Por que mitos e verdades da paternidade só atrapalham

A paternidade não tem mitos e verdades porque nada está escrito em pedra quando o assunto é ser pai, apesar do que dizem muitos textos espalhados na internet.

Ter filhos é um aprendizado diário de altos e baixos. Sabemos todos… E sem qualquer padrão ou recorrência. No máximo, percebemos aqui e ali algumas semelhanças mínimas com outras experiências paternas.

Justamente por isso nada é sólido. Muito menos fixo. O exercício de acompanhar o desenvolvimento de uma criança é de muita troca. Motivo pelo qual nosso primeiro cuidado deve ser evitar os extremos, como os “certos” e “errados”.

A paternidade como ela é: sem isso de mitos e verdades

Sim, já dizia Nelson Rodrigues em suas crônicas no jornal Última hora: a vida como ela é… Ser pai também é como é: sem floreios, com vidas reais e cheias de caprichos.

Assim como na maternidade, a relação diária entre pais e filhos está ligada aos sentimentos mais humanos. Por isso, mais complexos e difíceis de conciliar.

Ou seja, são equivocados os textos que falam em “faça assim” ou “faça assado”. Afinal, os mitos e as verdades são generalizações; duas tentativas humanas de explicar o que muitas vezes não tem explicação.

De novo: o cuidado dos filhos não tem receita, forma ou padrão. Cada pai é um pai porque cada criança é um(a) filho(a) em si mesmo(a). E irmãos, quando chegam, são diferentes. E ninguém mita ou lacra nessa história da paternidade.

A vida como ela sempre é… 😉

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Mas o que é um mito? E uma verdade?

Antes de voltarmos a falar de como acompanhar os pequenos, precisamos primeiro tentar entender se concordamos todos aqui sobre o básico.

Quem escreve sobre erros e acertos tenta, na verdade, facilitar as coisas. Mas nada é fácil em ser pai hoje.

A filosofia ajuda a entender

Mitos são muitas vezes taxados de o oposto da verdade. Platão e Aristóteles, por exemplo, pensavam assim. Mas, segundo o Dicionário de Filosofia, o mito também era para eles a verossimilhança, muitas vezes o máximo ao que a narrativa pode almejar.

Ou seja, o mito seria, de fato, uma aproximação. E não necessariamente o oposto a algo. Nesse caso, faz sentido para a paternidade, que também é uma aproximação; uma narrativa imperfeita.

Cuidado com as certezas

Já a verdade é mais difundida na filosofia pelo conceito de correspondência.

De novo, Platão foi pioneiro em Crátilo: “Verdadeiro é o discurso que diz as coisas como são; falso é aquele que as diz como não são”.

E quem pode dizer exatamente como são as coisas no relacionamento de adultos e crianças?!

Não tem certo ou errado, tem tentativa e erro

O aprendizado de como cuidar dos filhos não deveria ter os tais “mitos e verdades” como fonte de informação. Mas ideias que nos ajudem a entender melhor como as coisas se complementam.

Isso porque tudo é relativo e muito subjetivo no crescimento das crianças. Assim como no próprio desenvolvimento de cada pai ou mãe. Podemos até achar que temos o controle, mas lá no fundo do coração sabemos que é o contrário.

Daí a importância de observar, refletir e experimentar. Com muita informação, claro. Mas sem cair na armadilha do preto no branco. A vida real sempre é um imenso degradê.

A educação de uma criança e a formação do seu caráter na infância dependem de quem está por perto. Ou seja, os pais, as mães, irmãos, tios, avós e quem mais possa contribuir com atenção, carinho e entrega.

Esqueça isso de receita ou fórmula de ser pai

Sou um papai hoje para os meus meninos Bento e Artur. Amanhã, serei outro. E totalmente diferente dos milhões de pais espalhados pelo mundo.

A presença parental está impregnada incertezas. No máximo, podemos contar com exemplos e experiências de outros, como nossos próprios pais e avós. Mas até isso é subjetivo no crescimento e na curva de aprendizagem dos filhos.

A própria educação na escola tem várias linhas de pensamento, propostas e práticas que tentam dar ordem à formação dos pequenos. Mas nada é linear como uma conta matemática ou fórmula química.

Por que então ter um filho deveria ser uma experiência lógica?

Os filhos são melhores que a internet

Só você e os seus pequenos podem saber exatamente quais são as melhores respostas para o seu relacionamento. Nenhum site, blog (como este, por exemplo), post ou vídeo inspirador pode ser mais útil.

Ao tentar buscar ajuda de como agir com os pequenos, deveríamos primeiro observar o que fazemos em casa. Nesse sentido, algumas perguntas me vêm à cabeça:

  • Percebo em profundidade a responsabilidade de ser uma das principais referências de uma criança?
  • Dou bons exemplos?
  • Sou capaz de esclarecer minimente a vida aos pequenos?
  • Consigo ajudá-los a navegar em meio à tempestade?
  • Estou presente e disposto quando eles precisam?
  • Levo alegria e leveza para eles, sem com isso fantasiar a vida?
  • Eu me importo de verdade com tudo isso?

Veja que são questões maiores, além de muitas outras perguntas práticas da paternidade. São para refletir mesmo. Mas para agir também, claro. Porque é a partir de reflexões como essas que damos passos adiante.

Dica de livro: e um exemplo de pai sem mitos e verdades

Se estamos juntos aqui revisando pontos que nos mostram como tudo é incerto no relacionamento entre pais e filhos, um bom caminho é ler, escutar e pesquisar.

E um livro tem uma figura paterna ideal para nos espelharmos: O sol é para todos, de Harper Lee. 👇👇👇

O Sol é para todos de Harper Lee

Nesse clássico da literatura, Atticus Finch é um dos personagens mais incríveis que você pode encontrar. Pai solo de dois filhos em meio a uma sociedade tomada pela pobreza e o racismo, ele tenta transmitir os melhores valores aos seus pequenos.

Para Finch, não há tempo para simplificações de certo ou errado. Pelo contrário, cada contato com suas crianças é uma tentativa de ser o melhor pai possível.

Com ele, o dia a dia é uma paternidade sem mitos e verdades.

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