história Arquivo - O que você falou? https://oquevocefalou.com.br/tag/historia/ Um blog sem licença-paternidade Sat, 19 Jan 2019 16:12:19 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.1 https://oquevocefalou.com.br/wp-content/uploads/2019/03/cropped-o_que_voce_falou_favicon-2-32x32.jpg história Arquivo - O que você falou? https://oquevocefalou.com.br/tag/historia/ 32 32 Bebê estranho https://oquevocefalou.com.br/bebe-estranho/ https://oquevocefalou.com.br/bebe-estranho/#respond Sun, 30 Dec 2018 22:50:18 +0000 http://oquevocefalou.com.br/?p=7981 Pais e mães de todo o mundo, um instante de atenção: sou só eu, ou vocês também se perguntam quem é este bebê estranho que tanto amam? Calma, não atirem a primeira pedra. Explico. É um bebê estranho, sim, porque o que exatamente sabemos dele?! Sabemos que sorri quando nos vê. Mas porque ele entende ...

Leia mais ;)

The post Bebê estranho appeared first on O que você falou?.

]]>
Pais e mães de todo o mundo, um instante de atenção: sou só eu, ou vocês também se perguntam quem é este bebê estranho que tanto amam?

Calma, não atirem a primeira pedra. Explico.

É um bebê estranho, sim, porque o que exatamente sabemos dele?!

Sabemos que sorri quando nos vê. Mas porque ele entende cedo pela repetição que um sorriso de criança bem dado amolece qualquer adulto.

Sabemos que faz caretas travessas para nos apaixonar. Mas essa é outra experiência adquirida e muito poderosa para dobrar até os corações mais carrancudos.

E sabemos que gosta, por exemplo, de flutuar no ar pela fartura de risadinhas que escutamos. Mas elas são na verdade uma reação involuntária ao estômago embrulhado pelo sobe e desce da brincadeira.

 

Quem então é este bebê estranho?

Agora vocês sentem o calor dos meus questionamentos de pai. Estamos constantemente à deriva entre o achismo sobre os nossos bebês e o que eles de fato devem sentir.

Eu olho nos olhos do meu Bentinho, de apenas nove meses, e tento encontrar lá no fundo algumas respostas que o pequeno ainda não verbaliza. Ou seja, de pouco serve a minha experiência de pai de segunda viagem.

O dia a dia é meio distante, quase como viajar na janelinha sem descer para conhecer os pontos turísticos do caminho.

Posso deduzir que o meu Bentinho se sente amado, mas até que ponto? Suas reações sugerem o contrário quando afastamos um objeto pontiagudo que ele deseja pegar com todas as fibras do seu corpinho. Talvez isso não seja um amor para ele, mas uma submissão.

Ele gosta mesmo da comida que lhe servimos? Afinal, os grunhidos nervosos que às vezes escutamos podem ser uma reclamação formal contra o cardápio um tanto monótono.

Quem sabe?!

Bbys GIF - Find & Share on GIPHY

 

Só os bebês sabem

Eu não posso conceber o que gira dentro da sua cabecinha mais pesada do que o corpo. Ninguém pode. Apenas nossos bebês. E não é essa a maior das estranhezas? Nós amamos incondicionalmente quem sequer conhecemos a fundo, como seria começar a amar, por impulso, um estranho que cruzasse o nosso caminho na rua.

Tente se imaginar girando a cabeça para ver onde o estranho vai, caminhando até ele para alcançá-lo, seguindo-o de perto e mantendo-o sempre à vista para cultivar este amor repentino. Uma hipnose sem breque, como a nossa história com os nossos bebês estranhos.

E mesmo assim nós morremos de paixão por eles. Talvez porque vivam como já fizemos um dia, mas desaprendemos. Os bebês ficam em alerta para explorar, enquanto nós preferimos sentar no sofá para descansar.

Ou se contorcem para pegar o brinquedo que está longe, em vez de se distraírem com os que deixamos perto. Eles não se contentam, coisa que mais fazemos.

Eles precisam tocar o espaço à sua volta, sentir todas as texturas, aromas, ruídos, sustos, carinhos, temperaturas, enfim, tudo o que estiver ao seu alcance.

“Mais do que nascer sabendo, o bebê já nasce aprendendo.”

Por isso, a experiência é a sua diversão neste mundo pirotécnico em que se meteram. Já a nossa é a desilusão – constante, gradual e reveladora do quanto perdemos no caminho entre a primeira infância e a vida madura.

