universo Arquivo - O que você falou? https://oquevocefalou.com.br/tag/universo/ Um blog sem licença-paternidade Sat, 02 Nov 2019 11:35:07 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.1 https://oquevocefalou.com.br/wp-content/uploads/2019/03/cropped-o_que_voce_falou_favicon-2-32x32.jpg universo Arquivo - O que você falou? https://oquevocefalou.com.br/tag/universo/ 32 32 Amor nosso https://oquevocefalou.com.br/amor-nosso/ https://oquevocefalou.com.br/amor-nosso/#respond Wed, 15 Aug 2018 18:56:56 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=7422 Precisamos falar do amor, Artur. Porque ele anda machucado, encolhido no canto sem a atenção das pessoas, como um gato espoleta que se recolhe de mal estar e pensam que deve estar por aí de travessura, mas ele fica distante. Aqui dentro de casa ninguém se afasta. Nós cultivamos o sentimento nos pequenos e grandes ...

Leia mais ;)

The post Amor nosso appeared first on O que você falou?.

]]>
Precisamos falar do amor, Artur. Porque ele anda machucado, encolhido no canto sem a atenção das pessoas, como um gato espoleta que se recolhe de mal estar e pensam que deve estar por aí de travessura, mas ele fica distante.

Aqui dentro de casa ninguém se afasta. Nós cultivamos o sentimento nos pequenos e grandes gestos. Um olhar à distância, o toque de pele ou o carinho desmedido; tudo remete a ele no que fala de nós e de quem somos à parte do que acontece lá fora.

Mas o que é o amor?!

É bom que você saiba, agora que aprendeu a ler, que esta palavra é minúscula para o sentimento, que não cabe em quatro letras, lauda ou enciclopédia.

Não me pergunte quem foi, mas deveriam ter escolhido nome mais encorpado. Ou quem sabe tenham desistido antes de tentar justamente porque o amor foge de rótulos.

Ele também desconhece medidas, como o universo em sua caminhada incansável rumo ao infinito (ou não). Quem ama se expande em todas as direções, reivindicando espaços, do mesmo jeito que a luz faz preenchendo cada vazio com a sua energia calorosa.

 

Sentimento que cura

Também dizem que ele cura, embora faça adoecer em exagero. Do mesmo jeito, os crimes por amor existem, como as mortes à falta dele.

Naturalmente, amar é questão de equilíbrio, para fazer bem. O amor carregado não é amor. Tampouco o da boca para fora, que o vento leva para bem longe.

Se ele tivesse gosto, seria o de um pirão que não pesa no estômago, uma mistura de consistência própria e preparada com ingredientes da terra sem medidas certas. Precisa de carinho para ficar gostoso.

Mas tem outro jeito de ver. O amor é você. A sua mãe. Nós. Simples como 1 + 1 + 1= 3. E denso como família. Ele desanuvia, apesar de nublar algumas tardes. Ele é amigo dos sentimentos, mas se mete também com o corpo, contorcendo-o quando ganha força.

Eu amo. Tu amas. Ele ama. E nós amamos com vós ou em separado. E se some a harmonia, acontece de o amor azedar. É quando a humanidade perde, ressecando-se por ausência de quem a regue.

Ou por falta de quem repare que aquele gatinho espoleta não foi dar uma voltinha como sempre faz, mas está recolhido precisando de mimo. Cuide dele, Artur, faça-lhe carinho para receber também. ♥ 😉 ♥

https://www.youtube.com/watch?v=zZ3fjQa5Hls

The post Amor nosso appeared first on O que você falou?.

]]>
https://oquevocefalou.com.br/amor-nosso/feed/ 0
No seu DNA https://oquevocefalou.com.br/no-seu-dna/ https://oquevocefalou.com.br/no-seu-dna/#respond Wed, 06 Jun 2018 17:30:35 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=7304 O último domingo foi dia da 22ª Parada do Orgulho LGBTQ+, uma celebração à diversidade, na região da avenida Paulista, em São Paulo, com mais de 3 milhões de pessoas que, acima de tudo, amam com alegria e conhecem bem o seu DNA. Elas sabem quem são, seja porque se aceitam, seja porque tentam se ...

