Estávamos na fila do pão, à espera de sermos chamados ao balcão, quando você quis entender o porquê daquela formação em linha de pessoas desconhecidas entre si.
— Papai, o que é fila? — disse com a curiosidade da idade.
A pergunta é mais do que válida. Por que simplesmente cada um que chega não pede aos atendentes e eles que se organizem para agradar a todos? Quem inventou isso? E onde estão as regras, se não há placas nas paredes? As filas diferem em cada lugar?
Você tem razão em questionar, Artur. É certo que todos gostariam de receber seus pães imediatamente, sem desperdício de tempo por causa de outros, onde já se viu. Mas imagine apenas cinco pessoas pedindo coisas ao mesmo tempo, e o potencial de isso se transformar em uma autêntica quizumba, com muito ruído, olhares enviesados e funcionários aturdidos.
Por isso que existem filas, cujo significado simbólico remete ao exercício diário da convivência. Filas, de modo geral, são uma invenção social para mantermos as padarias, bancos, hospitais e muitos outros ambientes minimamente organizados.
É simples: as pessoas assinam um contrato invisível que diz que elas vão esperar a sua vez para serem ouvidas ou utilizarem um serviço e que a ordem será a mesma para todos – quem chega primeiro é atendido primeiro. Funciona, mas apenas na maior parte do tempo porque alguns, que se sentem muito especiais, dão a mínima para este acordo coletivo e tentam pular a vez dos que estão à frente.
As filas podem ser de gente reunida em um mesmo lugar ou que, a distância, compartilha a expectativa por uma oportunidade. Em Estocolmo, por exemplo, a fila para ter um lugar para morar pode demorar até 20 anos…
“The city’s queue for rent-controlled housing is so long that it’s being considered by the Guinness Book of World Records. On average, it takes nine years to be granted a rent-controlled property – and that jumps to two decades in some of the most popular neighbourhoods.”
The city with 20-year waiting lists for rental homes
Para os economistas, filas representam uma falha do próprio sistema capitalista – uma admissão que lhes causa mais pavor do que a pior fila que possam enfrentar.
“How long you’re willing to wait in a given line depends on a lot of things: how badly you want the thing at the end of the line; whether the thing you’re waiting for is rare, perhaps even unique; and what you’d be doing with your time otherwise. But even if you are willing to wait, you’ll have to admit — at least if you think like an economist — that a line represents a certain kind of failure. A failure of supply to seamlessly meet demand.”
As filas, em retrospecto, são muito jovens. Elas teriam surgido apenas por volta de 1800, quando o conceito de esperar pela sua vez começou a ser descrito em livros e outras publicações. O momento histórico tem a ver com a Revolução Industrial, que criou a necessidade de organização (o contrato invisível) entre as pessoas, que passaram a usar determinados serviços, como os transportes públicos, nos mesmos horários prévios e posteriores aos turnos das fábricas.
O que você não pode perder de vista é que esperar em fila não precisa ser chato. O que também vale para a vida, Artur, que não deixa de ser uma espera, às vezes longa, por oportunidades que tanto desejamos, mas que só chegam com o tempo ou com a nossa vez de aproveitá-las.
Richard Larson, do MIT, é um especialista em filas. Ele as estuda com a mesma seriedade com que um físico estuda buracos negros. Eis o que ele diz: para a maioria, o sentido de justiça das filas é mais importante do que a espera, mesmo a mais longa.
“Because some researchers in Duke University years ago found out that social justice or social fairness in lines is often viewed more important to customers than the actual wait.
So they found out that people would prefer – let’s say in fast food – they would prefer a Wendy’s line, which is a serpentine single line, first come first serve, that had twice the wait than a competitor’s multiline system, so you have to figure out which of six lines to join.
Then there’s always the stress that somebody who joins a parallel line next to you can get their burgers and fries before you, and that adds to the stress of the day. And so people would prefer not to experience that.”
A matter of wait: the science of standing in line
Tem mais: você pode fazer da fila – e das esperas da sua vida – uma experiência muito positiva.
“Who but Disney could get people to wait 45 minutes for a two-minute ride? Their visitors are so distracted, they voluntarily prolong their waits,” Larson says.
Larson describes this as an A+ application of queuing psychology. But most of life happens outside of theme parks, and most people in queues grow cranky. Skipping can even provoke what he calls “queue rage.”
For a queue to work well, people must believe their patience will pay off. They must believe in their queue’s efficiency and fairness. They must have signs of hope–the train is coming; your call will be answered in 12 minutes.”
Avenue queue: one long wait inspired career shift
Ou seja, Artur, filas são menos filas quando nos distraímos. E isso se estende à sua história pessoal, à maneira que você encontrará para se divertir e rir enquanto espera.
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