Você me perguntou onde estava o furacão da vez (ou ciclone tropical), batizado de Irma e sobre o qual tanto falavam na internet e na tevê.
Respondi que já não estava em lugar nenhum porque perdera força e se tornara o que chamam de tempestade tropical, nome que mais confunde do que convence porque sugere paisagens lindas de litoral refrescadas por tormentas passageiras, em vez de dias cinzentos de nuvens chorosas no céu.
Você insistiu.
— Mas onde está o furacão?!
Desisti da ciência, apelei ao coração.
— O furacão, Artur, chega e vai embora. É passageiro, como muitas coisas.
— (…).
Seu olhar de incredulidade e o interesse instantâneo por outra distração me levam a crer que falhei. Olimpicamente.
Tento de novo. Furacões são pura força da natureza, mais energia em um dia do que a explosão 500 mil bombas atômicas. Irma nasceu no mar, alimentou-se de suas águas, ganhou energia e girou impiedosa por onde passou, deixando um rastro de destroços e sentimentos rotos.
Para, em seguida, expirar. Uma vida curta, intensa, devastadora como muitas. Nisso, furacões talvez inspirem as figuras mais abomináveis da humanidade, que mesmo em sua curta passagem pela Terra varrem vidas.
Furacões são também uma correspondência do que acontece bem dentro de nós, Artur. Tome por exemplo as rajadas de sentimentos, o estrondo fugaz da felicidade e o tremor silencioso, mas intenso, da tristeza passando, mesmo que se sinta protegido.
Não podemos com essas forças, como uma casa bem fincada descola do chão com a Irma. Sucumbimos, como sucumbem pontes, viadutos e cidades inteiras. Você entenderá minhas palavras quando sentir a sua primeira paixão, fizer a sua primeira viagem sozinho ou perceber intimamente a beleza de um pôr do sol. O que vier primeiro.
Os furacões vêm e vão. Destroem, para a gente reconstruir. Você terá as suas próprias temporadas de furacões, que batizará como bem quiser. E a única opção é deixar vir, sentir o giro das coisas e recomeçar depois.
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