cidade Arquivo - O que você falou? https://oquevocefalou.com.br/tag/cidade/ Um blog sem licença-paternidade Thu, 08 Nov 2018 22:13:07 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.5 https://oquevocefalou.com.br/wp-content/uploads/2019/03/cropped-o_que_voce_falou_favicon-2-32x32.jpg cidade Arquivo - O que você falou? https://oquevocefalou.com.br/tag/cidade/ 32 32 Vote nos filhos https://oquevocefalou.com.br/vote-nos-filhos/ https://oquevocefalou.com.br/vote-nos-filhos/#comments Thu, 11 Oct 2018 15:02:27 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=7599 Spoiler, meninos: este “vote nos filhos” é um textão sobre política. Mas escrito com amor. O meu coração sempre me pede para eu votar com a razão de pai. Eu vejo vocês na fotinho da urna, Artur e Bento, não os candidatos carrancudos. Os números que eu digito do meu voto são como coordenadas do ...

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Spoiler, meninos: este “vote nos filhos” é um textão sobre política.

Mas escrito com amor.

O meu coração sempre me pede para eu votar com a razão de pai. Eu vejo vocês na fotinho da urna, Artur e Bento, não os candidatos carrancudos.

Os números que eu digito do meu voto são como coordenadas do nosso destino. Nenhum pai pode ser inconsequente na hora de apertar os botões.

Ainda mais agora. O momento é de consternação e lamento, de esperança e medo, de olhar para o futuro e ver o passado. O Brasil em que vivemos hoje, meninos, é um país enviesado e torto como o caule sem guia de uma planta jovem, que pende para o lado forçada pelos ventos fortes soprados de direita já há algumas estações.

Muito do que tento dizer a vocês que não está certo, como são o preconceito, a apologia à violência, a intolerância e a mentira, caíram no gosto do povo, que se perfila para dizer nas urnas com o voto que tudo isso junto pode levar o país adiante, quando, em realidade, é o contrário.

Vote nos filhos: a política do voto

A política, que vocês desconhecem, é talvez o exercício mais elaborado da complexidade humana. Na democracia em que vivemos, um candidato sem realizações ao longo de mais de 20 anos recebe voto. E desponta como possível presidente do país. Sua campanha gerou uma onda de indignação – e outra de adesão incondicional como voto de catarse – aglutinada em torno da hashtag #EleNão.

Um candidato que nada diz, mas a muitos ofende. E quem jamais votará nele por discordar da sua agressividade e platitude deve aceitá-lo mesmo assim como candidato porque este é o princípio elementar da democracia.

Neste sistema político, um candidato deste tipo pode vencer e desviar a vida da população para o mesmo rumo das rajadas de direita. O nosso caule já envergou infelizmente, projetando uma sombra. E a beleza da democracia é que um dia o pendor pode mudar de lado se os sopros de esquerda voltarem a ser constantes.

Vocês dois têm tempo ainda para aprender sobre a política e sentir qual vento, de centro, de esquerda ou de direita, menos incomode os seus sentidos.

Mas lembrem-se: depois de decidirem tenham em perspectiva que o clima – e voto – nos países e nas cidades sempre muda, como acontece em alto mar com a direção das correntes de ar obrigando os marinheiros a retraçarem suas rotas.

Mantenham-se no rumo de suas convicções. Sejam coerentes mesmo diante de rajadas na contrária, mas também abertos a outros pontos de vista. No oceano da convivência, as velas se inflam de um lado. Mas de outro no instante seguinte. E vocês precisam manter os olhos abertos para desviarem dos navegantes de outras bandeiras no caminho.

“Minha intenção foi mostrar que aquilo que indivíduos fazem no cotidiano pode parecer pequeno diante da história, mas não o é. Escolher agir segundo a ética da profissão pode impedir que um regime autoritário se imponha. Queria dizer às pessoas que elas têm mais poder do que pensam.”