Talvez por esses motivos, o nosso espírito cansado prefira achar que todo bebê é estranho. Pelo simples fato de eles serem mais livres, leves e soltos do que as criaturas adultas que nos tornamos.

 

O que os bebês sabem

Como nós, os bebês sabem muita coisa. E pouca também. Aos nove meses, o Bento está se dando conta de que é um indivíduo independente, à parte da sua mãe. Caiu a ficha para ele: seu corpo é só seu.

Portanto, meu Bentinho e todos os bebês do mundo experimentam a aventura de tentar descobrir quem são enquanto conhecem os outros. É um mergulho para dentro que também demos no passado, embora essa seja uma lembrança perdida em algum lugar da nossa essência.

O meu Bentinho acaba de completar nove meses de vida. Um tempo mais lento do que o tempo mesmo, mais intenso do que um suspiro, mais nosso do que deles. São 275 dias ou 6.600 horas que não vimos passar porque estávamos ocupados em sentir.

O nosso bebê estranho é o espelho mais nítido que podemos encarar. Porque nele vemos todos os detalhes do amor.

The post Bebê estranho appeared first on O que você falou?.

]]>
https://oquevocefalou.com.br/bebe-estranho/feed/ 0
Corrupção no Brasil https://oquevocefalou.com.br/corrupcao-no-brasil/ https://oquevocefalou.com.br/corrupcao-no-brasil/#respond Mon, 22 Oct 2018 17:23:52 +0000 http://oquevocefalou1.hospedagemdesites.ws/?p=7657 A corrupção no Brasil é exibicionista na rua, mas bem quietinha em casa, meninos. Ela age assim há séculos, cultivando uma vida dupla que adoramos copiar desde que o país foi “descoberto”. Na rua, ela se exibe quando passa a mão em fundos do governo. Ou aparece com a cueca cheia de maços de dinheiro. ...

Leia mais ;)

The post Corrupção no Brasil appeared first on O que você falou?.

]]>
A corrupção no Brasil é exibicionista na rua, mas bem quietinha em casa, meninos.

Ela age assim há séculos, cultivando uma vida dupla que adoramos copiar desde que o país foi “descoberto”.

Na rua, ela se exibe quando passa a mão em fundos do governo. Ou aparece com a cueca cheia de maços de dinheiro. Ou tem um apartamento abarrotado de malas com milhões em notas.

Em casa, evita chamar a atenção ao pagar a doméstica por fora. Ou quando sonega imposto dizendo que está mais do que certa porque “já pagamos impostos demais”.

Mas não importa onde, a corrupção é muito bem relacionada. Todos apertam sua mão, com menos ou mais nojinho. Tem gente que até senta à mesa para tratar de negócios com ela.

E o combinado é fazer pose de “ninguém viu, ninguém vê”.

Harold Lloyd Hiding GIF - Find & Share on GIPHY

Mas o que é a corrupção no Brasil?

Ela é onipresente, meninos. Bem folgada e sem limites. Simples assim.

Além da vida dupla, é uma camaleoa descolada. David Bowie sentiria inveja! A corrupção aqui tem duas caras. Milhões delas! E jamais repete o visual – nenhuma vez!

Junte dez brasileiros em uma sala para falar do assunto e vocês terão dez retratos falados diferentes da corrupção! 🙄 Que aparência difusa! Um unicórnio, quase.

E quem diz ter visto – nunca participado! –, fez à distância. Ou seja, a corrupção está sempre bem longe no vizinho, na repartição pública ou no governo, mas nunca em nós.

Com uma vida dupla, além de inveterada camaleoa, ela também vive sem carteira!

Isso, meninos. A corrupção no Brasil não tem pai nem mãe. Ninguém assume responsabilidade por ela, que corre solta dentro e fora de casa.

Todos a repreendem e a condenam, mas fica por isso. Poucos a puxam de canto para entender o que está acontecendo e educá-la, como bons pais fazem com os filhos. Ela mais parece um vira-lata: amada, mas sem dono.

As pessoas não veem conexão entre Brasília e o dia a dia, a prática da cidadania e as negociações no âmbito político. São coisas muito distantes.

Onde a corrupção começa?

Em casa, onde mais?!

Os portugueses a trouxeram a tiracolo. E como eles, ela se adaptou muito bem à terra brasilis.

Juntos, constituíram um lar harmonioso. Juntos, sambaram para a sociedade, como se não houvesse amanhã.

Mas o amanhã sempre chega. Até os dias de hoje, como podemos ver. Após tantos anos se divertindo no Brasil, a corrupção arrumou um cantinho na casa de cada brasileiro.

