A paciência com os filhos é um dos principais desafios do milhão (ou micão) da maternidade e da paternidade, e que tem suas origens sendo estudadas pela ciência. Os especialistas até dão algumas dicas que podem ajudar na melhor relação com os pequenos.
Porque assim como dizem que o diabo mora nos detalhes, ter paciência e menos ansiedade com os filhos é como dar remédio a eles: é no conta-gotas, de pouquinho em pouquinho.
Por isso, vamos tentar entender juntos neste post como podemos desenvolver e exercitar essa qualidade tão necessária para mães e pais na boa relação com os filhos.
E isso exige muita disciplina e dedicação de todos nós. A dedicação, por exemplo, de nos ajoelharmos e olharmos nos olhos deles. Mesmo nas situações mais caóticas e sem controle, como quando teimam em não ir embora quando já é hora.
Também é a calma especial de esperar até que eles se sintam à vontade para compartilhar sentimentos que sequer sabem ainda reconhecer e contar.
Essa paciência requer zelo, entrega autêntica e consciência de que a molecada precisa de pais pacientes. Ou seja, tablets na mesa de jantar, celulares no carro ou outras decisões fáceis não adiantam. Não salvam as nossas peles.
De onde vem a paciência com os filhos?
Boa pergunta. Para tentar entender isso, precisamos voltar ao tempo dos primatas. Ou seja, às nossas origens porque cada vez mais pesquisas desvendam os mistérios da paciência – a mesma que precisamos na paternidade e maternidade mais ativas.
Cientistas estão descobrindo, por exemplo, que chipanzés (Pan troglodytes) e bonobos (Pan paniscus) também conseguem ser pacientes – ou esperar pela recompensa, como a ciência define ser paciente.
Ou seja, não somos os únicos animais a ter essa capacidade.
O contexto da paciência nos chipanzés e bonobos, segundo a pesquisa As origens evolutivas da paciência humana: preferências temporais em chimpanzés, bonobos e adultos humanos, seria esse:
- Os animais participantes do estudo podiam escolher entre uma recompensa pequena e imediata (duas metades de uva) e uma recompensa maior e não imediata (seis metades de uva);
- Os macacos tomaram decisões em intervalos mais longos do que outros animais. E os chipanzés tendem a ser mais pacientes do que bonobos;
- Os chimpanzés habitam ambientes em geral com menos disponibilidade de comida, o que não acontece com os bonobos;
- Nós humanos somos menos propensos a esperar por recompensas alimentares do que os chimpanzés;
- Nós temos mais paciência por recompensas monetárias do que por comida. Ao pedirem para as pessoas do estudo escolherem entre dez dólares em 30 dias e 11 dólares em 31 dias, os cientistas viram que a maioria prefere a recompensa maior.
Carregamos dentro de nós a habilidade de dar tempo às recompensas, justamente o que o convívio do dia a dia exige de todos nós em várias situações.
E tem convívio tão intenso quanto o que temos com a molecada?
O teste do marshmallow: novas descobertas!
Você já ouviu falar do experimento do marshmallow? Agora que sabemos um pouco mais como desenvolvemos a capacidade de ser pacientes e de ter autocontrole, devemos conhecer melhor esse tal teste do marshmallow.
Na década de 1960, o psicólogo Walter Mischel e alguns dos seus alunos na Universidade de Standford pediram a crianças da pré-escola da Bing Nursery School, na mesma universidade, que tomassem uma decisão muito difícil:
Imagine-se diante desse dilema! O que você faria?!
Os resultados do estudo seriam uma prova de que “o autocontrole das crianças em idade pré-escolar, ao retardar a satisfação na expectativa de mais guloseimas, é um previsor tão poderoso do sucesso e do bem-estar futuro“.
O impacto desse estudo foi grande:
- Mudou matrizes curriculares em escolas nos Estados Unidos;
- Influenciou processos de contratação em instituições financeiras;
- E gerou inúmeros debates e pesquisas subjacentes.
E uma delas, aliás, contesta justamente o ponto central do experimento do marshmallow.
A força de vontade por não ser chave do sucesso
Mischel tentou mostrar que o autocontrole (ou também a capacidade de retardar a satisfação imediata) seria o segredo do sucesso na vida adulta.
Porém, uma nova pesquisa se contrapõe a isso: retardar a gratificação, na infância, não define tanto seu futuro como o experimento do marshmallow quis sugerir.
Isso porque existem questões e forças mais significativas – e bem repetitivas na vida – que nos impedem de, realmente, sermos o mais pacientes possível.
Você pode ler uma matéria bem completa sobre essa nova pesquisa (uma replicação do teste original) na Vox.
Mas o resumo é: a relação entre ser paciente e ter melhores resultados na vida é muito mais complexa do que se pensava anteriormente.
Como as crianças lidam com a paciência no começo?
Já a pesquisadora Pamela Cole, professora de psicologia na Penn State University, descobriu com um estudo que as crianças, no começo da vida, reagem de formas diferentes à espera por algo.
Dos 18 meses aos 2 anos de idade
Nessa faixa etária, as crianças participantes do estudo demonstraram raiva mais rapidamente e demoraram mais para desviar a atenção do objeto que desejavam.
3 anos de idade
O tempo passa, e as coisas mudam. Por isso, a partir dessa idade, segundo a pesquisa, as crianças começam a se distrair com mais facilidade, antes mesmo de demonstrarem raiva por não terem o que querem.