Leia mais ;)

The post No seu DNA appeared first on O que você falou?.

]]>
O último domingo foi dia da 22ª Parada do Orgulho LGBTQ+, uma celebração à diversidade, na região da avenida Paulista, em São Paulo, com mais de 3 milhões de pessoas que, acima de tudo, amam com alegria e conhecem bem o seu DNA.

Elas sabem quem são, seja porque se aceitam, seja porque tentam se conhecer melhor, o que a maioria já não se dá mais o trabalho. E acolhem os outros sem torcer o nariz ou olhar de cima.

Nesta grande festa a céu aberto, pessoas são bem-vindas por sua beleza dentro e fora. Não importa se são Artur, Pedrinho, Maria, Joaquim, Fefe, Joca, Tati ou Gabriel. Ou todos de uma vez. O que importa é estarem de bem consigo.

O que nos leva a uma questão fundamental:

— Quem é você, Artur?

— Que pergunta é essa, paaapááííí?! Você me conhece. Eu sou o Artur.

Correto. Você é você. O seu DNA…

Mas é o Pedrinho, a Maria, o Joaquim, a Fefe, o Joca, a Tati, o Gabriel. E todos são Artur. Isto que chamamos de humanidade nasceu de um mesmo caldo, que requentamos até hoje nas nossas relações.

É só olhar bem no espelho para entender melhor. Encare-se diante dele, Artur, e perceba, no seu rosto refletido, os traços que herdou.

Há linhas que são minhas e da sua mãe, como há contornos dos meus pais e dos pais dela. O seu DNA é uma misturinha fina de muita gente, que, por sua vez, nasceu da mescla de mais gente ainda.

Na verdade, estamos entrando em parafuso, ou ficando com um a menos, eu sei. Mas isto somos, um coquetel de antepassados que jamais vimos, mas vestimos todas as manhãs.

Loop Dress GIF by Nikolar - Find & Share on GIPHY

Tela da vida

Achamos que somos nós mesmos, mas incorporamos eles também, como um ator de cinema que interpreta vários papéis em um mesmo filme. Ele estuda a arte da profissão para fazer de conta que é outra pessoa.

Na tela maior da vida, cada um é o seu próprio laboratório de construção do eu. As referências e influências são a nossa hereditariedade, um brinde da capacidade evolutiva como criaturas mutantes há várias gerações. “Está no seu DNA“, você ouvirá muitas pessoas dizerem.

Mas se o corpo diz quem você é, os seus sentimentos gritam com a estridência das batidas mais fortes, como a dos tamborins no samba. Tocado por este espetáculo, o coração vibra na tentativa de acompanhar o ritmo.

Por isso, Artur, mudamos de humor com tanta facilidade sem perceber ou conseguir controlar. Acordamos nós mesmos, mas parecemos Joca à tarde e viramos Fefe antes de dormir. Ou seja, somos únicos de muitos milhões.

Em vez disso, fixou-se no meu pensamento a ideia de que eu não era para os outros aquilo que até agora, dentro de mim, havia imaginado que fosse.

Baile nesta festa

Mas não se engane. Você é muito mais do que só você e do que o seu DNA. A sua complexidade é do tamanho do universo, onde partículas elementares, como as de seus antepassados que circulam dentro de você, vagam por milênios ajudando na criação de estrelas e galáxias.

Você também é uma destas formações incríveis, constituído aleatoriamente por uma ordem das coisas que desconhecemos e não controlamos. E que você esteja aqui é um mistério, bem como a sua verdadeira identidade, se é que ela existe.

Por isso, na Parada do Orgulho LGBTQ+, só não dança e se diverte @s que ainda têm dúvidas sobre si e sentem dificuldade em brincar com quem se vê Artur, Pedrinho, Maria, Joaquim, Fefe, Joca, Tati e Gabriel.

Oxalá você sempre queira bailar nesta festa de mãos dadas com os teus e tuas Arturs, Pedrinhos, Marias, Joaquins, Fefes, Jocas, Tatis e Gabriéis – e com @s d@s outr@s também. 😉

Som na caixa, DJ!

The post No seu DNA appeared first on O que você falou?.

