existência Arquivo - O que você falou? https://oquevocefalou.com.br/tag/existencia/ Um blog sem licença-paternidade Sun, 25 Nov 2018 11:59:15 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.5 https://oquevocefalou.com.br/wp-content/uploads/2019/03/cropped-o_que_voce_falou_favicon-2-32x32.jpg existência Arquivo - O que você falou? https://oquevocefalou.com.br/tag/existencia/ 32 32 Significado da morte https://oquevocefalou.com.br/significado-da-morte/ https://oquevocefalou.com.br/significado-da-morte/#respond Sun, 25 Nov 2018 11:59:13 +0000 http://oquevocefalou.com.br/?p=7849 Não sei bem como escrever sobre o significado da morte para vocês tão pequenos, Artur e Bento. Justamente por isso direi de uma vez: ela nasce com a gente, meninos. Porque começamos a morrer no momento em que nos dão à luz, quando o ar que respiramos vai nos oxidando de pouquinho em pouquinho. ⏳ ...

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Não sei bem como escrever sobre o significado da morte para vocês tão pequenos, Artur e Bento. Justamente por isso direi de uma vez: ela nasce com a gente, meninos.

Porque começamos a morrer no momento em que nos dão à luz, quando o ar que respiramos vai nos oxidando de pouquinho em pouquinho. ⏳

Acontece assim, ponto. Comigo, com a mamãe, com vocês e com qualquer um. A morte nos acompanha a todo o tempo até o nosso último suspiro, momento em que ela, enfim, assume os afazeres para nos levar deste mundo sem pessoas imortais.

E é sobre isso que desejo falar com vocês. Já é hora.

A morte, portanto, é um etapa da nossa existência com a qual temos que conviver. Pode-se conviver melhor ou pior com ela. Mas não se pode evitá-la.

Um significado da morte

Sem a morte, não haveria vida. E vice-versa. Os antônimos se abraçam. Ou seja, talvez o único significado de morrer seja viver antes. Estar vivo é a razão de a morte existir, uma verdade que dá ainda mais significado à nossa presença neste planeta repleto de energia.

Por isso, meninos, tentem desde cedo desmistificar e encarar a sua morte.

— Como assim, papai???!!!

Ora, o jeito mais fácil de viver bem com a ideia de que um dia tudo acaba é aceitar essa condição humana desde cedo. E com um detalhe muito importante: ninguém sabe quanto tempo vai durar aqui.

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Pode ser uma vida curta que dure uma infância apenas, e isso acontece com muitas crianças infelizmente, ou pode ser que cheguemos até o adiantado de uma velhice prolongada. ⌛

A senhora morte não é má, ela só faz o que sabe e precisa fazer. Nós é que somos maldosos com nós mesmos muitas vezes, chamando-a antes do tempo porque esquecemos, em muitos casos, de fazer o que é certo.

Mas fora isso, fora os casos em que alguém age de maneira ruim com outra pessoa, o pior é ficar com medo na vida por uma coisa que é inevitável.

Aliás, vocês vão escutar muito isto: a morte é a única certeza que temos. Só ela tem esse mérito, e por isso é bom irem se acostumando com ela, respeitando-a como como merece. 😉

Ao acompanhar como psicóloga pessoas que enfrentam a morte, testemunho que aqueles que tiveram de algum modo um sentimento de continuidade lidaram melhor com sua morte.

Mortes sem significado

Agora que sabemos um pouco mais sobre um possível significado da morte podemos falar de mortes sem significado.

Elas sempre aparecem toda vez que deixamos a vida passar sem tirar o máximo dela, temendo um encontro precoce com o fim.

Se vamos morrer, que seja por muito bom proveito. Com intensidade e reverência à magia de estarmos vivos. Pensem: muitas variáveis se alinharam para vocês nascerem, meninos. Muitas mesmo. Por isso, desfrutem do momento sem pensar muito em que um dia tudo acaba.

Isso seria um desperdício de tempo e de oportunidade. A vida dura muito pouco, coisa de segundos mesmo, o que vocês precisam entender como uma urgência mesmo. Vivam cada instante como se fosse o derradeiro – o que de fato não deixe ser verdade.

Isso porque todo mundo entende o que aconteceu para que o Universo acabasse produzindo vida, mas ninguém entende por que o Universo nasceu “configurado” para permitir todas essas maravilhas. Parece uma sorte tremendamente grande.

A dona Morte

Mas se é para viver com intensidade, tampouco façam pouco caso dessa senhora. Ela está sempre por perto e só vai entrar em cena na hora certa, mas é bom não provocá-la.

Para que arriscar a saúde, por exemplo, achando que vocês podem tudo? Não é isso. Ninguém precisa cometer besteiras só para brincar com o que não deve.

Curtir os dias, as emoções e as experiências não tem a ver com colocar a vida em risco, ok? Façam a sua existência valer cada segundo, mas respeitem a senhora Morte, por favor.