Direita ou esquerda

A minha escolha, meninos, sempre foi pela esquerda. A percepção que tenho é de que os movimentos e partidos de esquerda são mais sensíveis – e dedicados – às necessidades de quem tem necessidades. Vejam, excessos e omissões sempre existiram, mas para mim a balança continua inclinada para este lado.

Ser de esquerda ou direita é uma escolha que acontece naturalmente conforme crescemos e nos identificamos com determinadas posições. Não acredito que exista o centro, mas muitas pessoas dizem estar no meio – ou levemente para a esquerda ou direita.

O que acontece se vocês seguirem pelo lado aposto ao meu? Nada. Como nada deve acontecer quando encontrarem e conviverem com pessoas que pensem diferente de vocês.

O Brasil hoje está intolerante e rarefeito porque perdemos o respeito pela opinião, sem lembrar que a democracia supõe o diálogo e a diversidade.

Não se deixem intimidar se tentarem silenciar vocês, meninos. Exponham suas convicções, tentem ser coerentes e mudem se acharem que é o caso. Nos tempos de hoje pode parecer inútil ou cansativo defender o que parece indefensável, mas esse é a entrega pessoal da democracia.

Limite das coisas

Na história recente do nosso país, as elites testaram de tudo. Uma luta contra os marajás pela retenção das economias de todas as famílias – ao menos das desavisadas que tinham suas economias aplicadas nos bancos –, as privatizações sem redistribuição de renda, a reeleição para benefício próprio no curso do próprio mandato, a edição do debate político e o golpe vestido de impeachment, para ficarmos em alguns exemplos.

A elite brasileira é assanhada, ensimesmada, autorreferente e dona de si e do Brasil. Quando vocês tiverem olhos treinados, meninos, vão perceber que aqui a elite é deslumbrada consigo mesma e sua riqueza, sem o menor requinte ou educação que se deveria esperar de quem folheou um dia os melhores livros.

“Os ricos acreditam que poderão se proteger sozinhos do impacto ambiental gerado pelo neocapitalismo selvagem. Há uma guerra contra a democracia porque o sistema, cada vez mais, está construído para servir às elites, e isso se choca com a democracia real, porque há muito mais gente com menos proteção…”

Do outro lado, a esquerda que tanto esperou para conquistar o poder se perdeu com ele, desviando para si o que deveria entregar aos mais carentes. Bem que tentaram uma redistribuição, e fizeram como nunca no país. Mas quem cobra o exemplo deve se agarrar a ele, sem frequentar os mesmos salões antes exclusivos à elite.

Tudo tem limite, meninos. Daí outro exercício da democracia: a autocrítica. Eu faço a minha diariamente até o limite da razão, ou seja, por mais que reconheça os excessos – e são muitos – da esquerda, como a corrupção, eu jamais usarei tal argumento para apoiar o que hoje o candidato Jair Bolsonaro prega – porque é isso, nada mais do que pregação populista.

Se a corrupção é o argumento, nenhum partido hoje no Brasil merece votos. Muito menos o dele, uma agremiação nanica e obscura resultado do nosso multipartidarismo oportunista. Quem usa a corrupção da esquerda para justificar seu voto no extremismo de direita está, em realidade, sendo hipócrita ao não assumir que, lá no fundinho do coração, compactua com o que há de pior da humanidade.

E tudo, repito, tem limite.

 

Manual de sobrevivência

A política é também o desafio de tentar encontrar o equilíbrio entre a paixão e o desapego, uma escola de como dosar as convicções mais íntimas com as urgências do outro. Exige aprendizado e prática, tanto nas discussões de fato políticas como no convívio do dia a dia, em que nossas decisões e atos devem se adaptar às objeções que vierem.