Tudo na camaradagem! Sem caô! De boa! Só no sapatinho! Ela fica onde quer, do barraco à mansão, passando pelas ruas no caminho. Tá tudo dominado.

Mas percebam: a corrupção no Brasil começa no aconchego do lar.

Dizia-se que era preferível ser roubado por um pirata em alto-mar do que aportar no Brasil. A elite colonial é a mesma que está hoje no poder, com a mesma mentalidade, de estar numa terra em que pode enriquecer sem qualquer escrúpulo.

Quem espalha a corrupção?

Se ela começa em casa, somos nós pais e mães que a espalhamos primeiro.

Sabe como, Artur e Bento? Dando maus exemplos. Exemplos: ligar a TV como suborno pelo silêncio de vocês, abusar da autoridade de pais para intimidar e negligenciar atenção em benefício próprio.

Bem rápido, vocês também ficam amiguinhos da corrupção no Brasil. O coleguinha que fura a fila no escorregador, por exemplo, já entrou na brincadeira.

Começa então o contágio, como resfriado de escola no inverno. Em poucos anos, vocês aprendem a corromper.

Pior, desenvolvem a habilidade de negar.

— Foi ele!

— (…).

— Corrupto!

— (…).

Não fui eu!

Não sei se é um mea culpa, porque o brasileiro coloca a culpa nos outros. Ela acha que as outras pessoas estão fazendo um voto de baixa qualidade.

Dá para evitar?

Dá, mas tem que se esforçar. A começar por mim e pela sua mãe. Os pais devem assumir a liderança, puxar o bloco.

E sem cair em tentação. Vocês escutarão muito o diabinho dizer que é só uma vez.

— Ninguém vai perceber. Vai, faça!

Tapem seus ouvidos para o diabinho, mas abram bem os olhos. A corrupção só acontece se vocês forem fios condutores.

Sejam como uma borracha de apagar para cortar a corrente. Sem energia, a corrupção perde brilho até quase apagar.

Um país com menos corrupção – porque ela sempre existirá – seria melhor. A começar pelas pessoas, que são as primeiras a propagar o vírus.

Cidadãos menos corruptos seriam mais altruístas. E sinceros: não adianta culpar os outros, como o governo ou o vizinho, ou bater panela da sacada e votar em paladinos da ditadura.

A corrupção começa em cada um de nós.

Estima-se que entre 1,38% e 2,3% do PIB (Produto Interno Bruto) vaze dos cofres públicos em esquemas de corrupção direta. Em 2013, isso equivaleu a entre R$ 66,8 e 111 bilhões. Imagine essa grana aplicada corretamente para aparelhar a vida do cidadão e mover a economia…

Moral da história

Somos todos corruptíveis e corruptos. De um jeito ou de outro. Mas fazemos que não, culpando os outros.

Tá na hora de encarar a verdade. E jogar limpo com vocês, nossos filhos. Artur e Bento, não nego: levo a corrupção dentro de mim também.

Mas uma coisa mudou desde que vocês nasceram. Uma coisa que não sei explicar, embora tenha uma ideia. Hoje, corromper é uma fraqueza que tento controlar mais do que nunca.

Como deveria e deve ser. E se cada pai e mãe pensar assim, quem sabe o mundo de vocês, meninos, fique menos contaminado pela corrupção.

The post Corrupção no Brasil appeared first on O que você falou?.

]]>
https://oquevocefalou.com.br/corrupcao-no-brasil/feed/ 0
Vote nos filhos https://oquevocefalou.com.br/vote-nos-filhos/ https://oquevocefalou.com.br/vote-nos-filhos/#comments Thu, 11 Oct 2018 15:02:27 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=7599 Spoiler, meninos: este “vote nos filhos” é um textão sobre política. Mas escrito com amor. O meu coração sempre me pede para eu votar com a razão de pai. Eu vejo vocês na fotinho da urna, Artur e Bento, não os candidatos carrancudos. Os números que eu digito do meu voto são como coordenadas do ...

Leia mais ;)

The post Vote nos filhos appeared first on O que você falou?.

]]>
Spoiler, meninos: este “vote nos filhos” é um textão sobre política.

Mas escrito com amor.

O meu coração sempre me pede para eu votar com a razão de pai. Eu vejo vocês na fotinho da urna, Artur e Bento, não os candidatos carrancudos.

Os números que eu digito do meu voto são como coordenadas do nosso destino. Nenhum pai pode ser inconsequente na hora de apertar os botões.

