Revolução dos filhos

Tenho esperança de que a sua geração se rebele na tentativa de retomar o controle das relações humanas por meio de uma luta coletiva que enfraqueça as linhas de frente das forças dominantes, lideradas hoje por pessoas frias que destroem pontes e comunicações dos relacionamentos sinceros.

A minha geração já não consegue reagir, se é que tentou. Para nós, essa é uma batalha perdida porque somos poucos frente a uma massa embrutecida e muito bem armada de preconceitos, falsos valores e comportamentos autodefensivos.

“‘Todo relacionamento sofre nuances, assim como o nosso humor no dia a dia se altera. Mas existe um ponto nas relações que pode indicar um desajuste maior do que o esperado’, diz. Esse ponto seria, segundo a psicóloga, quando há um desequilíbrio grande entre perdas e ganhos para as duas partes. Em relacionamentos abusivos, uma das pessoas sempre precisa ceder e sofre com isso, enquanto a outra ‘dita as regras’.”

Josie Conti, psicóloga

Não me orgulho das referências bélicas, mas disso se trata. Hoje lutamos uns contra os outros porque já não respeitamos ou reconhecemos as fronteiras de cada um, cruzadas sistematicamente com o uso de gestos, palavras tortas e maus hábitos por gente que, no seu dia a dia, adota a estratégia de invadir espaço alheio.

Que a sua rebelião seja avassaladora, sem dar tempo hábil a manobras evasivas e de contra-ataque. Ou que seja lenta, talvez pelos flancos ao passo de táticas de guerrilha. Não importa. Mas que ela aconteça.

Muitos de nós adultos nos somaremos à causa, como fizeram estrangeiros brigadistas voluntários na Guerra Civil Espanhola, identificados com os valores defendidos pelos republicanos. Os valores da sua geração são os mesmos de muitos que, como eu, sentem ter seus sentimentos oprimidos por relações que precisamos reconquistar e refundar.

Entenda que vocês podem deixar tudo como está – sempre haverá essa opção. Mas se nós pais e mães servimos de referência, Artur, arrisco dizer que muitos de vocês vão ter o impulso de dar um basta para redesenhar fronteiras.

Mas reflitam bem antes para não cometerem erros históricos, como fizeram franceses e ingleses na divisão a portas fechadas do Oriente Médio. Decisões sobre as amizades e os relacionamentos em geral são muito delicadas porque dependem da mutualidade, um bem escasso nesta nossa era de conflitos.

Perceba Artur que você e a sua geração têm uma escolha a fazer: seguir os passos arrastados de seus pais ou agir por conta conscientes de que não será uma luta fácil dos dois lados da trincheira.

Como disse, contem comigo. Quem sabe minhas táticas de sobrevivência em campos minados sejam de alguma serventia.

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