Permitam-me, meninos, sugerir a vocês um manual de sobrevivência na democracia:

  • Estudem sobre o que ela supõe. Muito.

https://youtu.be/Wp-WAaQ_tlI

  • Leiam o que conseguirem sobre política, sem comedimento ou preguiça.
  • Reflitam sobre as diferenças e a desigualdade. Abram os olhos, meninos!
  • Escutem o outro em silêncio. Deixem que fale sem interromper.
  • Construam argumentos com responsabilidade e jogo limpo, defendendo-os sem impor.
  • Jamais tentem convencer ninguém, apenas compartilhem seus pontos de vista.
  • Não se abalem se suas opiniões forem as da minoria. Acalmem o coração e lembrem que a democracia se renova.
  • Respeitem. Respeitem. Respeitem. Exijam o mesmo em troca.
  • E respirem fundo.

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Gelo que derrete https://oquevocefalou.com.br/gelo-que-derrete/ https://oquevocefalou.com.br/gelo-que-derrete/#comments Sun, 18 Mar 2018 17:29:47 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=7030 Adultos só entendem o que é ser criança, na alegria e na tristeza, quando têm filhos – assim como você compreenderá algumas das minhas atitudes se tiver os seus. Dou um exemplo nosso antes que me esqueça. O dia de passeio em família transcorria sem notas de rodapé. Mas houve um momento em que a ...

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Adultos só entendem o que é ser criança, na alegria e na tristeza, quando têm filhos – assim como você compreenderá algumas das minhas atitudes se tiver os seus.

Dou um exemplo nosso antes que me esqueça.

O dia de passeio em família transcorria sem notas de rodapé. Mas houve um momento em que a sua infância foi interrompida por um choque de realidade e você reagiu a isso com um olhar de estranhamento, como a gente vê em turistas desorientados numa estação central do metrô ou percebe nos vira-latas da praça quando a cidade se reúne para o coreto de domingo e eles tentam desviar de pernas e injúrias.

Você vibrava com as árvores diferentes, apontava para o céu borrado de nuvens, mas já não sabia como lidar com algumas pessoas à volta porque em algum momento elas haviam decidido que era hora de te dar um gelo por alguma coisa que nenhuma criança na sua idade faria por merecer semelhante reprimenda.

O desconcerto se transformou em ansiedade, que tomou conta do seu corpo cada vez mais agitado. Você andava de um lado a outro na tentativa de puxar assunto com quem encontrava pelo caminho, como um pedinte que brota e vai embora antes de ouvir sim ou não.

Adultos podem ser danosos. Têm tanto medo de si mesmos e dos outros que levam ao pé da letra a ideia autocentrada de que a melhor defesa é o ataque. E não se importam se há crianças no caminho, aceleram seus rolos compressores sem pesar as consequências.

Antes do passeio, você se desentendera com outras crianças, como acontece desde que a infância existe. E desde que a infância existe crianças que se desentendem resolvem suas próprias diferenças.

Mas adultos medrosos preferem tomar partido e liderar o ataque como estratégia de preservação de sua espécie, envolvendo os filhos como cúmplices. Daí o gelo a que você foi submetido, sem necessidade e fundamento.

Essa atitude infantil de quem deveria dar exemplo foi tomada como se só houvesse um lado da história, em que você foi apontado como culpado, quando, em realidade, deveríamos proteger as crianças de julgamentos e juízos de valor porque nós mesmos não nos encaramos antes no espelho.

Que adulto se julga e se dá uma pena que lhe ajude a se reintegrar à sociedade? Que adulto dá às crianças o benefício da dúvida? Deixemos que vocês se desentendam e se conciliem, sem intoxicar esse aprendizado com os nossos medos de gente grande – e embrutecida pelo tempo e pela cisma de atacar para se defender.

O certo, Artur, é que o gelo derrete. E muito rápido sob o sol de um dia de passeio em família em que nem todos são translúcidos e frios como o mais quadrado cubo de gelo.

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Altos e baixos https://oquevocefalou.com.br/altos-e-baixos/ https://oquevocefalou.com.br/altos-e-baixos/#comments Mon, 01 Jan 2018 18:20:57 +0000 https://oquevocefalou.wordpress.com/?p=7023 Eu trabalhei durante alguns anos em um edifício em que um senhor, sozinho e sentado em um banco menor do que ele preferiria se lhe dessem uma oportunidade, resistia às pressões da evolução do mercado de trabalho e das novas tecnologias da indústria de elevadores, concebida em Coney Island por Elisha Otis em 1851. Todos ...

