Relação entre pais e filhos sem margarina e muita entrega

A boa relação entre pais e filhos é um desejo natural de pai e mãe. Nos policiamos, lemos a respeito e cometemos erros. Vem a culpa, a desorientação e o improviso. Enfim, estamos constantemente refletindo sobre como melhorar a paternidade e/ou a maternidade. Ou pelo menos deveríamos fazer isso…

Mas será que realmente nos dedicamos a ter qualidade no vínculo entre pais e filhos? Que tal então pensarmos juntos, eu e você, leitor(a), sobre quais podem ser os ingredientes básicos dessa receita?

Sabemos que a infância é especial. Mas só se estivermos ao lado dos nossos pequenos. Afinal, é nosso papel proporcionar condições para que se desenvolvam. Isso tem a ver com a saúde dos filhos e o exercício de ser pai sem se conter. E isso começa na nossa atitude. 👇👇👇

Empatia: uma base para a relação entre pais e filhos

A empatia está no centro do que somos. Sem ela, nós humanos seríamos incapazes de enxergar da perspectiva das outras pessoas. E isso tem de acontecer a todo pai. Porque devemos ter essa habilidade, só para começar, de nos colocar na posição das crianças.

Pense por um instante… No seu crescimento, elas tentam entender tudo à sua volta. E como se esforçam! Elas nos observam, reproduzem nossos movimentos e repetem o que dizemos.

Mas isso não é ter empatia ainda. Motivo pelo qual precisamos dar exemplo para que as crianças possam desenvolver sua própria empatia.

Como ensinar empatia para os filhos?

Isso é muito mais do que só ensinar. A empatia é mais do que apenas ter a capacidade de se imaginar na situação do outro. A empatia é também a habilidade de dar a essa situação o seu devido valor. Ou seja, você se solidariza com a tristeza de alguém, e valoriza esse sentimento como se fosse seu, por exemplo.

Filhos não nascem preparados para isso. Logo, a paternidade é fundamental para eles se tornarem adultos com empatia. Nas minhas pesquisas pela internet, encontrei algumas dicas da Escola de Graduação em Educação de Harvard:

5 ideias para cultivar a empatia nas crianças

  1. Pratique a empatia com os outros (dê o exemplo!). E seja empático(a) com os pequenos. Dessa maneira, eles aprendem duplamente. 😉
  2. Reforce a importância de se preocupar com os outros. Além de exemplificar padrões éticos (como o fato de o mundo não girar à nossa volta).
  3. Incentive e crie oportunidades para as crianças praticarem a empatia. Como o convívio com avós. 😉
  4. Amplie o círculo de pessoas ou situações em que as crianças podem demonstrar empatia. Que tal envolvê-las em trabalhos voluntários?
  5. Ajude a molecada a entender e a lidar com os próprios sentimentos. Esse é um meio caminho andado para que se identifiquem com os sentimentos dos outros.

“Contemporary researchers often differentiate between two types of empathy: ‘Affective empathy’ refers to the sensations and feelings we get in response to others’ emotions. This can include mirroring what that person is feeling, or just feeling stressed when we detect another’s fear or anxiety.

‘Cognitive empathy’, sometimes called ‘perspective taking’, refers to our ability to identify and understand other people’s emotions. Studies suggest that people with autism spectrum disorders have a hard time empathizing.”

Trecho de What is Empathy?, da Greater Good Magazine

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Comunicação: a troca necessária entre crianças e adultos

Essa é fácil de perceber a importância. Um bom relacionamento entre pais e filhos depende da comunicação. Seja das coisas do dia a dia, seja dos sentimentos

Mas não é moleza, sabemos todos. Muita coisa muda na vida com a chegada dos filhos. Quantas vezes dizemos X, e a molecada entende Y. Ou perguntamos assim, e eles respondem assado. É da paternidade e maternidade.

Precisamos nos dedicar à boa comunicação parental justamente porque ela é difícil. Ou a relação perde qualidade, como uma ligação truncada.

Segundo um conteúdo da Universidade de Oxford, mais precisamente da Oxfordre, a comunicação entre pais e filhos tem sete funções básicas no desenvolvimento das crianças:

Socialização

O processo de troca de valores, comportamentos e visões de mundo é vital na comunicação entre pais e filhos. Nesse sentido, nós pais contribuímos diretamente para a capacidade das crianças de socializar nessas esferas.

