Como ter conversas difíceis com filhos? Vejamos…

Você vai morrer, papai? Você gosta mais de mim ou do meu irmão? Quem é deus? Essas são algumas das conversas difíceis com filhos pequenos que podemos ter. E, como você pai, mãe ou cuidador(a), tento falar com os pequenos sobre esses e outros temas da melhor maneira possível. Afinal, eu não tenho formação em pedagogia ou psicologia, por exemplo.

O texto que você vai ler é muito pessoal, sem técnica ou palavras acadêmicas. Por isso, minha sugestão é que visite sites de entidades se estiver procurando por informação de especialistas.

Mas se quiser ver como faço com meus pequenos de 2 e 7 anos, é muito bem-vindo(a). Você vai encontrar 14 possíveis respostas MINHAS para perguntas delicadas feitas aos pais com certa frequência. E poderá refletir se elas te ajudam na hora de conversar com os seus filhos sobre os temas cabeludos.

Por que ter conversas difíceis com filhos é tão importante?

As conversas difíceis com filhos são indispensáveis para o desenvolvimento das crianças na infância, uma vez que estimulam o raciocínio, a interpretação dos sentimentos e a capacidade de expressá-los aos pais.

Ora, vamos pensar juntos aqui. Você gosta de condescendência no trabalho ou na relação a dois? Não, verdade? Se faz uma pergunta, por mais delicada que seja, espera conseguir uma resposta coerente e sincera, correto?

Pois, por que então dar menos do que isso para os seus próprios filhos? O mínimo que devemos fazer quando um filho decide fazer perguntas ao pai e à mãe é responder com o coração.

Dicas básicas de como contar algo difícil para a molecada

  • Tente pensar duas vezes antes de falar.
  • Olhe nos olhos, e se possível na mesma altura deles.
  • Fale de forma simples.
  • Procure se colocar na perspectiva do seu(ua) filho(a).
  • E tente transformar ideias e sentimentos em referências concretas para eles.

Também precisamos dilapidar as respostas por causa dos assuntos e das idades. Afinal, o desenvolvimento das crianças na infância tem suas etapas. Assim como o conhecimento, que precisa engatinhar para só depois sair por aí andando por conta própria.

Nós adultos devemos, sim, ter conversas difíceis com filhos. Sem isso, como podemos pretender construir uma boa relação entre pais e filhos?

14 conversas difíceis com filhos (e algumas respostas)

  1. Por que vocês não me respeitam?
  2. Você gosta mais de mim ou do meu irmão?
  3. Você e a mamãe brigaram, mas o que aconteceu?
  4. Por que você não é tão legal quanto a mamãe?
  5. Você é um mau pai por quê?
  6. Me deixa sozinho(a) agora?!
  7. Eu não quero ir. Posso ficar em casa?
  8. Papai, eu sou menino. Posso passar o batom da mamãe?
  9. Você é gay?
  10. Homens podem gostar de homens e mulheres de mulheres?
  11. Quem é deus?
  12. Você vai morrer um dia?
  13. O universo vai acabar?
  14. O que é morrer? E o que acontece?

Por que vocês não me respeitam?

Essa talvez seja uma das conversas difíceis com filhos mais reveladora. Afinal, as crianças são muito sinceras por mais que estejam aprendendo a lidar com os sentimentos. Uma pergunta como essa pode até ser uma exageração, mas sempre terá um fundo de verdade.

Já ouvi muitas vezes do Artur, nosso primeiro de 7 anos, que somos chatos, que não o deixamos quieto, que ele não quer fazer nada… Faz parte da infância e da paternidade e maternidade. Mas sempre que ele diz coisas do tipo, tentamos aqui em casa pensar nos motivos. E procuramos dialogar.

“Eu gostaria de entender por qual motivo eu não estou te respeitando. Foi alguma coisa que eu pedi para você fazer ou foi alguma coisa que eu disse? Você me contar melhor essa história para eu ver como posso mudar para você não achar mais que não te respeito?”

Sinceramente, ninguém tem o papo cabeludo perfeito com a molecada porque ele não existe. Mas podemos exercitar, como pais e mães, a nossa capacidade de ajudar os pequenos a se expressarem.

Apenas assim eles têm a chance de serem de fato ouvidos. Bem olhos nos olhos!

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Você gosta mais de mim ou do meu irmão?

Óleo na pista, e todo cuidado é pouco nessa que é outra das conversas difíceis com filhos.