Afinal, quando ela decide pegar a sua mão, aí não tem volta. Há casos de pessoas que dizem terem-na encontrado e voltado. Mas, além de raros, estes relatos me fazem pensar que talvez estas pessoas não tenham de fato encontrado a morte, apenas se agarrado fortemente à vida sem dar-lhe tempo de chegar.

A dona Morte é como um burocrata honesto: ela executará o seu trabalho sem aceitar subornos ou favores. Daí a certeza de que se vocês a chamarem antes do tempo, então melhor que estejam preparados para seguir suas ordens porque ela virá muito determinada.

No dia em que o matariam, Santiago Nasar levantou-se às cinco e meia da manhã para esperar o navio em que chegava o bispo.

A vida depois da morte

Meninos, nisso não acredito. Prefiro crer na finitude da vida. Começo, meio e fim, com créditos no final. E nada mais.

O nosso ingresso, que pegamos aos gritos na sala de parto, é para uma sessão apenas, gostem ou não do filme que passe diante de vocês.

É uma superprodução, com muitas aventuras, amores, desilusões, cenas tristes, heróis e vilões. Tudo de bom que a arte da vida pode apresentar. Mas acaba, com ou sem final feliz.

E depois da última cena a morte aparece para indicar a todos a saída da sala de projeção. Lembrem-se: todos nós precisamos liberar nossos lugares para quem vier nas próximas sessões. 🙂

 

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Ser especial https://oquevocefalou.com.br/ser-especial/ https://oquevocefalou.com.br/ser-especial/#comments Sun, 16 Sep 2018 14:54:11 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=7497 Perguntaram à atriz Miranda Hart do que ela mais se arrepende. A resposta é uma centelha que ilumina as mentes mais fechadas. E que tem a ver com a ideia de ser especial. “I wish I had deeply understood earlier in my life the loving truth that there is only one of me in this ...

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Perguntaram à atriz Miranda Hart do que ela mais se arrepende. A resposta é uma centelha que ilumina as mentes mais fechadas. E que tem a ver com a ideia de ser especial.

“I wish I had deeply understood earlier in my life the loving truth that there is only one of me in this world so therefore I am uniquely beautiful. I have so much compassion for any woman, young or old, who is hurt by the lie they are not beautiful or loveable enough. We all are.”

 

Como acontece com Miranda, existe apenas um de você, Artur, condição que te faz ser unicamente lindo. Essa é uma verdade poderosa, como o peso da água contra uma barragem.

Mas é preciso ter controle dessa água represada. Ela deve fluir para gerar energia positiva sem transbordar ou destruir a estrutura. Porque isso causaria uma inundação na sua cabeça levando junto a compreensão de que ser único é diferente de ser especial.

Ser especial como o floco de neve

Um Artur apenas no mundo é como um floco de neve que cai do céu e jamais se repetirá. Como ele, incontáveis flocos muito semelhantes atravessam a atmosfera até tocarem o chão, quando sua existência se liquefaz. E o aprendizado por trás disso é: um floco sozinho não faz a neve que recobre o inverno.

https://www.youtube.com/watch?v=WPvfhLDj0c8

O pior que pode te passar é você interpretar mal as palavras de Miranda e entrar para o grupo das pessoas que caminham pelo mundo deslumbradas consigo mesmas.

Este é o destempero da humanidade: que cada um se ache mais e melhor. Vemos isso no trânsito, na fila do supermercado, a toda hora, infelizmente.

— Logo, ao que parece, o Uno é diferente dos outros e de si mesmo, como é idêntico àqueles e a si mesmo. É a conclusão que talvez precisemos tirar do nosso argumento.

(…)

— Mas, no mesmo ponto em que o Uno diferir dos outros e outros diferirem do Uno, nisso mesmo de serem diferentes, não adquirem caráter diferente, porém idêntico. Ora, o que tem o mesmo caráter é semelhante, não é isso mesmo?

— Certo.

— Logo, pelo simples fato de ser o Uno diferente dos outros, terá de ser semelhante no todo, porque é no seu todo que ele se difere do todo dos outros.

É feio. É bobo

E se você observar com distanciamento as pessoas deslumbradas, sentirá vergonha alheia. Porque é feio, é bobo.

Quem se impõe por se considerar especial dá um espetáculo de mau gosto. Quando isso acontece, a história sempre tem fim melancólico. Na narrativa da vida, somos letras soltas no papel. E elas só ganham sentido quando se juntam para formar contextos e capítulos.

Você entende melhor isso agora porque está aprendendo a ler os textos e as pessoas. Com o tempo, aprenderá a interpretar, o que é uma habilidade muito humana essencial para encontrarmos o nosso espaço nas relações.

E ser nada?!

“O problema com a ideia do nada é que ela soa como algo negativo, em vez de algo que tem um significado muito positivo. Nós temos o conceito de ‘o eu’, essa entidade ligada à pele que tem uma história e se lembra de sua existência e identidade.

E então você diz ‘não-eu’, que percebe que o ‘eu’ é um tipo de ficção.

