Existe paternidade estratégica? É mais do que a paternidade presente? Ou será criar os filhos com uma pegada forte de planejamento, em vez do aprendizado mútuo?
O fato é: muitos pais (e mães) perdem a cabeça enfeitiçados pela urgência de serem pais e mães. E eles se defendem disso – do seu medo próprio de cuidar de uma criança e de ajudá-la a se desenvolver.
A sua defesa é o ataque muito calculado contra o imprevisto. Eles simplesmente desprezam o improviso. Por isso, traçam uma estratégia para o futuro dos filhos, na tentativa de dar a “melhor” educação ou de construir uma carreira promissora da base (???).
E começa desde cedo, antes mesmo do nascimento. Daí o termo “parentalidade estratégica” (ou strategic parenting). No meu caso, Artur e Bento, falo aqui da paternidade estratégica, que também está sob o guarda-chuva da parentalidade (assim como a maternidade).
Mas o que é exatamente a paternidade estratégica? E como ela pode ditar os rumos da relação de pais e filhos? É isso o que vamos tentar descobrir juntos agora! 😉
A paternidade estratégica na essência
Paternidade estratégica é a prática de definir objetivos para o desenvolvimento dos filhos, como a universidade em que vão estudar ou a profissão que deverão exercer.
Uma possível explicação para os pais estrategistas está na pesquisa da jornalista Tatsha Robertson e do economista Ronald Ferguson. Juntos, eles resolveram investigar se existe uma relação entre pais e filhos considerados bem-sucedidos.
Ou seja, eles decidiram conferir se pais estão mesmo traçando planos de ação para estimular os talentos naturais dos seus filhos. O objetivo, neste caso, é que os pequenos tenham êxito na carreira, nos relacionamentos e na vida em geral.
A primeira conclusão a que eles chegaram é reveladora. :/
Muitas das pessoas “bem-sucedidas” com as quais eles conversaram disseram que tinham/têm pais que sabiam qual futuro queriam para os filhos. Mas ANTES do nascimento!
Por isso, esta abordagem demonstra a essência da parentalidade estratégia: a infância se converte em um objetivo em si. Assim como executivos nas empresas, estes pais estabelecem uma meta clara.
Porque para eles existe um ponto a alcançar, com resultados que devem ser recolhidos. Dessa maneira, o desenvolvimento dos pequenos ganharia um certo ordenamento. E isso nos mínimos e maiores detalhes, desde o estilo pessoal no modo de se vestir até a escolha das amizades.
PARENTALIDADE Conceito de paternidade e maternidade conscientes | + | ESTRATÉGIA O uso eficaz dos recursos disponíveis para a educação |
Suborno e prisões em Hollywood
A criação dos filhos de acordo com um plano, como o ataque de um general a um território inimigo, ganhou destaque recentemente. Em Hollywood, estrelas de cinema foram detidas por suborno a universidades renomadas.
Ou seja, aqui a estratégia foi garantir aos filhos um assento em algumas das escolas de ensino superior mais prestigiadas dos Estados Unidos, como UCLA e Stanford.
Não sei outros pais, meninos, mas vejo corrupção de todas as formas nesta maternidade e paternidade. A corrupção econômica e moral, principalmente. Querer bem a um filho não deve supor a malandragem e desonestidade. Mas outros pesquisadores talvez tenham a explicação para casos com este de Hollywood.
Outro caso
Lori Loughlin, atriz reconhecida pela série Full House, foi outra que decidiu traçar estratégias para a infância e a adolêscência de suas duas filhas.
Ela se declarou culpada no caso em que foi acusada de subornar uma universidade norte-americana para que as filhas fossem aceitas como estudantes.
Segundo o acordo com a Justiça, ela terá de cumprir cinco meses de prisão, pagar uma multa de US$ 250 mil e ainda enfrentar dois anos de liberdade sob supervisão, além de prestar 250 horas de serviço comunitário.
Uma questão de $$$ economia $$$
Por sua vez, os economistas Joseph Hotz e Juan Pantano se debruçaram sobre o tema desde outra perspectiva. Eles cavucaram estatísticas sociais para encontrar outras respostas.
Em realidade, o que eles queriam saber é: será que pais e mães demonstram a mesma preocupação com a educação dos primogênitos e dos seus irmãos?