]]>
https://oquevocefalou.com.br/no-seu-dna/feed/ 0
Dois mundos https://oquevocefalou.com.br/dois-mundos/ https://oquevocefalou.com.br/dois-mundos/#comments Sun, 25 Feb 2018 17:01:09 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=7066 O universo é a violência. Gratuita e extremada; intensa como as colisões cósmicas massivas que forjam galáxias, aglomerados, planetas e outros corpos celestes desde que o Big Bang deu o pontapé inicial a tudo o que somos e conhecemos. Estrelas mortas, buracos negros e sistemas inteiros se chocam o tempo todo no espaço, sem clemência. Um ...

Leia mais ;)

The post Dois mundos appeared first on O que você falou?.

]]>
O universo é a violência. Gratuita e extremada; intensa como as colisões cósmicas massivas que forjam galáxias, aglomerados, planetas e outros corpos celestes desde que o Big Bang deu o pontapé inicial a tudo o que somos e conhecemos.

Estrelas mortas, buracos negros e sistemas inteiros se chocam o tempo todo no espaço, sem clemência. Um drama cósmico que se repete aqui na Terra, onde os nossos mundos – o de vocês crianças e o dos adultos – também colidem a cada segundo, hora e dia a dia.

Dessas colisões resultam fragmentos maiores ou menores, pedaços soltos que ninguém recompõe depois. O mundo de vocês, mais hospitaleiro à vida, é imenso, como Júpiter, o maior planeta do nosso Sistema Solar. Ele viaja pela vida a uma velocidade muito alta, até que se choca com o mundo dos adultos.

Pesquisadores da Rice University, em Houston, no Texas (EUA), disseram que há 4,4 bilhões de anos, um planeta como Mercúrio colidiu com a Terra, plantando os sinais primordiais de carbono em nosso planeta.

George Dvorsky

Esse é um mundo inóspito à maioria dos seres, muito menor em tamanho, o que explica o fato de seus habitantes sentirem que falta espaço em suas vidas. O ar é rarefeito, uma atmosfera que pesa no peito, por mais que se aprenda a viver sob condições adversas.

No mundo das crianças, a vida se desenvolve soberana, pouco ameaçada como acontece no dos adultos. Vocês são seres mais evoluídos, Artur, que mesmo sem entender isto de regras estabelecidas conseguem viver em harmonia, repartindo com sabedoria seus recursos abundantes, como diversão, alegria e curiosidade, salvo curtos momentos de desentendimentos.

No mundo dos adultos, tudo é mais denso. A começar pelas relações e a incapacidade de seus habitantes de se comunicarem, apesar da escrita e dos idiomas. Adultos dizem o que não querem e entendem o que querem. Nesse planeta, a clareza não se propaga no ar.

Nós, adultos, já povoamos seu planeta, Artur, mas esquecemos da sua beleza e magia à medida que, levados pelo tempo, avançamos na viagem interplanetária entre o mundo das crianças e o dos adultos. É um trajeto demorado, cansativo e de muito torpor que desgasta a sensibilidade.

Quando aterrissamos, o mundo das crianças é menos que uma lembrança saudosa porque nos damos conta de que deixamos para trás os bons hábitos, a capacidade de contemplação e, mais que tudo, a habilidade de compartilhar. A primeira impressão, justo a que fica, é de que o planeta dos adultos passou da idade. Nele, o Sol brilha menos.

Pior do que a viagem é ninguém nos preparar exatamente para ela. De repente, pousamos simplesmente. Eu, que já estou aqui no planeta adulto há muito tempo, tentarei te ajudar a preparar a bagagem, a selecionar o que realmente importa levar e a escolher o melhor caminho para essa jornada interplanetária.

Entenda, no entanto, que as escolhas são suas e que só você pode decidir se quer ir de janelinha ou de corredor. A distância pode ser mais ou menos curta dependendo da rota que você irá fazer, o que, de certa maneira, também determinará a sua disposição na chegada. Quanto menos cansativo for, melhor pode ser a sua primeira impressão ao pisar por primeira vez no mundo dos adultos.

Seja sua nave, comandante e explorador. Mas antes de partir viva seu mundo de criança intensamente sob a mais constante efervescência. Você não está sozinho nessa. Posso ajudar a criar boas condições sempre que te visito no teu mundo, seja nas noites em que você me espera chegar do trabalho ou nas nossas brincadeiras de parque em dias de verão.

