Bebê estranho

Pais e mães de todo o mundo, um instante de atenção: sou só eu, ou vocês também se perguntam quem é este bebê estranho que tanto amam?

Calma, não atirem a primeira pedra. Explico.

É um bebê estranho, sim, porque o que exatamente sabemos dele?!

Sabemos que sorri quando nos vê. Mas porque ele entende cedo pela repetição que um sorriso de criança bem dado amolece qualquer adulto.

Sabemos que faz caretas travessas para nos apaixonar. Mas essa é outra experiência adquirida e muito poderosa para dobrar até os corações mais carrancudos.

E sabemos que gosta, por exemplo, de flutuar no ar pela fartura de risadinhas que escutamos. Mas elas são na verdade uma reação involuntária ao estômago embrulhado pelo sobe e desce da brincadeira.

 

Quem então é este bebê estranho?

Agora vocês sentem o calor dos meus questionamentos de pai. Estamos constantemente à deriva entre o achismo sobre os nossos bebês e o que eles de fato devem sentir.

Eu olho nos olhos do meu Bentinho, de apenas nove meses, e tento encontrar lá no fundo algumas respostas que o pequeno ainda não verbaliza. Ou seja, de pouco serve a minha experiência de pai de segunda viagem.

O dia a dia é meio distante, quase como viajar na janelinha sem descer para conhecer os pontos turísticos do caminho.

Posso deduzir que o meu Bentinho se sente amado, mas até que ponto? Suas reações sugerem o contrário quando afastamos um objeto pontiagudo que ele deseja pegar com todas as fibras do seu corpinho. Talvez isso não seja um amor para ele, mas uma submissão.

Ele gosta mesmo da comida que lhe servimos? Afinal, os grunhidos nervosos que às vezes escutamos podem ser uma reclamação formal contra o cardápio um tanto monótono.

Quem sabe?!

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Só os bebês sabem

Eu não posso conceber o que gira dentro da sua cabecinha mais pesada do que o corpo. Ninguém pode. Apenas nossos bebês. E não é essa a maior das estranhezas? Nós amamos incondicionalmente quem sequer conhecemos a fundo, como seria começar a amar, por impulso, um estranho que cruzasse o nosso caminho na rua.

Tente se imaginar girando a cabeça para ver onde o estranho vai, caminhando até ele para alcançá-lo, seguindo-o de perto e mantendo-o sempre à vista para cultivar este amor repentino. Uma hipnose sem breque, como a nossa história com os nossos bebês estranhos.

E mesmo assim nós morremos de paixão por eles. Talvez porque vivam como já fizemos um dia, mas desaprendemos. Os bebês ficam em alerta para explorar, enquanto nós preferimos sentar no sofá para descansar.

Ou se contorcem para pegar o brinquedo que está longe, em vez de se distraírem com os que deixamos perto. Eles não se contentam, coisa que mais fazemos.

Eles precisam tocar o espaço à sua volta, sentir todas as texturas, aromas, ruídos, sustos, carinhos, temperaturas, enfim, tudo o que estiver ao seu alcance.

“Mais do que nascer sabendo, o bebê já nasce aprendendo.”

Por isso, a experiência é a sua diversão neste mundo pirotécnico em que se meteram. Já a nossa é a desilusão – constante, gradual e reveladora do quanto perdemos no caminho entre a primeira infância e a vida madura.

Talvez por esses motivos, o nosso espírito cansado prefira achar que todo bebê é estranho. Pelo simples fato de eles serem mais livres, leves e soltos do que as criaturas adultas que nos tornamos.

 

O que os bebês sabem

Como nós, os bebês sabem muita coisa. E pouca também. Aos nove meses, o Bento está se dando conta de que é um indivíduo independente, à parte da sua mãe. Caiu a ficha para ele: seu corpo é só seu.

Portanto, meu Bentinho e todos os bebês do mundo experimentam a aventura de tentar descobrir quem são enquanto conhecem os outros. É um mergulho para dentro que também demos no passado, embora essa seja uma lembrança perdida em algum lugar da nossa essência.

O meu Bentinho acaba de completar nove meses de vida. Um tempo mais lento do que o tempo mesmo, mais intenso do que um suspiro, mais nosso do que deles. São 275 dias ou 6.600 horas que não vimos passar porque estávamos ocupados em sentir.

O nosso bebê estranho é o espelho mais nítido que podemos encarar. Porque nele vemos todos os detalhes do amor.

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