Ainda mais agora. O momento é de consternação e lamento, de esperança e medo, de olhar para o futuro e ver o passado. O Brasil em que vivemos hoje, meninos, é um país enviesado e torto como o caule sem guia de uma planta jovem, que pende para o lado forçada pelos ventos fortes soprados de direita já há algumas estações.

Muito do que tento dizer a vocês que não está certo, como são o preconceito, a apologia à violência, a intolerância e a mentira, caíram no gosto do povo, que se perfila para dizer nas urnas com o voto que tudo isso junto pode levar o país adiante, quando, em realidade, é o contrário.

Vote nos filhos: a política do voto

A política, que vocês desconhecem, é talvez o exercício mais elaborado da complexidade humana. Na democracia em que vivemos, um candidato sem realizações ao longo de mais de 20 anos recebe voto. E desponta como possível presidente do país. Sua campanha gerou uma onda de indignação – e outra de adesão incondicional como voto de catarse – aglutinada em torno da hashtag #EleNão.

Um candidato que nada diz, mas a muitos ofende. E quem jamais votará nele por discordar da sua agressividade e platitude deve aceitá-lo mesmo assim como candidato porque este é o princípio elementar da democracia.

Neste sistema político, um candidato deste tipo pode vencer e desviar a vida da população para o mesmo rumo das rajadas de direita. O nosso caule já envergou infelizmente, projetando uma sombra. E a beleza da democracia é que um dia o pendor pode mudar de lado se os sopros de esquerda voltarem a ser constantes.

Vocês dois têm tempo ainda para aprender sobre a política e sentir qual vento, de centro, de esquerda ou de direita, menos incomode os seus sentidos.

Mas lembrem-se: depois de decidirem tenham em perspectiva que o clima – e voto – nos países e nas cidades sempre muda, como acontece em alto mar com a direção das correntes de ar obrigando os marinheiros a retraçarem suas rotas.

Mantenham-se no rumo de suas convicções. Sejam coerentes mesmo diante de rajadas na contrária, mas também abertos a outros pontos de vista. No oceano da convivência, as velas se inflam de um lado. Mas de outro no instante seguinte. E vocês precisam manter os olhos abertos para desviarem dos navegantes de outras bandeiras no caminho.

“Minha intenção foi mostrar que aquilo que indivíduos fazem no cotidiano pode parecer pequeno diante da história, mas não o é. Escolher agir segundo a ética da profissão pode impedir que um regime autoritário se imponha. Queria dizer às pessoas que elas têm mais poder do que pensam.”

Direita ou esquerda

A minha escolha, meninos, sempre foi pela esquerda. A percepção que tenho é de que os movimentos e partidos de esquerda são mais sensíveis – e dedicados – às necessidades de quem tem necessidades. Vejam, excessos e omissões sempre existiram, mas para mim a balança continua inclinada para este lado.

Ser de esquerda ou direita é uma escolha que acontece naturalmente conforme crescemos e nos identificamos com determinadas posições. Não acredito que exista o centro, mas muitas pessoas dizem estar no meio – ou levemente para a esquerda ou direita.

O que acontece se vocês seguirem pelo lado aposto ao meu? Nada. Como nada deve acontecer quando encontrarem e conviverem com pessoas que pensem diferente de vocês.

O Brasil hoje está intolerante e rarefeito porque perdemos o respeito pela opinião, sem lembrar que a democracia supõe o diálogo e a diversidade.

Não se deixem intimidar se tentarem silenciar vocês, meninos. Exponham suas convicções, tentem ser coerentes e mudem se acharem que é o caso. Nos tempos de hoje pode parecer inútil ou cansativo defender o que parece indefensável, mas esse é a entrega pessoal da democracia.

Limite das coisas

Na história recente do nosso país, as elites testaram de tudo. Uma luta contra os marajás pela retenção das economias de todas as famílias – ao menos das desavisadas que tinham suas economias aplicadas nos bancos –, as privatizações sem redistribuição de renda, a reeleição para benefício próprio no curso do próprio mandato, a edição do debate político e o golpe vestido de impeachment, para ficarmos em alguns exemplos.

A elite brasileira é assanhada, ensimesmada, autorreferente e dona de si e do Brasil. Quando vocês tiverem olhos treinados, meninos, vão perceber que aqui a elite é deslumbrada consigo mesma e sua riqueza, sem o menor requinte ou educação que se deveria esperar de quem folheou um dia os melhores livros.