Já disse aqui no blog que sou filho único, motivo pelo qual nunca entendi bem a dinâmica entre irmãos. Mas deu no que deu: hoje, sou pai de dois meninos. Justamente por isso terei que lidar com essa dúvida existencial.

De novo, a transparência deve ser o peso e a medida. Porém, sabemos todos que um pai ou mãe com alguma preferência dificilmente externará essa condição. No meu caso, não tenho de momento esse problema.

“Eu não me sinto sendo um pai para você e outro para o seu irmão. Até porque daria muito trabalho essa vida dupla, como a dos super-heróis. 😉 O que tento te dizer é que não sinto mais ou menos por cada um de vocês. E se um dia acontecer de algo de ruim entre mim e um de vocês, terei então que descobrir como isso afetará ou não os meus sentimentos”.

Você e mamãe brigaram, mas o que aconteceu?

Essa talvez seja uma das conversas difíceis com filhos mais delicadas de ter. Porque ela é resultado de abalos sísmicos na relação a dois que fazem tremer o chão dos filhos.

Um casal que briga ao ponto de os pequenos fazerem esse questionamento aos pais não está bem, razão pela qual tem o desafio adicional de situar os pequenos.

Nesse caso, minha reposta é mais ou menos assim:

“Sim, nós discutimos, o que é diferente de brigar. As brigas acontecem quando duas pessoas se machucam fisicamente. Por isso, no nosso caso, eu e a mamãe estávamos conversando. Quando conversam, os adultos não pensam as mesmas coisas muitas vezes. Isso é natural entre as pessoas porque é uma discussão, não uma briga. E vamos ficar mais atentos para que você não precise escutar essas conversas chatas de adultos. Desculpe.”

Por que você não é tão legal quanto a mamãe?

Ah, há milhões de razões para isso acontecer. rsrsrsr Mas é uma pergunta muito reveladora porque denota a capacidade das crianças de verbalizar percepções. Além disso, põe em evidência o fato de as relações humanas não serem idênticas.

Eu posso amar meus pequenos como a mãe deles faz. Só não tenho o direito de supor que esse amor será recebido da mesma maneira. Quando se trata de pessoas, nada é garantido. E tudo bem, sem crise. Por isso, eu direi o seguinte:

“Antes de eu responder, gostaria de entender melhor primeiro por qual razão você acha isso. Pode me dizer o que o seu coração está sentindo?”

Sinceramente, um dos erros mais recorrentes de nós pais e mães é achar que devemos ter sempre as respostas. E muitas vezes nem ouvimos antes. No entanto, crianças são ótimas em tirar boas conclusões também.

Para mim, a melhor solução para esse papo difícil com os filhos é pedir para eles falarem dos sentimentos. Ou seja, ouvir antes de tirar conclusões.

Você é um mau pai por quê?

Essa pergunta é uma derivação da anterior, mas piorada. Nesse caso, o(a) filho(a) demonstra estar mais consciente dos seus sentimentos. Ou seja, acha que não é uma questão de o pai ser mais ou menos do que a mãe, mas de ser ruim mesmo.

Por isso, nesse caso eu tentarei não só ouvir, mas pedir desculpas de cara. Mais ou menos assim:

“Eu sinto muito por você ter impressões que te levam a sentir que sou um mau pai. Mesmo porque isso deve incomodar o seu coração, além de pesar no peito. Por isso, quero entender melhor o motivo de achar isso de mim. Você consegue e quer contar?”

Essa talvez seja a minha abordagem quando esse dia chegar. E realmente tentarei ser ouvinte e sincero para ver se juntos, meu(s) filho(s) e eu, conseguiremos chegar a um porto seguro.

Me deixa sozinho(a) agora?!

Isso é um pedido, e não uma dúvida. E se é um pedido de privacidade da criança, precisa ser respeitado. Mas como pais e mães, podemos tentar entender os motivos que levam a essa vontade de privacidade dos filhos.

Eu lido mais ou menos assim:

“Sim, eu te deixo sozinho. Mas, antes, gostaria de entender o motivo, você pode contar para mim? Tem alguma coisa ou alguém te chateando para você querer ficar sozinho(a)?”

E tudo bem se os filhos não quiserem se abrir no exato momento dessa pergunta. Até porque eles ainda estão aprendendo a lidar com os sentimentos na infância. Por isso, perguntas complicadas aos pais são tão naturais.

O certo é que em algum momento, pode ser horas depois ou no dia seguinte, eles conseguirão dar uma resposta mais elaborada.

Eu não quero ir. Posso ficar em casa?