Ele é criado para nos guiar no dia a dia, mas realmente, fundamentalmente, não somos ‘eus’. Se dissermos ‘não’, isso soa como uma negação de algo, mas, na verdade, é uma ideia muito positiva.

A mesma coisa é verdade do nada. Não é como se fosse a ausência de ser. O nada é algo muito mais abrangente do que ser.”

 

Na dúvida, Artur, seja tudo o que você quiser ser para si mesmo. E se considere muito pouco em meio à nevasca, não mais do que um outro floco que cai agitado pelo vento.

Se tudo correr bem, você provavelmente seguirá pela vida com a atitude de ser especial por ser único, mas jamais com a mania de se achar especial só por se achar.

Seja tudo o que você quiser ser para si mesmo

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Altos e baixos https://oquevocefalou.com.br/altos-e-baixos/ https://oquevocefalou.com.br/altos-e-baixos/#comments Mon, 01 Jan 2018 18:20:57 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=7023 Eu trabalhei durante alguns anos em um edifício em que um senhor, sozinho e sentado em um banco menor do que ele preferiria se lhe dessem uma oportunidade, resistia às pressões da evolução do mercado de trabalho e das novas tecnologias da indústria de elevadores, concebida em Coney Island por Elisha Otis em 1851. Todos ...

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Eu trabalhei durante alguns anos em um edifício em que um senhor, sozinho e sentado em um banco menor do que ele preferiria se lhe dessem uma oportunidade, resistia às pressões da evolução do mercado de trabalho e das novas tecnologias da indústria de elevadores, concebida em Coney Island por Elisha Otis em 1851.

Todos os dias sem falta ele apertava seus botões pacientemente – às vezes com gestos muito lentos como se sua única intenção fosse irritar os mais apressados, e talvez o fizesse de verdade –, de modo a conduzir seu elevador para cima e para baixo, recebendo e deixando pessoas nos andares daquele edifício de meia altura em uma cidade com ambições cada vez mais vertiginosas.

Manhã e tarde eu via o senhor cumprir metodicamente sua jornada de trabalho, guiando-me pelas alturas ou me levando para o térreo com sua expressão indiferente, salvo poucas ocasiões em que retribuía meus agradecimentos com um movimento de canto de boca quase imperceptível, gesto que, se bem me lembro, estava mais para um espasmo de irritação do que para uma tentativa de sorriso.

Aquele senhor era um ascensorista caricato. Seu gestual enrijecido de quem se deixara transformar em mais uma peça da mecânica de funcionamento do elevador, os olhares que ele evitava, toda a sua presença apagada despertava nas pessoas que ainda o reconheciam como um semelhante certas reflexões sobre o desencontro entre profissões terminais como a sua e as transformações em curso nas ruas.

Mas todos os dias sem falta ele apertava seus botões pacientemente. Jamais lhe perguntei nada que me ajudasse a ligar mentalmente os pontos de sua vida ou a entender os altos e baixos pelos quais passara sem que fosse ele o ascensorista. O que tento dizer é que ele estava ali, não mais do que isso para mim e para os outros que lhe ditavam os andares em que desejavam descer.

Após anos sem me lembrar da sua existência, voltei a vê-lo sentado na mesma posição e mais envelhecido no dia em que fui a uma consulta médica naquele edifício. O elevador me transportou desta vez ao passado, uma viagem curta em que ele foi meu acompanhante silencioso e indiferente mais uma vez. Como nos velhos tempos. Eu mudei, mas foi como se não. E ele nem sequer me concedeu o movimento de canto de boca.

Todos dizem que a vida é incrível, que devemos buscar a tal felicidade. Quem sabe, mas também acontece de ela se repetir no que pode ser uma rotina confinada em um elevador, o que não faz do nosso ascensorista uma pessoa melhor ou pior. Se alguém teve ou tiver a oportunidade de ouvir sua história, saberá identificar momentos alegres, sabedoria, tristeza e todos os demais componentes de uma existência igualmente estimulante.

Quem somos para deduzir que um senhor que leva anos em um elevador, por mais carrancudo que seja, tem uma vida sem vida só de observá-lo em sua ocupação? E se a sua magia está fora daquela caixa metálica quando já não o vemos porque jamais nos interessamos em saber um pouco mais dele? Ascensoristas também amam, como o fazem todos que, por mais indiferentes ou aborrecidos que pareçam, têm sim um mundo de histórias a contar.

https://twitter.com/NosArtur/status/875809847513624578

Tendemos a confundir a complexidade de uma pessoa com o número de viagens que ela fez, faz ou fará, com a quantidade de supostos amigos em suas redes sociais ou os andares que subiu na carreira. Balela. Acredito cada vez mais que a única certeza que podemos ter ao olhar para alguém é que ali há um multiverso a explorar. Você vai expandir o seu, como bem entender e sem se rotular por isso, com os altos e baixos só seus.

https://www.youtube.com/watch?v=iw6HsKkALp4

E se um dia encontrar um ascensorista, diga-lhe que mandei um abraço.

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