Teto de vidro

Muitas expressões populares são ótimas para resumir o que levaríamos horas explicando. Com poucas palavrinhas, elas simplificam assuntos cabeludos da vida. E um deles é o teto de vidro. Todos temos um, Artur.

Mas não é o teto da nossa casa ou o vidro do copo de água. Na língua portuguesa, muitas coisas são menos literais do que parecem.

O que é muito bom para exercitarmos a nossa capacidade de “ler nas entrelinhas” – essa também é uma expressão (ou metáfora) muito boa sobre questões muito maiores do que ela. 😊

Teto de vidro na infância

Mas o que é um teto de para uma criança? Tenho um exemplo bacana para explicar, Artur:

— Artur, está na hora de escovar os dentes. Aliás, já passou da hora!

— Mas, papai, você também não escovou…

— (…).

Pois é, Artur. Falar dos outros é um esporte universal entre adultos. A Copa das Copas. Uma modalidade em que somos todos craques, técnicos e comentaristas. Sem esquecer, claro, que também fazemos muito barulho da arquibancada, inflamando o espetáculo.

Coisa de fanáticos. Todos sabemos jogar, mesmo sem regras definidas. E talvez essa seja a graça da coisa: isso de ser um campo aberto em que cada um faz o que quer com o único objetivo de atirar a primeira pedra. Do tipo queimada de rua no modo hard.

Ou seja, vence quem atingir mais oponentes, em uma disputa frenética e viciante. Como uma guerrinha de mamona com palavras afiadas, para você conseguir imaginar.

Desde os nossos antepassados

Você não precisa de escolinha, muito menos treino. Está no sangue, como foi com os nossos antepassados à medida que eles desenvolviam a técnica de atirar a primeira pedra.

Tampouco importa onde você vai jogar, se na escola, em casa, no trabalho ou nas redes sociais. Essa é uma atividade para todas as horas, faça chuva ou faça sol.

— Artur, a sua mãe já pediu para você guardar os seus brinquedos.

— Páápááííí… Mas você deixa os seus sapatos fora do lugar, né?!

— (…).

Assim mesmo, Artur: eu levanto a bola, e você cabeceia! Viu como está aprendendo? Falar dos outros tem lances memoráveis, como o gol que virou placa.

Ou o saque que vai às estrelas.

https://www.youtube.com/watch?v=Xy-xitbcoFs

É um esporte de muita emoção, entrega e até choro, quando a emoção transborda. E como em toda modalidade, o objetivo é superar o oponente. Finish him.

As fraquezas de todo campeão

Como faz?! Fácil de tudo: mire bem nas fraquezas, onde mais dói. Mas, atenção: de tanto jogar, você, assim como todo mundo, acaba se arriscando sem uma cobertura que te proteja. E quando acha que tem uma, esquece que ela é frágil, como um teto de vidro.

Todo campeão tem suas fraquezas. Muhammad Ali já foi encurralado nas cordas e derrotado.

https://youtu.be/xy0EdO-1Cas

Até Bobby Fischer teve seu rei destronado mais de uma vez.

Por isso, com você não é nem será diferente, Artur, por mais que se considere um vencedor. Afinal, todos temos um teto de vidro só nosso, como as digitais que levamos nos dedos.

Mas o seu teto de vidro é mais ou menos frágil dependendo da sua soberba, do quanto pensa estar protegido das pedradas alheias. Minha sugestão: não subestime a força do impacto.

Ou seja, o vidro faz que protege, mas trinca e quebra como uma casca de ovo. Nesse esporte de falar dos outros, ninguém sai do jogo sem perder pontos.

Isso é teto de vidro. 😊

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