Isto de ser pai tem a vantagem de nos dar bilhetes para viagens interplanetárias de retorno em que, sendo adultos, temos a oportunidade de voltar ao mundo das crianças. Com a diferença de que, nesse regresso, somos recebidos e acompanhados por vocês, filhos que jamais pretendíamos ter quando habitávamos o mundo de vocês.

The post Dois mundos appeared first on O que você falou?.

]]>
https://oquevocefalou.com.br/dois-mundos/feed/ 1
Viva a bagunça https://oquevocefalou.com.br/viva-a-bagunca/ https://oquevocefalou.com.br/viva-a-bagunca/#respond Sun, 30 Jul 2017 13:44:02 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=5191 Já te falei, Artur, dos enigmas da vida, dos medos da vida, de um dos maiores desencantos da vida, da dança na vida, das filas da vida e do valor da vida, além de muitas outras belezas e pontas soltas da vida. Hoje, nosso papo é sobre a bagunça da vida, de como tudo, hora ou outra, vira de ...

Leia mais ;)

The post Viva a bagunça appeared first on O que você falou?.

]]>
Já te falei, Artur, dos enigmas da vida, dos medos da vida, de um dos maiores desencantos da vida, da dança na vida, das filas da vida e do valor da vida, além de muitas outras belezas e pontas soltas da vida.

Hoje, nosso papo é sobre a bagunça da vida, de como tudo, hora ou outra, vira de ponta-cabeça. Porque não importa o quanto tentemos arrumar, estamos sempre em meio a bagunças que fazemos, às que encontramos dos outros e às que cultivamos juntos, todas elas misturadas.

Bagunça atrai bagunça, é gosma que gruda na pele – um dia comeremos jaca do pé e você entenderá.

Mas pense grande, olhe para cima além do azul do céu e flutue pelo universo. Ele convive com a entropia – “a tendência natural que tudo no Cosmos parece ter de se tornar mais e mais diluído, distribuído por igual, em toda parte“. Nós, com a bagunça.

Menos elegante, digamos, mas um reflexo da nossa existência imperfeita sem princípios elementares, como os que regem os planetas e a imensidão que os separa.

“The world is a dynamic mess of jiggling things, if you look at it right.”

Agora volte para a Terra, sinta os pés no chão. Na vida cotidiana, a desordem preenche espaços sem encontrar resistência; sua viscosidade de gosma não a impede de se meter em frestas que deixamos abertas porque não sabemos bem como tapar.

Pense em sentimentos rotos, relações de gangorra, planos inacabados ou mesmo coisas largadas. Tem tudo isso, e tem muito mais. A bagunça não acontece, ela é.

É uma senhora dona de si e de caráter forte, que encontra um jeitinho de participar, onde, quando e com quem for. Ela se diverte com o nosso embaraço por causa da sua presença de matrona, que tudo vê e em tudo se intromete.

Mas faça-se justiça, toda matrona, por mais que o seja, quer bem aos seus. A bagunça tem um quê de bonachona, que ajuda sem estender a mão como gesto. Leva tempo até você se acostumar.

Pessoas de pensamento revolucionário dividem suas vidas com ela. Os cadernos de história estão povoados de fotos em que personalidades da ciência, da cultura e de outras áreas do conhecimento aparecem atrás de mesas abarrotadas ou rodeadas de livros empilhados no chão e em estantes a ponto de ceder.

Mesa do escultor Alexander Calder

A bagunça, apesar da impertinência, inspira. Aceite-a como a matrona que é, entre no seu jogo, e a convivência te ajudará a amadurecer ideias, a aproveitar o que parece fora de lugar e a rever conceitos e perspectivas.

“They found that people in messy rooms drew more creativity and were quicker at solving creative problems.”

5 Reasons Creative Geniuses Like Einstein, Twain and Zuckerberg Had Messy Desks – And Why You Should Too

Um baralho em ordem é fácil de decifrar. Misture as cartas e um novo mundo se abre. Ou reordene as letras desta frase e você terá um dicionário de bolso. A bagunça transforma se for bem compreendida.