“Os ricos acreditam que poderão se proteger sozinhos do impacto ambiental gerado pelo neocapitalismo selvagem. Há uma guerra contra a democracia porque o sistema, cada vez mais, está construído para servir às elites, e isso se choca com a democracia real, porque há muito mais gente com menos proteção…”

Do outro lado, a esquerda que tanto esperou para conquistar o poder se perdeu com ele, desviando para si o que deveria entregar aos mais carentes. Bem que tentaram uma redistribuição, e fizeram como nunca no país. Mas quem cobra o exemplo deve se agarrar a ele, sem frequentar os mesmos salões antes exclusivos à elite.

Tudo tem limite, meninos. Daí outro exercício da democracia: a autocrítica. Eu faço a minha diariamente até o limite da razão, ou seja, por mais que reconheça os excessos – e são muitos – da esquerda, como a corrupção, eu jamais usarei tal argumento para apoiar o que hoje o candidato Jair Bolsonaro prega – porque é isso, nada mais do que pregação populista.

Se a corrupção é o argumento, nenhum partido hoje no Brasil merece votos. Muito menos o dele, uma agremiação nanica e obscura resultado do nosso multipartidarismo oportunista. Quem usa a corrupção da esquerda para justificar seu voto no extremismo de direita está, em realidade, sendo hipócrita ao não assumir que, lá no fundinho do coração, compactua com o que há de pior da humanidade.

E tudo, repito, tem limite.

 

Manual de sobrevivência

A política é também o desafio de tentar encontrar o equilíbrio entre a paixão e o desapego, uma escola de como dosar as convicções mais íntimas com as urgências do outro. Exige aprendizado e prática, tanto nas discussões de fato políticas como no convívio do dia a dia, em que nossas decisões e atos devem se adaptar às objeções que vierem.

Permitam-me, meninos, sugerir a vocês um manual de sobrevivência na democracia:

  • Estudem sobre o que ela supõe. Muito.

https://youtu.be/Wp-WAaQ_tlI

  • Leiam o que conseguirem sobre política, sem comedimento ou preguiça.
  • Reflitam sobre as diferenças e a desigualdade. Abram os olhos, meninos!
  • Escutem o outro em silêncio. Deixem que fale sem interromper.
  • Construam argumentos com responsabilidade e jogo limpo, defendendo-os sem impor.
  • Jamais tentem convencer ninguém, apenas compartilhem seus pontos de vista.
  • Não se abalem se suas opiniões forem as da minoria. Acalmem o coração e lembrem que a democracia se renova.
  • Respeitem. Respeitem. Respeitem. Exijam o mesmo em troca.
  • E respirem fundo.

The post Vote nos filhos appeared first on O que você falou?.

]]>
https://oquevocefalou.com.br/vote-nos-filhos/feed/ 1
O recomeço https://oquevocefalou.com.br/o-recomeco/ https://oquevocefalou.com.br/o-recomeco/#respond Sun, 19 Aug 2018 16:28:50 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=7478 A vida dá muitas cambalhotas. De tanto observar, a gente aprende a rolar junto com ela e a ficar de pé. Mas nem sempre é assim. Algumas vezes é mais difícil manter o equilíbrio sem se machucar. É quando precisamos de um recomeço. As piruetas mais difíceis causam dores insuportáveis em algumas pessoas, que preferem ...

Leia mais ;)

The post O recomeço appeared first on O que você falou?.

]]>
A vida dá muitas cambalhotas. De tanto observar, a gente aprende a rolar junto com ela e a ficar de pé. Mas nem sempre é assim. Algumas vezes é mais difícil manter o equilíbrio sem se machucar. É quando precisamos de um recomeço.

O que você falou? | O recomeço

As piruetas mais difíceis causam dores insuportáveis em algumas pessoas, que preferem interromper o movimento para se recolher de vez. Sem mais piruetas, sem mais o que pensar.

O recomeço da Katie

Katie é uma dessas pessoas. Não a conhecemos, Artur, mas sabemos da sua história. Aos 18 anos, ela confrontou seu namorado sobre uma outra jovem que pudesse estar se relacionando com ele. Foi o suficiente para o rapaz terminar com Katie, que, em ato de desespero, trancou-se no banheiro de casa com um rifle, pôs a ponta do cano sob o queixo e disparou contra si. O seu rosto desapareceu imediatamente, mas seu coração teimou em bater.

Katie teve o seu recomeço – a recuperação foi seguida de uma longa tentativa de reconstrução do seu rosto, envolvendo um elaborado transplante de face que deu a Katie uma nova personalidade e a possibilidade de ser a pessoa mais jovem a receber este tipo de tratamento nos Estados Unidos.

