Duas dúvidas latentes da paternidade, que nunca descansam, são estas: qual é o significado de ser pai? O que é ser pai? Faça chuva ou faça sol, essas perguntas ficam na cabeça de pais minimamente comprometidos.
Mas responda rápido: você é um pai comprometido? Se disser que não, talvez queira aproveitar melhor o seu tempo em vez de continuar a leitura. Agora, se responder que sim, que se considera um pai que participa, fique aqui comigo.
Temos muito a conversar. 🙂
Se começamos pelos dicionários, vemos que a definição de pai está bem desapegada da realidade. Ou seja, se fôssemos iguais ao que dizem as páginas amareladas, a paternidade teria muito o que melhorar…
Homem que teve filho(s), que cria ou criou filho(s); GENITOR; PROGENITOR
P.ext. Homem que de fato cria ou educa criança ou jovem. [NOTA:Nas acps. 1 e 2, é tb. us. como forma de tratamento pelos filhos]
Qualquer animal macho que gerou (com uma fêmea) outros animais.
Sem vida, né? Essas definições não dizem nada sobre o que uma relação de verdade – seja ela próxima ou afastada – representa. Isso porque o carinho ou a distância entre pais e filhos não cabe em nenhuma definição.
Por isso, precisamos seguir aqui na nossa leitura para tentarmos entender como nos encaixar na vida da molecada. Ou seja, para pensarmos em o que é ser pai.
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A paternidade hoje precisa ser mais versátil, ligada e atenta para contribuir verdadeiramente para o crescimento dos filhos.
Podemos tentar organizar o significado de ser pai hoje em três principais pontos:
Um significado de ser pai é estar presente. E não necessariamente por viver na mesma casa. Mas principalmente por estar de fato envolvido na paternidade, sob qualquer circunstância. Ou seja, ser pai é dar afeto, atenção e entrega aos filhos.
Um exemplo de pai presente: imagine-se trabalhando em uma plataforma de petróleo (peço desculpas pelo clichê). E, por ter esse emprego, você obviamente se ausenta de casa.
Porém, mesmo à distância, nos confins dos mares, você dá um jeito de exercer a sua paternidade sem isso de mitos e verdades. Seja com uma rotina de ligações, seja criando situações para que a sua ausência não se confunda com perda.
— Como assim?! — você deve estar se perguntando.
Sim, mesmo estando longe, você pode estar perto.
No caso de viagens longas, como as do pai do exemplo acima, brincadeiras inventivas são uma opção, a exemplo das caças ao tesouro. Assim, os pequenos se distraem enquanto o trabalho mantém todo mundo afastado.
Ou seja, a criatividade é a melhor aliada se a sua intenção é, de fato, fortalecer os vínculos com os seus pequenos.
Porque estando presente, envolvido em ver a molecada crescer, você consegue entender com mais facilidade a relação com os filhos.
O que é ser pai então? Vamos a um segundo ponto.
Uma vez presente, nós pais deveríamos nos comprometer a efetivamente participar do desenvolvimento dos nossos filhos.
O crescimento, a infância e a adolescência passam muito rápido. Bem mais rápido do que as memórias afetivas que deixam.
Por isso, devemos estar presentes e participar para renovar o significado de ser pai. Na prática, é dedicar tempo de qualidade à companhia que os nossos pequenos nos dão. Aliás, esse é um pedido constante da minha esposa, que não me vê colocando isso em prática. #fail
Sim, a tecnologia é hoje um vetor de distração entre pais e filhos.
Quem não gosta de uma tela brilhante, cheia de vídeos, likes, stories etc.? Estamos todos, adultos e crianças, meio que viciados em smartphones, monitores, tablets e tevês. Ou seja, nos distraímos facilmente.
Somos todos o resultado da nossa época: hiperconectada, multi-device e superinformada. Isso tem preocupado não apenas muitos de nós pais e mães, mas principalmente pesquisadores e educadores.
