Coceira de pensar que dá coceira

Os mosquitos, Artur, te adoram. E, ingratos que são, deixam picadas vermelhas e inchadas que resistem por dias. Você as cutuca incomodado, lógico, mas há algo bom nisso. Explico: a coceira tem história boa a contar apesar dos maus modos, como um estranho sem muito jeito na fila ou no ponto de ônibus.

Você precisa saber que a coceira nos acompanha desde quando vivíamos ao relento ou em cavernas com medo da natureza. Ela – a coceira – era uma amiga protetora.

Quer dizer: ninguém precisa aprender a se coçar. É uma ação instintiva, tão natural quanto respirar. Por isso os cientistas acreditam que a coceira, que existe em praticamente todos os vertebrados terrestres, seja um mecanismo de defesa – para que os animais aprendam a detestar, e evitar, picadas de insetos e outros agentes irritantes.

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Não mudou nada após séculos nos esfregando e cutucando porque nos damos conta, desde pequenos, como você hoje, que a coceira pede a reação imediata de coçar, não por ela ser chata, mas porque ali exatamente onde coça pode estar um inseto, como um mosquito, fazendo o que não deve na nossa pele.

Se coçar te faz pensar no maldosos que são os mosquitos, pensar também dá coceira. Duvida? Imagine então, Artur, você sentado sobre a grama de um jardim, onde perambulam formigas e voam siriris… Deu uma coceirinha, não?

Como parte de um estudo, um professor alemão de medicina psicossomática fez uma palestra em que, na primeira metade, exibia uma série de imagens evocando a coceira, mostrando pulgas, piolhos, pessoas se coçando etc. e, na segunda metade, imagens mais benignas, como penugem macia, pele de bebê, pessoas na água. Câmeras de vídeo registraram a plateia. E, é claro, a frequência da coceira entre os presentes aumentou muito durante a primeira metade, diminuindo na segunda. Pensar causa coceira.

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Tem outro pensamento que talvez te dê também muita vontade de coçar: afinal, o que nos dá coceira? O que nos motiva a seguir em frente, se já começamos o jogo sabendo que ele terá, como fim, o nosso desaparecimento, gostemos ou não? Puf!, e a Terra continuará vagando no espaço sem mim, sem sua mãe, sem você.

A minha tentativa, Artur, é te ajudar a se situar neste mundão, o que só posso fazer se falarmos sobre questões difíceis, além das amenidades do dia a dia. Não é fácil porque há muitas respostas para diferentes perguntas – mas que, por sorte, darão substância a muitos outros posts.

O que adianto é que se coçar de pensar é essencial. Isso nos ensina a filosofia, desde Tales, XenófanesPitágoras e outros na Grécia Antiga, e a própria convivência com as pessoas. Você notará com o tempo que as mais interessantes se coçam muito, uma mania que, suponho, você gostará de cultivar.

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