O horizonte é essa linha fina que separa o céu da superfície, bem longe onde o corpo não chega, mas sentimentos se encontram. No horizonte está o melhor de nós, Artur, as ilusões que projetamos lá na frente, as esperanças que o coração conserva, o que preservamos de bom e se ilumina afastado da sombra escura de quem somos.
Dou um exemplo. O horizonte que vi da praia em que você deu seus primeiros passinhos na areia, ajudado por mim e pela sua mãe, foi o horizonte em que, mais além do pequeno barco de pescadores passando, avistei o melhor de mim.
“Usually when people talk about views they talk about looking out at the mountains or the ocean or a large vista,” he said, “but in the city, maybe it’s a little bit of air, or the unending hope of Fenway Park — a little vision of something better.”
Steve Sweeney, em With Boston building boom, some lose view
Não me entenda mal. Você é o melhor de mim para a mundo, e o melhor de mim – você – estava ali, diante dos meus olhos, equilibrando-se com a nossa ajuda. No horizonte estava o melhor de mim para mim, um indivíduo cheio de esperanças que o indivíduo do dia a dia, o das contas a pagar, esquece de ter.
Vi um pai principiante cheio de expectativas, baboso pela vibração de seu bebê com o estrondo das ondas quebrando, os respingos da correnteza que bate nos pés e o toque gelado de gosto salgado da água do mar.
Esse era um pai otimista, sem deslumbramentos. Um otimista com os pés na areia, se existe. A vida tem disso, Artur, uma eterna tentativa de nos desprendermos de juízos e medos. E das desilusões que grudam na alma como o capim-carrapicho faz na roupa. Para tirar seus frutos, não adianta ir de tapinhas, você precisa remover um a um, “na unha”.
Indaguei esse pai e ele ponderou que talvez eu devesse fazer diferente, com menos receio do que venha pela frente, seja duro ou não, tenha alegria ou tristeza, para não travar no caminho.
Foi um encontro breve porque voltei rápido do horizonte para a praia puxado pelos teus movimentos alegres e desajeitados em direção ao mar. Mas foi o suficiente, um momento comigo mesmo, de mim para mim, que me deixou mais leve – sem tantos juízos, medos e desilusões.
E tem sido assim nesses quatros anos olhando, quando dá, para novos horizontes sempre que te observo descobrindo suas muitas outras coisas. Os horizontes me fazem bem, são pontos pacíficos em meio a todo o resto, como um banco de madeira em um parque verde de uma cidade em preto e branco.
Escritores enxergam seus novos horizontes nas histórias que assinam, os pintores, nas telas em que se diluem como a tinta que misturam na paleta. Encontre seus horizontes, Artur. Adentre caminhos que levem às planícies, costas ou topos, o que seja, onde você poderá ver mais ao longe o melhor de você para você.
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