“Messy disruptions will be most powerful when combined with creative Skull. The disruption puts an artist, scientist or engineer in unpromising territory – a deep valley rather than a familiar hilltop. But then expertise kicks in and finds ways to move upwards again: the climb finishes at a new peak, perhaps lower than the old one, but perhaps unexpectedly higher.

As long as you’re exploring the same old approaches, Brian Eno explains, ‘you get more and more competent at dealing with that place, and your clichés become increasingly clichéd’.

But when we are forced to start from somewhere new, the clichés can be replaced with moments of magic.”

Messy: the power of disorder to transform our lives, de Tim Harford

 

Mergulhe de cabeça numa boa relação com ela. Não tenha medo de se apegar. Aposte. Compreenda-a e a aceite como é, por mais que te irrite ou custe às vezes demarcar limites.

A bagunça tem beleza própria, Artur, um brilho que pode se revelar não em sua aparência, mas nas respostas que ela dá a muitas de nossas dúvidas mais frívolas e profundas.

The post Viva a bagunça appeared first on O que você falou?.

]]>
https://oquevocefalou.com.br/viva-a-bagunca/feed/ 0
Som e fúria https://oquevocefalou.com.br/som-e-furia/ https://oquevocefalou.com.br/som-e-furia/#respond Mon, 01 May 2017 14:33:18 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=1573 O universo tem um rádio poderoso de origem misteriosa e localização desconhecida, Artur. As ondas que ele transmite navegam à velocidade da luz através do espaço, alimentadas por uma energia equivalente a 500 milhões de sóis, sem que se saiba ao certo o conteúdo que transportam. Eu gosto de pensar que estamos diante de uma ...

Leia mais ;)

The post Som e fúria appeared first on O que você falou?.

]]>
O universo tem um rádio poderoso de origem misteriosa e localização desconhecida, Artur. As ondas que ele transmite navegam à velocidade da luz através do espaço, alimentadas por uma energia equivalente a 500 milhões de sóis, sem que se saiba ao certo o conteúdo que transportam.

Eu gosto de pensar que estamos diante de uma transmissão interplanetária com informações atualizadas sobre as condições de temperatura e clima do universo para facilitar a vida de viajantes estelares ou que um extraterrestre, entediado de tanto olhar para as estrelas sem nelas encontrar alguém com quem conversar, assim como acontece conosco aqui na Terra, esteja desesperadamente tentando estabelecer contato. Um dia após outro, sem se abater.

Os cientistas, no exercício inconsciente de sua racionalidade comprometida, apostam fichas em outras hipóteses mais autênticas, menos ingênuas que as minhas, Artur.

The question was, what causes them? Researchers sketched dozens of models, employing the gamut of astrophysical mysteries — from flare stars in our own galaxy to exploding stars, mergers of charged black holes, white holes, evaporating black holes, oscillating primordial cosmic strings, and even aliens sailing through the cosmos using extragalactic light sails. For scientists, the FRBs were as blinding as flash grenades in a dark forest; their power, brevity and unpredictability simply made it impossible to see the source of the light.

Por Katia Moskvitch, para Quanta Magazine

Uma terceira suposição minha é de que este talvez seja apenas o jeito estranho de o universo se comunicar. Ele pode estar gritando, a pulmões inflados, para todos ouvirem. Um grito necessariamente intenso, amplificado pelas transmissões do rádio misterioso, porque o universo é um infinito que se expande.

Tudo porque a comunicação é capciosa. Você precisa de um emissor, um receptor e um meio, que pode ser o ar, a energia ou um gesto, por exemplo. Para atrapalhar, surgem as interferências, os ruídos, as interrupções. Comunicar-se de um jeito estranho é compreensível, daí minha crença de que assim seja com o universo.

O universo visto com “olhos” de rádio

Você, Artur, quando pretende dizer não às vezes grita ou chora de estalo — e o “não” é justo o que nunca sai de sua boca nem chega aos meus ouvidos ou aos da tua mãe. É o seu jeito estranho de se comunicar.