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Eu trabalhei durante alguns anos em um edifício em que um senhor, sozinho e sentado em um banco menor do que ele preferiria se lhe dessem uma oportunidade, resistia às pressões da evolução do mercado de trabalho e das novas tecnologias da indústria de elevadores, concebida em Coney Island por Elisha Otis em 1851.

Todos os dias sem falta ele apertava seus botões pacientemente – às vezes com gestos muito lentos como se sua única intenção fosse irritar os mais apressados, e talvez o fizesse de verdade –, de modo a conduzir seu elevador para cima e para baixo, recebendo e deixando pessoas nos andares daquele edifício de meia altura em uma cidade com ambições cada vez mais vertiginosas.

Manhã e tarde eu via o senhor cumprir metodicamente sua jornada de trabalho, guiando-me pelas alturas ou me levando para o térreo com sua expressão indiferente, salvo poucas ocasiões em que retribuía meus agradecimentos com um movimento de canto de boca quase imperceptível, gesto que, se bem me lembro, estava mais para um espasmo de irritação do que para uma tentativa de sorriso.

Aquele senhor era um ascensorista caricato. Seu gestual enrijecido de quem se deixara transformar em mais uma peça da mecânica de funcionamento do elevador, os olhares que ele evitava, toda a sua presença apagada despertava nas pessoas que ainda o reconheciam como um semelhante certas reflexões sobre o desencontro entre profissões terminais como a sua e as transformações em curso nas ruas.

Mas todos os dias sem falta ele apertava seus botões pacientemente. Jamais lhe perguntei nada que me ajudasse a ligar mentalmente os pontos de sua vida ou a entender os altos e baixos pelos quais passara sem que fosse ele o ascensorista. O que tento dizer é que ele estava ali, não mais do que isso para mim e para os outros que lhe ditavam os andares em que desejavam descer.

Após anos sem me lembrar da sua existência, voltei a vê-lo sentado na mesma posição e mais envelhecido no dia em que fui a uma consulta médica naquele edifício. O elevador me transportou desta vez ao passado, uma viagem curta em que ele foi meu acompanhante silencioso e indiferente mais uma vez. Como nos velhos tempos. Eu mudei, mas foi como se não. E ele nem sequer me concedeu o movimento de canto de boca.

Todos dizem que a vida é incrível, que devemos buscar a tal felicidade. Quem sabe, mas também acontece de ela se repetir no que pode ser uma rotina confinada em um elevador, o que não faz do nosso ascensorista uma pessoa melhor ou pior. Se alguém teve ou tiver a oportunidade de ouvir sua história, saberá identificar momentos alegres, sabedoria, tristeza e todos os demais componentes de uma existência igualmente estimulante.

Quem somos para deduzir que um senhor que leva anos em um elevador, por mais carrancudo que seja, tem uma vida sem vida só de observá-lo em sua ocupação? E se a sua magia está fora daquela caixa metálica quando já não o vemos porque jamais nos interessamos em saber um pouco mais dele? Ascensoristas também amam, como o fazem todos que, por mais indiferentes ou aborrecidos que pareçam, têm sim um mundo de histórias a contar.

https://twitter.com/NosArtur/status/875809847513624578

Tendemos a confundir a complexidade de uma pessoa com o número de viagens que ela fez, faz ou fará, com a quantidade de supostos amigos em suas redes sociais ou os andares que subiu na carreira. Balela. Acredito cada vez mais que a única certeza que podemos ter ao olhar para alguém é que ali há um multiverso a explorar. Você vai expandir o seu, como bem entender e sem se rotular por isso, com os altos e baixos só seus.

https://www.youtube.com/watch?v=iw6HsKkALp4

E se um dia encontrar um ascensorista, diga-lhe que mandei um abraço.

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