Rosely Sayão, por exemplo, observa a rotina inundada de informação e seus impactos nos pequenos. Esse, inclusive, é o tema do seu livro Educação sem blá-blá-blá, lançado em 2016. 👇
Ou seja, participar da infância e da adolescência é uma escolha – quase um estilo de vida anárquico tendo em vista a nossa sociedade –, que exige mudança de comportamento e desapego às distrações do dia a dia.
E como fazer para construir esse novo significado de ser pai? Bom, simples: agindo!
Ok, talvez concordemos que estamos todos distraídos e até distantes uns dos outros. Muitas horas de trabalho, as crianças com suas agendas mais movimentadas do que as de muitos executivos de empresa, eletrônicos tomando conta da rotina em família etc.
Em geral, a paternidade e a infância estão um tanto desencontradas. E só há mudança se ela começar dentro de casa. Vejamos algumas alternativas juntos…
Crianças querem diversão. Se possível, a todo momento. Por isso, ser pai é encarar o desafio manter os pequenos entretidos. E isso passa por saber o que fazer com os filhos sem sair de casa. Pode ser cozinhar juntos, ler um livro com eles, dançar ou cantar…
Não importa o que seja. O importante é dividir tempo com os filhos. Sim, está complicado por conta de muito trabalho, muito home office e as atividades domésticas.
Mas existem muitas coisas que já fazemos e podem divertir todo mundo:
A lista é infinita. É só começar!
Muito se fala da suposta paternidade ativa, e de como ela deve servir de guia. No meu caso, vejo o “ativa” como uma sugestão do que efetivamente devemos praticar: uma paternidade envolvente.
O que é uma paternidade envolvente?
Para mim, é aquela que extrapola conceitos, costumes e “boas práticas” para de fato ser uma paternidade que se dedica, que se importa com o bem-estar físico, os sentimentos e a cabeça dos pequenos.
Ou seja, uma boa relação entre pais e filhos que efetivamente respeita limites, incentiva e inspira. Isso é um novo significado de ser pai.
É possível? Sim. O que não quer dizer que seja fácil. Talvez até nenhum de nós aqui consiga construí-la a tempo de a molecada chegar à vida adulta sem grandes sequelas…
Mas vale tentar, certo? Ser pai é isso.
E a primeira tentativa pode vir da oportunidade que a pandemia nos dá.
Hoje, temos uma possibilidade única de estar mais tempo com os pequenos. Afinal, tudo indica que o home office diário com filhos veio para ficar. Ainda que muitos de nós tenhamos que voltar aos escritórios, o certo é que trabalhar de casa deverá ser mais comum.
E aqui está uma grande chance de renovar nossas paternidades. Somente o tempo que podemos economizar evitando as idas e vindas do trabalho já nos proporciona momentos de qualidade com a molecada.
Além disso, o home office abre o caminho para transformarmos o relacionamento entre pai e filho com mais memórias e significado. Alguns exemplos de como conciliar o trabalho remoto com a rotina em casa:
Ok, ok, não se trata de criar os pequenos em uma bolha protetora contra a tecnologia – embora essa também seja uma escolha.
A questão é reduzir a exposição, dar às crianças de hoje (toda uma geração mergulhada no mundo digital) a experiência de se relacionaram com as coisas de uma maneira mais off-line.
Exemplos de uma infância menos conectada:
Pode parecer uma exageração, mas um dos momentos mais marcantes de toda infância e paternidade (bem como maternidade) é a melhor hora de cada criança dormir (veja neste link aí a tabela de horas necessárias por idade).
Muitas vezes divertida pela leitura de histórias e outras atividades juntos, essa transição das brincadeiras para o sono pode ser tensa.
E há muitos motivos para isso porque o fim do dia é difícil para toda a família. Pais e mães estão em geral esgotados do trabalho e das atividades da casa. Por sua vez, os filhos veem na noite uma ótima ocasião para receber a atenção que desejam.
Meu caso: como fico a maior parte do dia ligado no trabalho remoto, é à noite que os meus meninos colam em mim. Por isso, fazer os pequenos dormirem é todo um processo que começa cedo, já no entardecer… São os detalhes que dão mais cor à paternidade.