Um dos maiores desafios da paternidade é o de nos colocarmos no lugar das crianças. Porque nossa tendência é querer fazê-los entender, sem escutar sua versão. Dessa maneira, podemos muitas vezes atropelar desejos e sentimentos, sem ter boas conversas difíceis com os filhos.

Isso acontece, por exemplo, quando tudo está pronto para um passeio programado e os filhos pedem para não sair no último momento. A atitude pode parecer birra ou afronta, mas e se for mais do que isso, ou seja, um desejo sincero?

Nessas situações, uma conversa poderia seguir assim:

“Querido(a), você consegue me explicar o motivo de querer ficar em casa? Lembra que a gente queria muito fazer esse passeio? Por isso, o papai está aqui para tentar entender. Agora, se nós não sairmos agora vamos perder a hora. Você pode me dizer o que está acontecendo?”

Papai, eu sou menino. Posso passar o batom da mamãe?

Se todas as conversas difíceis com filhos fossem fáceis como essa… Convenhamos, nosso tempo já não deveria permitir polêmicas desse tipo entre pais e filhos. Embora, claro, precisemos superar muitas bobeiras ainda na sociedade…

Uma resposta muito aberta, atual e fácil de entender seria:

“Lógico que pode. Primeiro, vamos perguntar para a mamãe se ela empresta para a gente. E se ela emprestar, a gente passa juntos para ver como ficamos. 😉 Agora, só uma coisa: crianças não precisam de batom ou de maquiagem. Então, a gente vê como fica, mas depois devolve. Pode ser?”

A infância é uma curiosidade sem fim. Além disso, o desenvolvimento da identidade de gênero é um processo. As crianças podem não se identificar com o seu sexo biológico (genital com a qual nascem), desconforto chamando pelos especialistas de disforia de identidade de gênero. Por que então limitar isso por causa de preconceitos ultrapassados?

Até porque não é um batom ou outra coisa que vai definir a orientação sexual ou a identidade de gênero dos nossos filhos.

Você é gay?

Sou o típico brasileiro privilegiado: branco e heterossexual. Portanto, não tenho lugar de fala para responder como um pai homossexual responderia.

Mas posso fazê-lo, sim, da perspectiva de uma figura paterna de uma relação convencional segundo os esteriótipos sociais.

Nesse caso, minha resposta seria:

“Não, meninos. Não sou gay. E, se fosse, o melhor jeito de dizer seria homossexual. Mas não é isso o que importa. Por mais que digam o contrário, eu ou sua mãe poderia sentir a vontade não ficar mais junto e viver com uma outra pessoa do mesmo gênero. O que não mudaria o nosso amor por vocês. Quando gostamos de alguém, o que importa é esse alguém, e não se é menino ou menina, por exemplo.”

Esse seria o início da minha conversa, que obviamente exigiria toda uma contextualização. Afinal, uma coisa é o que dialogamos em casa, outra, o que se discute fora dela.

E para nos ajudar a todos nesses papos com os filhos, deixo aqui o link para o Manual de Comunicação LGBTI+, da Aliança Nacional LGBTI e da Rede GayLatino.

Homens podem gostar de homens e mulheres de mulheres?

Sim, e que sejam muito felizes.

Essa é a minha resposta muito direta para essa pergunta muito fácil de responder.

Ponto.

Aliás, essa questão só está aqui porque para muitos pais ainda representa uma das conversas difíceis com filhos. Mas não deveria.

Quem é deus?

Eu talvez não seja o pai mais indicado para responder essa. Pelo menos, não em um país em que 50% dos brasileiros dizem ser católicos, enquanto 31% se consideram evangélicos e apenas 10% não têm religião. Isso, segundo pesquisa do Datafolha.

A primeira coisa que meus filhos precisam saber é: eu sou ateu. Atire a primeira pedra se quiser, mas, até onde eu sei, ainda tenho esse direito, apesar do Brasil de hoje.

Portanto, minha reposta a essa pergunta difícil dos filhos seria:

“Para muitas pessoas, deus é um ser muito poderoso que consegue estar em todos os lugares, saber de tudo e ver e escutar tudo. Eu não acredito nisso, meninos, porque acho que ninguém tem essa capacidade. E até teria pena de quem pudesse viver assim. Agora, isso é o papai pensa, embora não seja o que vocês precisam pensar. Muitas pessoas, por exemplo, acreditam em religiões e se sentem melhor por terem um deus em suas vidas.”

Ou seja, não é um tema fácil para explicar à molecada. Mesmo assim, penso que a base tem que ser a transparência. Por isso, se você é religioso(a), tudo bem compartilhar isso. Para muitos pais, é preciso ensinar religião para os filhos.

