Você só começa a entender um pouco da vida se olhar no detalhe. Não de dentro de um carro ou de fora de uma janela, mas do centro.
E no centro sempre tem uma praça com banco surrado para você se sentar. Sinta-se à vontade, acomode o tronco e olhe à sua volta. O centro atrai a diversidade, aglutina pessoas de todas as caras, peles, texturas e sentimentos estampados em rostos desconhecidos mas familiares porque todos os rostos são expressões de nós mesmos.
Mastigue algo se der fome, alimente as pombas e deixe o tempo passar. Faça do banco de praça o seu posto de fronteira mais avançado, onde você também é um estrangeiro a quem te olha do outro lado, como a senhora desacompanhada e de cara amarrada ou o jovem apressado que alisa o cabelo enquanto olha interessado a menina vindo no sentido contrário ou ainda a mulher de meia idade irritada com quem parece ser seu marido, um homem de ombros largos e corpo curvado.
“Era em todas estas coisas que ele pensava quando desejava uma cidade. Assim Isidora é a cidade de seus sonhos: com uma diferença. A cidade sonhada continha-o jovem; a Isidora, chega em idade avançada. Na praça, há o paredão dos velhos que veem passar a juventude; ele está sentado ao lado deles. Os desejos são já recordações.”
Italo Calvino, em As cidades invisíveis
Tudo é mais nítido no centro. Sentado no seu banco de praça, você verá detalhes que não enxerga da mureta, onde a maioria prefere ficar. Dá para perceber cicatrizes nas pessoas, linhas de expressão da idade e até golas puídas, sinais de que somos todos feitos das mesmas imperfeições.
O centro é o melhor lugar para você estar. E se sentarem ao lado para puxar assunto, dê ouvidos por curiosidade para que a sua solidão se acalme com a dos outros. É verdade o que dizem de precisarmos de conexões, de não sermos ilhas isoladas no oceano distante da margem.
Quando der a sua hora, levante-se simplesmente e caminhe sem olhar para trás. Os detalhes que terá visto sentado no banco de praça no centro vão entrar na sua cabeça como ar limpo nos pulmões, renovando seus sentimentos mais sensíveis.