Os recomeços exigem o mesmo esforço – ou maior – das cambalhotas mais complicadas da vida. Com o detalhe de que, no recomeço, você precisa reunir forças imediatamente após a pirueta, e com as dores que já sente, para seguir em movimento. Katie fez isso, como pôde. Talvez tenha aperfeiçoado sua técnica no processo, talvez não.

É do que precisamos falar. Você, eu, sua mãe, todos caímos quando começamos a tentar andar. Ninguém escapa. É bom que seja assim para entendermos, desde cedo, que tudo é um aprendizado. O recomeço tem disso. Ele ensina a andar melhor, a dar cambalhotas sem os maus jeitos das anteriores.

E como todo aprendizado exige força de vontade, recomeçar custa mais do que parar. Lembre-se de que a vida é uma grande repetição, ainda que as viagens, as férias e todos os momentos que interrompem a rotina façam você pensar diferente. O recomeço é um esforço a mais dentro da rotina.

A sua mãe

A sua mãe vive um momento especial de recomeço como a Katie, com a diferença de que, no caso da mamãe, o recomeço veio depois de um regalo da vida, e não de uma visita da morte interrompida a tempo no banheiro. Com a mamãe, estamos conseguindo ser ainda mais valentes, a enfrentar o que ninguém quer por perto, mas que está aí para grudar na gente às vezes.

Isso é recomeçar, Artur; dar uma cambalhota mais elaborada, se apoiar e erguer o corpo com o tronco firme. Cansa bastante, assim como o dia a dia que sempre chega, sem falta, com as mesmas manias irritantes. Mas fazer o quê? Aqui estamos, do começo ao fim. E recomeçando, sempre que der e quisermos.

The post O recomeço appeared first on O que você falou?.

]]>
https://oquevocefalou.com.br/o-recomeco/feed/ 0
Copa das Copas https://oquevocefalou.com.br/copa-das-copas/ https://oquevocefalou.com.br/copa-das-copas/#respond Tue, 10 Jul 2018 14:32:24 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=7420 Bola rolando. É a Copa das Copas! Delírio! Nisso estamos, Artur. Nessa histeria coletiva por um esporte que já foi mais pé de chinelo, mas continua fazendo corações quicarem como a bola em campo. Rachão na Copa das Copas Copa é business. Mas muito parece pelada também. Tem atacante sem gols, craque cai-cai, técnico contundido à ...

Leia mais ;)

The post Copa das Copas appeared first on O que você falou?.

]]>
Bola rolando. É a Copa das Copas!

Delírio!

Nisso estamos, Artur. Nessa histeria coletiva por um esporte que já foi mais pé de chinelo, mas continua fazendo corações quicarem como a bola em campo.

Rachão na Copa das Copas

Copa é business. Mas muito parece pelada também. Tem atacante sem gols, craque cai-cai, técnico contundido à beira do campo… Campeã eliminada na lanterna, arquibancada fora do estádio… Jogador levando bolada da trave e zebras a galope por todos os lados.

neymar_Reproducao_Twitter
Reprodução/Twitter

A Rússia!

Como é em toda Copa… Mas esta é, sim, especial. Ela tem o VAR (sigla em inglês para Video Assistant Referee) ou árbitro de vídeo. Que brisa!

A Rússia ainda não será a sua primeira Copa de memória, Artur. Por isso, escrevo o post para você se lembrar deste tal VAR, um antes-e-depois no futebol.

Você está vivendo a história diante dos teus olhos! A era mágica dos lances sem volta, como a mão de Deus de Maradona, ficou para trás. Entramos na fase da tecnologia que para a dúvida de carrinho sem piedade.

A grama mais verde

Se o juiz da partida apita, ele pode desapitar. E auxiliado por outro árbitro bem refrigerado na sala sem janelas do VAR, onde o campo é mais aberto. Lá, a grama tem mais verde e a falta vai mais dura.

O VAR altera o espaço-tempo, pois fazemos a ligação direta entre passado e futuro sem tabelinhas de tiki-taka, como o tiro de meta que encobre o círculo central para deixar o atacante na cara do gol.

O VAR tira torcidas inteiras do passado quando o juiz, após ver as imagens, valida o gol que deixara de marcar. Ou renova as crenças da arquibancada no futuro sinalizando pênaltis negligenciados que o batedor pode acertar para mudar o placar.

Delírio eletrônico! Neste futebol arte em alta definição, toma cartão vermelho a polêmica, que desce ao vestiário mais cedo.

— VAR para o VAR! — pedem alguns.