“Consideramos um modelo em que os pais impõem ambientes disciplinares mais rigorosos em resposta ao fraco desempenho na escola dos seus primeiros filhos, a fim de dissuadir tais resultados nos filhos nascidos posteriormente. Nós provemos evidências empíricas robustas de que o desempenho escolar de crianças (…) declina com a ordem de nascimento, assim como o rigor das restrições disciplinares dos pais.”
Joseph Hotz e Juan Pantano
Ou seja, estes pais tentam impor uma educação mais rígida aos primeiros filhos. O raciocínio gira em torno da expectativa de que, agindo desta forma, eles consigam esculpir a formação dos filhos primogênitos.
Mas esta determinação um tanto míope dura pouco: o segundo filho, no geral, escapa desta paternidade e maternidade mais contundentes.
“E, quando perguntados sobre como eles reagem quando a criança traz para casa notas ruins, os pais afirmam estarem menos propensos a punir os irmãos dos filhos primogênitos. Juntos, esses padrões são consistentes com um modelo de reputação da parentalidade estratégica.”
Joseph Hotz e Juan Pantano
A economia está, em parte, por trás de tudo isso. Se a estratégia der certo, o futuro da criançada está garantido
– ao menos o financeiro; já o psicológico.. E se não funcionar, pelo menos alguma coisa poderá ser usada nos filhos que chegarem depois.
10 erros de uma paternidade estratégica
Eu vejo, Artur e Bento, muitos erros e pontos frágeis neste tipo de paternidade. De fato, erros que pretendo não cometer no tempo em que estivermos juntos:
- 1 PATERNIDADE e ESTRATÉGIA não combinam na mesma frase! 😉
- 2 A paternidade jamais deveria ser pura razão. Ponto
- 3 Afinal, a paternidade supõe (ou deveria) o diálogo
- 4 Que direito têm o pai e a mãe de impor um futuro aos filhos?
- 5 Qual deve ser o preço de uma estratégia para ela dar certo?
- 6 Os filhos estão segurados contra os prejuízos da paternidade estratégica?
- 7 Crianças devem (ou deveriam) viver mais pela experimentação
- 8 Porque disciplina é diferente de submissão
- 9 Aliás, estratégia é para os negócios
- 10 Por fim, filhos não são negócios e franquias (ou matrizes de economia)
Eu trabalho todos os dias com estratégias – de vendas, de comunicação, de inbound marketing, ou seja, de uma infinidade de coisas.
E nenhuma delas se parece minimamente com a paternidade.
Porque ser pai é mais sentimento do que razão; é mais experiência do que técnica. Enfim, a relação entre pais e filhos.
Existe paternidade sem estratégia?
Sim. E não.
Sim, porque a experiência de ser pai deveria ser libertadora, nas duas pontas. Pais têm na paternidade a chance de se redescobrirem sem tantas amarras. Para as crianças, é a experiência de aprender com a convivência, desenvolvendo a capacidade de perceber o que seus pais têm de melhor e pior.
No íntimo da paternidade, onde mais se sente, todo pai deveria se dedicar à entrega de deixar ir. De dar às crianças a liberdade de serem o que quiserem ser. De irem para onde quiserem ir. Enfim, de dar a elas o espaço que necessitam para serem elas mesmas.
Isso não quer dizer que a paternidade precise descer a ladeira sem freios. Alguma estratégia deve, sim, existir. Mas não a que busque “rentabilizar” os investimentos feitos. E, sim, a que obrigue todo pai a ser minimamente pai: consciente e presente.
Eu tento fazer, dessa, a minha paternidade estratégica, meninos. Se é a correta ou não só descobriremos juntos lá na frente, quando o futuro chegar.
Aí, quem sabe, conversaremos de corações abertos sobre as melhores (e as piores) escolhas da parentalidade.
Conclusão possível
A paternidade é muito menos sobre os pais do que sobre filhos. E se há uma estratégia por trás é a de que devemos aprender mais com o pequenos do que o contrário. Afinal, são eles que se conectam mais à vida presente à medida que crescem; são eles que trazem o novo para casa.
A paternidade estratégia não seria fazer cálculos de ganhos futuros, mas “realizar os lucros” que já estão sobre a mesa.
Que grande leitura!
Olá, Florence! Fico feliz que tenha gostado! E volte sempre, viu?! Obrigado.