Eu também tenho um. Perdi a conta de vezes em que meu coração quis ser claro com a sua mãe, mas as palavras que ela ouviu soaram estranhas, como as de um estrangeiro desorientado em uma esquina de movimento. Ou as situações em que, decidido a destapar meus sentimentos, calei-me de um giro. As palavras se perdem dentro de mim antes de escaparem pela boca. E se chegam a conquistar o mundo, são outras porque envelheceram no caminho.

“Cada um de vocês possui o traço mais poderoso, perigoso e subversivo que a seleção natural já projetou. É uma parte da tecnologia áudio-neural para reprogramar as mentes das outras pessoas. Eu falo da linguagem, é claro, pois ela permite implantar um pensamento de sua mente diretamente na mente de outra pessoa, e elas podem tentar fazer o mesmo com você, sem que nenhum de vocês tenha que fazer uma cirurgia.

Em vez disso, quando você fala, está na realidade utilizando uma forma de telemetria não muito diferente do controle remoto da sua televisão. Só que, este dispositivo utiliza pulsos de luz infravermelha, sua linguagem utiliza pulsos, pulsos discretos, de som.

E assim como você utiliza o controle remoto para alterar ajustes internos da televisão para ajustar-se à sua vontade, você utiliza sua linguagem para alterar os ajustes do cérebro de outra pessoa para ajustar-se aos seus interesses. Linguagens são genes falando, conseguindo o que querem.”

Biólogo Mark Pagel, para o TED

Teremos nós dois, Artur, situações em que não saberemos o que dizer um ao outro. Situações em que saberemos, mas não diremos. Ou diremos sem saber. Ou ainda, não diremos por conveniência. Nossos jeitos estranhos de comunicar vão se trombar, com som e fúria, nas tentativas de nos fazermos ouvir, apesar das interferências, dos ruídos e das interrupções.

Buscarei que o meio da nossa comunicação seja o amor, em vez do vazio que domina o universo. E que as ondas de nossas transmissões se revelem igualmente poderosas e cheias de energia para vencermos as distâncias espaciais.

Já não será o caso de olhar para as estrelas em busca de alguém que me responda bem lá de fora, se aqui bem do lado estiver você. E se isso acontecer, se conseguirmos sintonizar nossas frequências, quem sabe aprenderei a fazer melhor uso do meu jeito estranho de comunicar.

The post Som e fúria appeared first on O que você falou?.

]]>
https://oquevocefalou.com.br/som-e-furia/feed/ 0
Perguntar pode? https://oquevocefalou.com.br/perguntar-pode/ https://oquevocefalou.com.br/perguntar-pode/#respond Sun, 05 Mar 2017 14:30:00 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=567 Não só pode como deve, Artur. Tanto que este blog nasceu das perguntas que você me faz. A curiosidade é um agente de expansão do conhecimento, e a pergunta, a fagulha da queima de ideias que põe a humanidade em movimento. Há perguntas fundamentais: — O que é a vida? — Como surgiu o universo? — Existe ...

Leia mais ;)

The post Perguntar pode? appeared first on O que você falou?.

]]>
Não só pode como deve, Artur. Tanto que este blog nasceu das perguntas que você me faz. A curiosidade é um agente de expansão do conhecimento, e a pergunta, a fagulha da queima de ideias que põe a humanidade em movimento.

Há perguntas fundamentais:

— O que é a vida?

— Como surgiu o universo?

— Existe uma seta do tempo?

Há perguntas muito pessoais:

— Como posso já ter saudade de viagens que eu e você, Artur, ainda não fizemos?

— Meu avô se despediu de mim sob o batente da porta principal de casa minutos depois de morrer dormindo na madrugada ou aquela imagem espectral que vi e não esqueço foi um sonho-de-criança-impressionável-pós-perda-de-avô-amado?

— Estamos mesmo condenados a um futuro distópico como o de Blade Runner?

Há perguntas que devem ser feitas:

— Como minimizar a injustiça?

— De quem é a responsabilidade (do que for, no bem e no mal)?

— Há necessidade de tanto desperdício?

Há perguntas tão inocentes quanto reveladoras:

— Como seria viajar no espaço sentado num raio de luz?
Albert Einstein 

— Who am I to judge?
Papa Francisco

Há perguntas sem resposta — tão fundamentais quanto as demais porque delas brotam outras perguntas, que remetem a outras perguntas etc.:

Há perguntas que, embora universais, só você dirá com a entonação dos seus sentimentos:

— Quer sair comigo?