Precisamos lembrar que os nossos corpos contam com os ritmos circadianos (do latim cerca e dies, ou seja, aquilo que dura cerca de um dia) para entrar no equilíbrio entre sono e vigília. E que isso tem a ver com a alternância entre luz e escuridão.
Um bom equilíbrio é fundamental para o desenvolvimento das crianças e adolescentes (existe até uma tabela de quantidades de horas de sono de acordo com cada idade – veja no link que deixei 4 parágrafos acima. 👆👆👆).
Por isso, é importante considerar esse momento não só como essencial para a saúde, mas também como um encontro de muito carinho com a própria paternidade.
Quer renovar o seu significado de ser pai? Veja dicas simples para dar qualidade ao repouso das crianças:
Você sabia que alguns pequenos podem ser altamente sensíveis ao mundo que os rodeia? Isso tem a ver com a Sensibilidade de Processamento Sensorial – SPS (ou Sensory Processing Sensitivity – SPS, na sigla em inglês).
E isso não é uma doença ou transtorno. Na realidade, é uma característica inata presente em cerca de 20% das pessoas. Ou seja, em mais do que a população da China.
No caso das crianças com muita sensibilidade, nós pais devemos entender que elas precisam do básico: carinho, afeto e empatia. E não de crítica, reprimenda ou condenação. Afinal, vale lembrar: ser pai é dar afeto, atenção e entrega. Também é conectar de verdade. 😉
Na prática, os pequenos com essa característica são:
Um dos desafios de pais e mães é saber como proteger as crianças de coisa não legais da vida atual, como os compostos químicos tóxicos para crianças.
Eles estão presentes em diferentes momentos do dia a dia, como a alimentação e o contato com objetos. Entre os mais nocivos, estão compostos químicos usados em frigideiras, por exemplo, os microplásticos e o chumbo, encontrados em tintas para cabelo e batons, entre outros itens.
Por isso, é importante conhecer os tipos de plásticos, a origem dos PFAs, sigla para perfluoroalquil e polifluoroalquil, e como evitar a exposição e possíveis intoxicações causadas pelo chumbo.
O medo infantil é uma das emoções mais básicas das crianças porque ele faz parte da natureza de todo ser humano de sentir temor de determinadas situações e coisas.
Na verdade, o medo infantil é um mecanismo de prevenção e de cuidado com o que desconhecemos, como ruídos, pessoas estranhas e objetos novos.
Os cientistas inclusive demonstraram em pesquisas recentes que bebês de até seis meses, por exemplo, também têm medo de aranhas e cobras. Ou seja, o medo infantil tem um componente hereditário.
E é por isso que precisamos, como pais e mães, ser capazes de dar o melhor apoio possível à criançada. Nesse sentido, diálogo, apoio e carinho são fundamentais para que os pequenos possam enfrentar seus medos infantis com mais desenvoltura.
Por tudo isso, anote algumas ações que podem ajudar a entender melhor o medo infantil dos filhos:
Isso, já sabemos: depende exclusivamente de nós. Ou seja, do nosso desejo sincero de dar qualidade aos nossos atos. E à nossa participação na vida de quem dizemos mais amar.
Ser bom pai de fato não tem fórmula, tampouco é ciência. Tem que vir do coração, com doses de razão. E só testando mesmo porque é assim que tem que ser.
Otto Frank, pai de Anne Frank
Mas anote aí para pensar: um bom pai deveria acima de tudo reconhecer os seus erros. Sempre. E lidar com eles para que os pequenos percebam e aproveitem os avanços.
O mais importante é ser algo para os filhos. Mesmo que um pai possível, na medida do nosso melhor mais autêntico.
É estar presente, participar e agir. Ser um bom pai é isso, em resumo. Se conseguirmos encontrar uma fórmula própria com todos esses elementos, teremos uma dinâmica mais enriquecedora com os nossos filhos.
É um exercício diário da paternidade, em que precisamos estar atentos aos nossos hábitos. Mais do que isso, é algo que depende da nossa capacidade de abrir mão, ceder e mudar. Afinal, nenhuma boa relação entre pais e filhos tem manual, muito menos um destino certo.
Mas tem que ter um significado de ser pai maior. Por isso, o importante é tentar. 👍
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