A dinâmica é mais ou menos esta: você trata as pessoas com respeito e elas, em retorno, fazem o mesmo. É do contratualismo, uma tentativa coletiva de mantermos ligadas as conexões da vida em sociedade.
E sempre falha. Não há algoritmo, software, inteligência artificial, robô ou mandinga que resolva. Nada pode com as idiossincrasias humanas, tanto densas quanto levianas.
Ao que você questiona:
— Pois bem, vejamos se entendi. Trato bem a arquibancada, e pode que ela me devolva em vaias?! Não faz sentido…
Não, não faz, Artur. Nem um pouco. Nunca fez nem fará. As conexões falham porque há destas pessoas que pouco se importam, por mais que estejamos há séculos fiando e tecendo a trama social, como os povos da Ásia bem fazem com seus tapetes, desenrolando novelos sem fim e enfeitando o tecido com detalhes delicados de cuidar.
E conexões falhas interrompem o fluxo natural das coisas. Dá curto. O “Bom dia” não ouve eco, o “Eu pego para você” fica sem o “Obrigado”, e de falha em falha deixamos de lado a cortesia para cultivar a pura e destilada avareza. Não a da grana, mas a do espírito amargo, que é a mais desagradável de engolir.
O que fazer então, você deve se perguntar. Minha sugestão: comece pela observação e tome notas mentais dos comportamentos que se repetem, como a irritação de todas as manhãs muito comum nas pessoas. Se você perceber coisas do tipo, saberá prevenir ou lidar com os curtos-circuitos.
Tente se colocar no lugar do outro ou, como bem se diz em inglês, put yourself in someone else’s shoes. Muito da agressividade alheia começa a fazer sentido quando tentamos entender as circunstâncias a que cada um está submetido, um esforço nobre e autodidata de autêntico altruísmo.
O sol é para todos, filme de Robert Mulligan
Acontece também de muitas pessoas se protegerem atrás de cercas eletrificadas que elas mesmas erigem e que são outra causa de curtos-circuitos no sistema quando nos aproximamos mais do que gostariam. Você vai tomar choques se for incapaz de perceber seus limites em cada relação e não recuar antes de encostar no cercadinho eletrificado do outro.
Por último, não espere receber de volta a mesma condescendência, acolhimento ou altruísmo que dedicar às pessoas. Assim como as vaias da arquibancada, que vêm por mais que jogue limpo e bonito, pode acontecer de você dar graça e receber grosseria.
Tente agir por você mesmo, sem esperar nada em troca. Quando acontecer, celebre e agradeça. E se for o aposto, absorva, reflita e siga em frente. A dinâmica é esta mesmo: você trata as pessoas com respeito e elas, em retorno, fazem o mesmo.
Até que falha.
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