quanto ela é bonita. Cena de novela, sabe?

Nossos olhares deram o primeiro passo naquele encontro inesperado na redação da editora em que eu trabalhava e ela buscava uma vaga.

Eles se atraíram, como fazem os corações bondosos em meio à multidão ou no confinamento de um escritório, nosso caso. A sua mãe entrou, olhou mais ao fundo para se achar no local e lá estavam meus globos oculares à espera dos seus, como os de uma coruja que encara sem piscar.

E que susto, ou medo calado, ela deve ter sentido por esse olhar trocado!

 

Olhos nos olhos: uma canção

Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci

Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

E que venho até remoçando
Me pego cantando
Sem mais nem porquê
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você

Quando talvez precisar de mim
‘Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz

 

Conexão do olhar

No dia a dia, as pessoas se veem a todo momento, mas só se encontram com o olhar. Ele faz a conexão. Liga os pontos. Como fez entre nós, Artur, quando suas pálpebras inchadas de recém-nascido se abriram pela primeira vez na maternidade.

Ali, vi quem você era no castanho escuro dos teus olhinhos lacrimejantes.

https://youtu.be/eOp_HFwT7eA

Hoje, seus olhos ligeiramente caídos reafirmam o que eu sempre soube: que irei te amar mais e mais porque eles me fazem ver de perto e à distância que você é uma boa pessoa, um ser de boas intenções. Os seus olhos dizem isso, eu posso enxergar sem os meus óculos.

Mas nas tuas relações fora de casa, onde eu e a sua mãe não estaremos para o teu alívio, olhe nos olhos. Nos teus e dos outros. Sem desviar ou pestanejar.

Pelo menos tente. E vá por mim: tudo fica mais fácil de ler e de interpretar. É disso do que precisamos, de pessoas que se enxerguem.

Aqui na vida em carne e osso, ou no que resta dela, não está nada fácil. Todo mundo se vê nas redes sociais, trocando likes engraçadinhos, hashtags descoladas e comentários cheios de contraste e brilho. Mas ninguém se encontra realmente. Tudo espuma do mar.

 

O que te faz desviar o olhar?

Geralmente, o olhar fica de fora das baladas das redes sociais porque ele seria aquele convidado inconveniente que, nas rodinhas, desmascara quem mente para cair bem. E isso incomoda.

Na verdade, palavras vazias, sorrisinhos falsos e expressões calculadas não são páreo para os olhos, que muita gente esconde para a máscara não cair. Ou dissimula. Se eu desvio do olhar de quem não respeito, acontece porque é mais forte do que qualquer tentativa minha de fingir simpatia.

Quando quiser entender alguém, afasta-se alguns passos, faça com que não te percebam e contemple o olhar alheio. Mas com jeito. grandes chances de você captar a solidão, a alegria, a ansiedade e outros sentimentos que tentamos esconder. Só anda pelado em casa quem acha que ela está vazia. 🙂

“As pessoas levam a sua biografia nos olhos.”
Pérez-Reverte

Ou seja, o olhar é a sua melhor apresentação. Como resultado, ele abre portas e corações. Também desarma ou dá o aviso a quem estiver na defensiva. Mas se preocupe em buscar os olhos dos outros para tentar se conectar de verdade.

E se a ligação completar, estique a prosa para ver no que vai dar. Quem sabe um dia, quando estiver em um escritório, você veja alguém entrar pela porta…

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