Suporte social

Os filhos esperam esse tipo de cuidado dos pais. Na verdade, eles necessitam disso. Não deveríamos falhar, como adultos e responsáveis, nesse aspecto.

Afeição no relacionamento entre pais e filhos

Qualquer mensagem verbal ou não verbal que transmita um sentido profundo de cuidado é bem-vinda. Portanto, precisamos tentar ao máximo dar afeição aos pequenos.

Sentido de comunicação

Quando ajudamos as crianças a aprender a contar histórias? Será que criamos narrativas dos acontecimentos do dia a dia para que elas possam desenvolver essa habilidade? Sinceramente, acho que não.

Conflito no relacionamento entre pais e filhos

Em geral, crianças e adultos têm dificuldade de perceber diferenças de cada um na percepção do conflito. Porque tendemos a projetar sentidos negativos às ações dos pequenos (talvez só queiram entender as coisas). Enquanto eles estão mais inclinados a enxergar demonstrações de controle em nós.

Desenvolvimento da privacidade

Essa é uma “negociação” para a vida. Ou seja, pais e filhos precisam tentar estabelecer acordos do que estão dispostos ou não a dividir. Por isso, o desenvolvimento da privacidade é um baita desafio.

Padrões de comunicação da família

Segundo pesquisas, crianças habituadas a ter conversas em casa com pais e outros parentes se tornam mais preparadas para se comunicar. Nesse caso, nós pais temos a oportunidade de incentivar isso. Na verdade, de estimular o diálogo como moeda de troca no relacionamento entre pais e filhos.

Conexão: o afeto na relação entre pais e filhos

Sabe aquilo de entender os pequenos apenas pelo olhar? Ou de perceber em um gesto se estão alegres ou tristes? Tanto um quanto o outro são exemplos de conexão. Intimamente, isso encurta as distâncias no convívio entre pais e filhos. Porque não precisamos dar voltas no escuro.

Afinal, nós humanos precisamos conectar. E isso vale muito para pais e filhos. Sem vínculos fortes, a maternidade e a paternidade ficam mais difíceis. Meus meninos, por exemplo, são pequenos ainda. O que facilita as coisas porque estamos construindo nossas relações.

Mesmo assim o desafio da educação dos filhos, de acompanhar o desenvolvimento na infância e de estabelecer a conexão é grande. Por isso, recorro mais uma vez a quem sabe. Neste caso, a John Bolby, psiquiatra, psicólogo e psicanalista britânico criador da teoria do apego.

Teoria do apego e a conexão

Na pediatria, o apego é entendido como a conexão emocional desenvolvida entre os pequenos e seus pais (e demais cuidadores). É uma ligação tão fundamental, que foi estudada a fundo. Justamente por isso virou teoria…

Segundo estudos de Mary Ainsworth, colaboradora de Bolby, o afeto é um dos vínculos mais evidentes na relação entre pais e filhos. Ela mostrou isso com o experimento “A situação estranha”. Nele, uma criança de 1 ano é brevemente separada dos pais ou responsáveis.

Em seguida, eles se reencontram. É justamente o que se observa de perto. Dessa maneira, Mary foi capaz de desenvolver algo como uma taxonomia do afeto. E suas conclusões são reveladoras.

Em uma “situação estranha”, crianças acostumadas em casa a receber carinho e afeto, por exemplo, reagem com relativa tranquilidade ao reencontro. Isso porque desenvolveram o chamado afeto seguro em relações de apoio emocional e cuidado.

Por sua vez, crianças que não veem seus pais como tão presentes, tendem a reagir de outra maneira. Sua aparente tranquilidade no reencontro não vem da calma ou segurança. Mas porque aprenderam a lidar por conta própria com a situação. Esse seria o afeto inseguro.

Entrega: a força está com você

Se você chegou até aqui, deve ter percebido o óbvio. Empatia, comunicação e conexão só existem com entrega. Porque só podemos construir se nos dedicarmos.

Cada vez mais, percebo que é menos sobre eles. Os filhos têm a desvantagem de serem pequenos entre adultos. E deveriam vir de nós os exemplos, as referências e as respostas. Mas somos incapazes, de fato, de guiar bem as crianças no seu desenvolvimento.

Algo vai falhar. Com certeza. E sempre.

Motivo pelo qual a entrega talvez seja o melhor antídoto. Porque se prestamos atenção nos filhos, em vez de dominar a atenção deles, quem sabe possamos ser pais e mães mais criativos.

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