— Quem disse que eu não consigo?

— Isto me faz bem?

Como pode perceber, Artur, há perguntas para tudo. E assim como indivíduos em sociedade, nenhuma é melhor ou pior do que a outra, apenas diferente. É certo que tentarão te convencer do contrário, pode até que tentem te constranger ou impedir de questionar, o que também faz parte do jogo.

Cabe a você perguntar apenas. Se virar galhofa, haverá quem veja o oposto. Perguntar liberta. Perguntar ilumina. Perguntar, às vezes, é o mínimo que esperam de você. E se preferir contrariar sua intuição, calando-se, tenha em mente que, mais à frente no tempo, você poderá se ver em dívida com o arrependimento.

Veja o que o Nobel de Medicina Yoshinori Ohsumi disse quando lhe perguntaram sobre as novas gerações de pesquisadores:

— My message for young people: You had better keep your naive questions. That’s my message for young scientists.

Inspire-se nessas palavras, Artur. Pergunte para pisar na borda do conhecimento, do mais íntimo ao menos pretensioso. No que diz respeito a mim e à sua mãe, pergunte-nos o que quiser, quando quiser e para o que quiser.

— Combinado?

https://media.giphy.com/media/x2ifyKU82zY4g/giphy.gif

The post Perguntar pode? appeared first on O que você falou?.

]]>
https://oquevocefalou.com.br/perguntar-pode/feed/ 0
Fez-se o Artur https://oquevocefalou.com.br/ter-filho/ https://oquevocefalou.com.br/ter-filho/#comments Sun, 29 Jan 2017 02:30:23 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=4 Este é um resumo do seu primeiro post.

The post Fez-se o Artur appeared first on O que você falou?.

]]>
No início, era só a ideia de ter um filho. Desse ímpeto, nasceu você, Artur. E como você é o resultado de uma decisão deliberada entre mim e a sua mãe, da qual você não participou muito menos concordou, nada mais justo do que situá-lo minimamente nesta superprodução que é a vida.

Ter filho: todo um espetáculo

Comecemos essa história da minha paternidade com elegância:

 “Não vejo o universo como uma coletânea de objetos, teorias e fenômenos, mas como um imenso palco de atores impulsionados por intrincadas reviravoltas da linha narrativa e do enredo.”

Neil deGrasse TysonMorte no Buraco Negro e Outros Dilemas Cósmicos. Neil é uma das mentes mais brilhantes deste tempo, Artur, e será para você o que Carl Sagan foi para a minha geração.

Somos alguns dos atores (entre muitas outras espécies no planeta, lembre-se sempre), interpretando nossas próprias histórias de uma história muito maior, intrincada, emocionante e cheia de surpresas.

Você, por exemplo, começou a andar de um dia para o outro, e justo no Dia dos Pais, como se tivesse planejado, após muitas tentativas frustradas de não mais engatinhar, dar-me este presente especial.

No palco que é o universo, com seus atores que não podemos contar e encenações simultâneas que nenhuma mente ou inteligência artificial conseguiria absorver, magnificado por efeitos cenográficos incríveis, como a descoberta de uma nova galáxia ou o avanço de um furacão poderoso sobre o mar do Caribe, o seu primeiro caminhar foi uma cena que ninguém viu.

Com exceção, claro, de mim e de sua mãe, que nos encantamos com o espetáculo privado de ver a nossa cria se converter em bípede, marco do que chamamos de evolução da espécie – ou não, mas sobre isso falaremos mais adiante.

Assim é o palco imaginado por Neil: movimento, ruído e desordem. Um palco em que tudo, e nada, acontece, onde desempenhamos um papel no enredo, embora sem bem saber para quem, como nem o porquê.

Você faz parte disso, Artur. Não há como recusar o personagem, jogar o roteiro no lixo. O mínimo que posso contribuir como pai é ensaiar contigo algumas das cenas de próximos atos e dar spoilers desta superprodução pela qual também subo ao palco a encenar.

The post Fez-se o Artur appeared first on O que você falou?.

]]>
https://oquevocefalou.com.br/ter-filho/feed/ 7