Ser especial

Perguntaram à atriz Miranda Hart do que ela mais se arrepende. A resposta é uma centelha que ilumina as mentes mais fechadas. E que tem a ver com a ideia de ser especial.

“I wish I had deeply understood earlier in my life the loving truth that there is only one of me in this world so therefore I am uniquely beautiful. I have so much compassion for any woman, young or old, who is hurt by the lie they are not beautiful or loveable enough. We all are.”

 

Como acontece com Miranda, existe apenas um de você, Artur, condição que te faz ser unicamente lindo. Essa é uma verdade poderosa, como o peso da água contra uma barragem.

Mas é preciso ter controle dessa água represada. Ela deve fluir para gerar energia positiva sem transbordar ou destruir a estrutura. Porque isso causaria uma inundação na sua cabeça levando junto a compreensão de que ser único é diferente de ser especial.

Ser especial como o floco de neve

Um Artur apenas no mundo é como um floco de neve que cai do céu e jamais se repetirá. Como ele, incontáveis flocos muito semelhantes atravessam a atmosfera até tocarem o chão, quando sua existência se liquefaz. E o aprendizado por trás disso é: um floco sozinho não faz a neve que recobre o inverno.

https://www.youtube.com/watch?v=WPvfhLDj0c8

O pior que pode te passar é você interpretar mal as palavras de Miranda e entrar para o grupo das pessoas que caminham pelo mundo deslumbradas consigo mesmas.

Este é o destempero da humanidade: que cada um se ache mais e melhor. Vemos isso no trânsito, na fila do supermercado, a toda hora, infelizmente.

— Logo, ao que parece, o Uno é diferente dos outros e de si mesmo, como é idêntico àqueles e a si mesmo. É a conclusão que talvez precisemos tirar do nosso argumento.

(…)

— Mas, no mesmo ponto em que o Uno diferir dos outros e outros diferirem do Uno, nisso mesmo de serem diferentes, não adquirem caráter diferente, porém idêntico. Ora, o que tem o mesmo caráter é semelhante, não é isso mesmo?

— Certo.

— Logo, pelo simples fato de ser o Uno diferente dos outros, terá de ser semelhante no todo, porque é no seu todo que ele se difere do todo dos outros.

É feio. É bobo

E se você observar com distanciamento as pessoas deslumbradas, sentirá vergonha alheia. Porque é feio, é bobo.

Quem se impõe por se considerar especial dá um espetáculo de mau gosto. Quando isso acontece, a história sempre tem fim melancólico. Na narrativa da vida, somos letras soltas no papel. E elas só ganham sentido quando se juntam para formar contextos e capítulos.

Você entende melhor isso agora porque está aprendendo a ler os textos e as pessoas. Com o tempo, aprenderá a interpretar, o que é uma habilidade muito humana essencial para encontrarmos o nosso espaço nas relações.

E ser nada?!

“O problema com a ideia do nada é que ela soa como algo negativo, em vez de algo que tem um significado muito positivo. Nós temos o conceito de ‘o eu’, essa entidade ligada à pele que tem uma história e se lembra de sua existência e identidade.

E então você diz ‘não-eu’, que percebe que o ‘eu’ é um tipo de ficção.

Ele é criado para nos guiar no dia a dia, mas realmente, fundamentalmente, não somos ‘eus’. Se dissermos ‘não’, isso soa como uma negação de algo, mas, na verdade, é uma ideia muito positiva.

A mesma coisa é verdade do nada. Não é como se fosse a ausência de ser. O nada é algo muito mais abrangente do que ser.”

 

Na dúvida, Artur, seja tudo o que você quiser ser para si mesmo. E se considere muito pouco em meio à nevasca, não mais do que um outro floco que cai agitado pelo vento.

Se tudo correr bem, você provavelmente seguirá pela vida com a atitude de ser especial por ser único, mas jamais com a mania de se achar especial só por se achar.

Seja tudo o que você quiser ser para si mesmo

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