No entanto, use a sinceridade para dizer que a sua religião não é a única entre outros credos. E que inclusive há pessoas que não acreditam em deuses. 😉

Você vai morrer um dia?

A vida é realmente caprichosa, uma vez que nos proporciona maravilhas, como os filhos, mas com data de validade. A nossa despedida de tudo é coisa certa, além do fato de que ninguém nos diz quando isso acontecerá.

Se isso já é grande demais para a nossas cabeças, imagine então para as dos nossos filhos. Por isso, é muito natural eles quererem saber se os pais, que deveriam ser heróis invencíveis, vão morrer. A minha resposta, nesses tipos de conversas difíceis com os filhos, é:

“O papai e a mamãe não são invencíveis. Nós temos muito poderes, somos capazes de muitas coisas, mas não conseguimos parar o tempo. E ele passa muito rápido, principalmente quando a gente se diverte. Daqui a alguns anos, por exemplo, eu a mamãe ficaremos como o vovô e a vovó, de cabelinhos brancos. E vai chegar uma hora em que precisaremos descansar de verdade. Mas antes de isso acontecer, que tal a gente brincar?”

Claro que devemos explicar que podemos morrer antes mesmo de ficarmos idosos. Porém, o ideal é falar uma coisa de cada vez sobre vida e morte para não confundir a molecada.

O universo vai acabar?

O Artur já me perguntou essa, e não gostou muito da resposta. Afinal, também aqui precisamos ser sinceros, assim como em outras questões. Quando penso na cabecinha de uma crianças, tão cheia de sonhos, ouvir sobre as maluquices do nosso universo não deve mesmo ser fácil.

A cosmóloga Katie Mack até disse recentemente, à BBC News, que “é libertador saber como o universo vai acabar“. Ela não pode cravar, na verdade, como isso acontecerá, mas tem uma grande suspeita: a inflação cósmica. Ou seja, a expansão continuada do universo levará ao esfriamento de tudo e à sua possível “morte”.

Por isso, eu digo o seguinte a essa dúvida (até com palavras difíceis para enriquecer o vocabulário da molecada) 😃:

“O universo é infinito, mas não sabemos se é perene. Alguns cientistas acham que ele vai, sim, acabar. Quando isso vai acontecer, no entanto, é ainda mais difícil de prever. A aposta dos cientistas é de que deve ser somente daqui a MUITOS anos. Até lá, que tal a gente brincar lá fora?”

O que é morrer? E o que acontece?

Outra das conversas difíceis com filhos. Principalmente porque tentamos não falar da morte na nossa sociedade, o que é um equívoco. No México, por exemplo, o Dia dos Mortos demonstra como a relação com esse tema pode ser bem diferente. Aqui, a ideia de desaparecer e de deixar a todos incomoda muita gente.

Uma pesquisa solicitada pelo Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (Sincep) e realizada pelo Studio Ideias mostrou que 73% dos entrevistados consideram esse assunto um tabu.

Imagine então conversar com os filhos sobre a morte… Em todo caso, a minha resposta será essa:

“Veja, a morte é um processo da vida. Uma flor, por exemplo, nasce da semente, brota, mostra toda a sua beleza… E depois precisa descansar. A mesma coisa acontece com outras espécies na natureza. A morte, portanto, faz parte da vida. Agora, ninguém sabe exatamente o que acontece. Aliás, essa é uma ótima pergunta a gente fazer quando encontrarmos um cientista. O que acha?”

Esse é realmente um assunto bem desafiador para ter com os pequenos.

Pode ser um bom início de conversa para acalmar e também não pressionar os filhos.

Agora, pense nos filhos: como contar algo difícil para os pais?

Falamos até agora de como podemos ter conversas difíceis com as crianças. Mas e se eles pensarem o seguinte: como contar algo difícil para os pais?

Nesses casos, o nosso papel é simples:

Precisamos escutar os filhos, em vez de só falar.

E essa pode não ser a tarefa mais fácil da parternidade e da maternidade. Afinal, como adultos, estamos acostumados a só despejar palavras de ordem nas crianças.

Mas quando elas se perguntam “como contar algo difícil para os pais”, aí não tem jeito. Nossas melhores escolhas, nesses casos, são:

  • Abrir o coração;
  • Largar os preconceitos no momento;
  • Escutar ativamente;
  • E acolher.

E só depois disso botamos a cabeça para funcionar e continuar fazendo boas escolhas como pais e mães para transmitir segurança aos filhos. 😉

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