E mesmo nos casos em que esse sentimento surgiu, a intensidade foi menor.
4 anos de idade
Nessa faixa de idade, as crianças começam a pôr em prática uma habilidade muito humana: a barganha.
Isso mesmo: ao se verem privadas do que desejam, elas fazem propostas antes de se irritarem e de se distrairem por outra coisa.
A paciência com os filhos começa nos pais
Pai que não tem paciência com os filhos… O pai que estoura… Os pais que perdem a linha… Chegar ao ponto de perder a paciência com as crianças é o que gostaríamos de evitar sempre.
Mas o sempre é impossível, convenhamos.
Sim, uma outra pesquisa demonstrou que crianças que crescem entre adultos pacientes têm uma série de vantagens:
- Crianças de famílias mais tranquilas são mais saudáveis;
- Têm melhor saúde mental;
- Desenvolvem melhores habilidades de relacionamento;
- E tendem a ter mais facilidade para alcançar seus objetivos.
Parece óbvio, mas quem se arrisca a dizer que proporciona de fato um mar de calmaria para os filhos?
Eu não arrisco, afinal a vida não é preto no branco. Muito menos paz e a amor apenas.
E toda família tem seus altos e baixos, por mais que tentemos ser o mais equilibrados possível. Quem consegue ser isso, verdade?!
Como, então, ajudar os filhos a desenvolverem a paciência?
Se os pequenos demonstram diferentes habilidades de autocontrole de acordo com a idade, precisamos saber como ser úteis para eles mais corretamente.
Pamela Davis-Kean, professora de psicologia da Universidade de Michigan, tem algumas dicas.
Menos de 2 anos de idade
Com pequenos nessa faixa, podemos ser mais claros e diretos (e empáticos, claro!). Por exemplo:
- — O papai está no telefone. Nessas horas, você precisa esperar.
- — Não interrompa quando alguém estiver falando.
4 anos
Aqui, podemos completar as orientações com outras distrações. Alguns exemplos:
- — Nós não vamos embora ainda porque não terminamos de almoçar. Mas que tal você colorir esse desenho? (aliás, esse é um ótimo exemplo para quando estamos em restaurantes)
- — Eu sei que você quer mais um pedaço de bolo. Vamos brincar e depois comemos?
A partir dos 5 anos
Já mais acostumados aos relacionamentos e a diferentes situações (principalmente por causa do convívio na escola), as crianças já podem receber explicações mais elaboradas de como lidar com a paciência:
— Filho(a), aqui nós não podemos pegar nas coisas porque os donos da loja não gostam.
— Hoje não vamos ficar até mais tarde porque combinamos com a vovó de almoçar com ela, lembra? E lá, na casa dela, também vamos brincar bastante.
Nosso desafio como pais: criar memórias, não expectativas
Dicas práticas para explicar a paciência às crianças
Isso é muito importante: tentar explicar o bê-a-bá da paciência para os filhos porque é um processo fundamental para aprenderem a ser pessoas mais calmas e empáticas em meio ao caos.
Precisamos lembrar:
- Os filhos estão em constante desenvolvimento, assim como suas emoções;
- Daí a necessidade de ajudá-los a entender melhor o que é ser paciente.
Dar o exemplo às crianças
Como desejar filhos pacientes se nós mesmos não o somos?
Ou seja, o primeiro passo para ensinar a paciência para os pequenos é dar o exemplo (quem sabe nossas vidas até melhorem por esse bem maior de apoiar a molecada…).
Sem um ponto de referência, eles dificilmente desenvolverão a habilidade de esperar pelo que desejam, concorda?
Jogos em família: diversão com paciência
Essa é fácil (ou não, caso tenha filhos maiores impacientes com os menores – e vice-versa!).
Sim, os jogos de tabuleiro, por exemplo, são uma ótima ferramenta para ensinar a paciência às crianças.
Afinal, os jogos de tabuleiro são feitos de rodadas e cada jogador tem que esperar pela sua.
Parece estranho isso de ensinar a paciência, mas até ela se desenvolve melhor com exercícios práticos, como as brincadeiras em família.😉
Reconheça a dedicação dos pequenos
Precisamos, como pais, dar sinais também de que percebemos, reconhecemos e valorizamos os esforços dos nossos pequenos em ser mais pacientes.
Pois é, quem disse que seria fácil?!
Um exemplo simples: as deliciosas sobremesas. Quantos de nós, assim como os pequenos, comemos pensando, na verdade, na sobremesa?
Na cabeça da molecada, a vida deveria começar pela sobremesa. 😉
Por que então ter de passar antes por pratos enormes ricos em verduras, legumes e outros alimentos nutritivos que papai e mamãe tanto teimam em “requentar”?!
Portanto, se a molecada devorar seus pratos sem nem perguntar pela sobremesa, reconheça. Ou se enfrentarem os intermináveis e desequilibrados almoços de domingo de família sem pedirem para descer desse trem desgovernado…
Paciência com os filhos, portanto. Com as suas CRIANÇAS….
Sim, estamos falando de crianças. Das nossas crianças. E de como precisamos devemos ter paciência com os filhos.
Eles e elas contam com a gente para isso.
Assim como para um montão de outras coisas. Vamos lembrar: nós somos a sua referência, os adultos (mesmo que machucados e defeituosos) com os quais eles podem realmente contar.