Ritmo de jogo

Mas a partida apenas começou na Copa das Copas, e o VAR veio para ficar. Ele serve de inspiração para a vida, como o ilustre futebol faz há décadas. Você vai participar de lances mais ou menos felizes. Mas alguns serão duvidosos, de fazer o coração bater mais forte tentado a querer uma segunda oportunidade que endireite os erros.

E lembre-se: há muitos chutes sem volta na vida, daqueles que nem o VAR resolve. Ou seja, na disputa do dia a dia, falta uma tecnologia que dê outra chance de você reverter o placar.

Por isso, pratique o jogo coletivo, estimule o fair play, evite os erros de passe, fique longe da catimba, desvie dos carrinhos maldosos e acerte na pontaria.

https://media.giphy.com/media/3MieajuyUOztmCsUXa/giphy.gif

Vai acontecer de algumas partidas acabarem em derrota. Mas lembre-se de que sempre há outras depois. A torcida já está do seu lado. Eu e a sua mãe ficaremos sentadinhos de frente para o campo, atentos aos lances gritando frases de apoio.

Você já sabe: venha à beirada do gramado bem pertinho de nós sempre que quiser comemorar ou receber um sorriso nosso de estímulo nos momentos mais intensos das tuas Copas.

The post Copa das Copas appeared first on O que você falou?.

]]>
https://oquevocefalou.com.br/copa-das-copas/feed/ 0
Gelo que derrete https://oquevocefalou.com.br/gelo-que-derrete/ https://oquevocefalou.com.br/gelo-que-derrete/#comments Sun, 18 Mar 2018 17:29:47 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=7030 Adultos só entendem o que é ser criança, na alegria e na tristeza, quando têm filhos – assim como você compreenderá algumas das minhas atitudes se tiver os seus. Dou um exemplo nosso antes que me esqueça. O dia de passeio em família transcorria sem notas de rodapé. Mas houve um momento em que a ...

Leia mais ;)

The post Gelo que derrete appeared first on O que você falou?.

]]>
Adultos só entendem o que é ser criança, na alegria e na tristeza, quando têm filhos – assim como você compreenderá algumas das minhas atitudes se tiver os seus.

Dou um exemplo nosso antes que me esqueça.

O dia de passeio em família transcorria sem notas de rodapé. Mas houve um momento em que a sua infância foi interrompida por um choque de realidade e você reagiu a isso com um olhar de estranhamento, como a gente vê em turistas desorientados numa estação central do metrô ou percebe nos vira-latas da praça quando a cidade se reúne para o coreto de domingo e eles tentam desviar de pernas e injúrias.

Você vibrava com as árvores diferentes, apontava para o céu borrado de nuvens, mas já não sabia como lidar com algumas pessoas à volta porque em algum momento elas haviam decidido que era hora de te dar um gelo por alguma coisa que nenhuma criança na sua idade faria por merecer semelhante reprimenda.

O desconcerto se transformou em ansiedade, que tomou conta do seu corpo cada vez mais agitado. Você andava de um lado a outro na tentativa de puxar assunto com quem encontrava pelo caminho, como um pedinte que brota e vai embora antes de ouvir sim ou não.

Adultos podem ser danosos. Têm tanto medo de si mesmos e dos outros que levam ao pé da letra a ideia autocentrada de que a melhor defesa é o ataque. E não se importam se há crianças no caminho, aceleram seus rolos compressores sem pesar as consequências.

Antes do passeio, você se desentendera com outras crianças, como acontece desde que a infância existe. E desde que a infância existe crianças que se desentendem resolvem suas próprias diferenças.

Mas adultos medrosos preferem tomar partido e liderar o ataque como estratégia de preservação de sua espécie, envolvendo os filhos como cúmplices. Daí o gelo a que você foi submetido, sem necessidade e fundamento.

Essa atitude infantil de quem deveria dar exemplo foi tomada como se só houvesse um lado da história, em que você foi apontado como culpado, quando, em realidade, deveríamos proteger as crianças de julgamentos e juízos de valor porque nós mesmos não nos encaramos antes no espelho.

Que adulto se julga e se dá uma pena que lhe ajude a se reintegrar à sociedade? Que adulto dá às crianças o benefício da dúvida? Deixemos que vocês se desentendam e se conciliem, sem intoxicar esse aprendizado com os nossos medos de gente grande – e embrutecida pelo tempo e pela cisma de atacar para se defender.

O certo, Artur, é que o gelo derrete. E muito rápido sob o sol de um dia de passeio em família em que nem todos são translúcidos e frios como o mais quadrado cubo de gelo.

The post Gelo que derrete appeared first on O que você falou?.

]]>
https://oquevocefalou.com.br/gelo-que-derrete/feed/ 3
Altos e baixos https://oquevocefalou.com.br/altos-e-baixos/ https://oquevocefalou.com.br/altos-e-baixos/#comments Mon, 01 Jan 2018 18:20:57 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=7023 Eu trabalhei durante alguns anos em um edifício em que um senhor, sozinho e sentado em um banco menor do que ele preferiria se lhe dessem uma oportunidade, resistia às pressões da evolução do mercado de trabalho e das novas tecnologias da indústria de elevadores, concebida em Coney Island por Elisha Otis em 1851. Todos ...

Leia mais ;)

The post Altos e baixos appeared first on O que você falou?.

]]>
Eu trabalhei durante alguns anos em um edifício em que um senhor, sozinho e sentado em um banco menor do que ele preferiria se lhe dessem uma oportunidade, resistia às pressões da evolução do mercado de trabalho e das novas tecnologias da indústria de elevadores, concebida em Coney Island por Elisha Otis em 1851.

Todos os dias sem falta ele apertava seus botões pacientemente – às vezes com gestos muito lentos como se sua única intenção fosse irritar os mais apressados, e talvez o fizesse de verdade –, de modo a conduzir seu elevador para cima e para baixo, recebendo e deixando pessoas nos andares daquele edifício de meia altura em uma cidade com ambições cada vez mais vertiginosas.

Manhã e tarde eu via o senhor cumprir metodicamente sua jornada de trabalho, guiando-me pelas alturas ou me levando para o térreo com sua expressão indiferente, salvo poucas ocasiões em que retribuía meus agradecimentos com um movimento de canto de boca quase imperceptível, gesto que, se bem me lembro, estava mais para um espasmo de irritação do que para uma tentativa de sorriso.

Aquele senhor era um ascensorista caricato. Seu gestual enrijecido de quem se deixara transformar em mais uma peça da mecânica de funcionamento do elevador, os olhares que ele evitava, toda a sua presença apagada despertava nas pessoas que ainda o reconheciam como um semelhante certas reflexões sobre o desencontro entre profissões terminais como a sua e as transformações em curso nas ruas.

Mas todos os dias sem falta ele apertava seus botões pacientemente. Jamais lhe perguntei nada que me ajudasse a ligar mentalmente os pontos de sua vida ou a entender os altos e baixos pelos quais passara sem que fosse ele o ascensorista. O que tento dizer é que ele estava ali, não mais do que isso para mim e para os outros que lhe ditavam os andares em que desejavam descer.

Após anos sem me lembrar da sua existência, voltei a vê-lo sentado na mesma posição e mais envelhecido no dia em que fui a uma consulta médica naquele edifício. O elevador me transportou desta vez ao passado, uma viagem curta em que ele foi meu acompanhante silencioso e indiferente mais uma vez. Como nos velhos tempos. Eu mudei, mas foi como se não. E ele nem sequer me concedeu o movimento de canto de boca.

Todos dizem que a vida é incrível, que devemos buscar a tal felicidade. Quem sabe, mas também acontece de ela se repetir no que pode ser uma rotina confinada em um elevador, o que não faz do nosso ascensorista uma pessoa melhor ou pior. Se alguém teve ou tiver a oportunidade de ouvir sua história, saberá identificar momentos alegres, sabedoria, tristeza e todos os demais componentes de uma existência igualmente estimulante.

Quem somos para deduzir que um senhor que leva anos em um elevador, por mais carrancudo que seja, tem uma vida sem vida só de observá-lo em sua ocupação? E se a sua magia está fora daquela caixa metálica quando já não o vemos porque jamais nos interessamos em saber um pouco mais dele? Ascensoristas também amam, como o fazem todos que, por mais indiferentes ou aborrecidos que pareçam, têm sim um mundo de histórias a contar.

https://twitter.com/NosArtur/status/875809847513624578

Tendemos a confundir a complexidade de uma pessoa com o número de viagens que ela fez, faz ou fará, com a quantidade de supostos amigos em suas redes sociais ou os andares que subiu na carreira. Balela. Acredito cada vez mais que a única certeza que podemos ter ao olhar para alguém é que ali há um multiverso a explorar. Você vai expandir o seu, como bem entender e sem se rotular por isso, com os altos e baixos só seus.

https://www.youtube.com/watch?v=iw6HsKkALp4

E se um dia encontrar um ascensorista, diga-lhe que mandei um abraço.

The post Altos e baixos appeared first on O que você falou?.

]]>
https://oquevocefalou.com.br/altos-e-baixos/feed/ 6